Por semanas, histórias assustadoras de turistas americanos que morreram em resorts na República Dominicana ganharam as páginas dos jornais nos Estados Unidos.
Um homem de 78 anos que faleceu com fluido nos pulmões um dia depois de ter sofrido com vômitos em um hotel; uma mulher de 53 anos que foi encontrada morta em seu quarto após um ataque cardíaco, segundo autoridades locais; um homem de 67 anos que morreu em uma viagem para o casamento de seu enteado; um homem de 55 anos que, segundo sua família, morreu de problemas cardíacos e respiratórios na semana passada.
As mortes de pelo menos 11 americanos no último ano deixaram viajantes preocupados e levaram alguns a simplesmente ficar em casa. As manchetes que qualificam as doenças e mortes como suspeitas fizeram com que o país caribenho – onde o turismo é a principal atividade econômica – fosse visto como um lugar onde algo nefasto pode estar à espreita em meio às piscinas, praias e palmeiras.
Isso pode eventualmente acabar sendo verdade. Mas até agora, não há evidências de que a onda de mortes e doenças na República Dominicana este ano seja fora do comum para qualquer destino turístico popular.
O Departamento de Estado dos EUA compartilhou algumas informações tranquilizadoras com o jornal The Washington Post, e disse que não viu nenhum aumento incomum nas mortes registradas na República Dominicana.
Cerca de 2,7 milhões de americanos visitaram a República Dominicana no ano passado, segundo o Departamento de Estado, que divulga publicamente dados apenas sobre mortes não naturais, como acidentes de carro e afogamentos. Não são divulgadas informações sobre mortes por causas naturais, como ataques cardíacos ou derrames, embora o departamento compile relatórios sobre todos os americanos que morrem no exterior.
É uma questão de estatística que um certo número de viajantes sofrerá doenças graves, acidentes e até a morte enquanto viaja para outros países. E a taxa de mortalidade na República Dominicana não é maior do que a taxa de mortalidade nos Estados Unidos, disseram autoridades.
Casos investigados
O FBI está investigando pelo menos três dos casos: o de Miranda Schaup-Werner, uma psicoterapeuta de 41 anos que morreu em um hotel em 25 de maio, e o de Nathaniel Edward Holmes e Cynthia Ann Day, um casal de Maryland encontrado em seu quarto em um resort vizinho, vários dias depois. Os resultados dos exames toxicológicos desses casos devem sair dentro de 30 dias.
O casal de Maryland morreu com fluido em seus pulmões, segundo a polícia nacional da República Dominicana, mas tem sido mais difícil precisar detalhes sobre a morte de Schaup-Werner.
Um porta-voz da família disse que Schaup-Werner ficou doente depois de ingerir bebidas do frigobar de seu quarto, o que desencadeou especulações não comprovadas sobre se as mortes teriam sido causadas por álcool contaminado.
O jornal New York Post até mandou um repórter a um dos resorts para cheirar as bebidas alcóolicas do local, e ele observou que "a vodka tinha um cheiro estranho e potente parecido com o de álcool puro".
Casos de intoxicação por bebidas alcóolicas de fabricação caseira não são desconhecidos dos turistas. Há relatos do México e de Bali, na Indonésia, por exemplo.
Turismo prejudicado
As más notícias causaram frustração e preocupação na República Dominicana, onde o turismo representa cerca de 22% da economia, direta e indiretamente.
"Podemos ver que muitos meios de comunicação internacionais estão dando essas notícias apenas pelas manchetes, e eles não entendem realmente o que está acontecendo. Algumas mídias causaram muitos danos", disse ao Washington Post o presidente da Associação Dominicana de Imprensa Turística, Luis José Chávez. "Todo o país está tentando superar isso e recuperar a imagem do que realmente somos."
A República Dominicana fica a apenas algumas horas de avião de muitas áreas no sul e no leste dos Estados Unidos, e pode ser vítima de seu próprio sucesso como um destino de férias cada vez mais popular para os americanos, e que atrai uma safra de viajantes que não estão acostumados a se aventurar em países com diferentes sistemas médicos e jurídicos.
"90% das vezes, suas férias acontecem sem problemas", disse Sylvester, um corretor da seguradora de viagens World Nomads, explicando que dos outros 10% das viagens em que as reclamações são feitas, a grande maioria envolve coisas como celular perdido, um par de óculos de sol que voou ao mar ou problemas menores de saúde, como uma alergia.
Mas cerca de dois em cada 100 viajantes que compram seguros enfrentam incidentes mais sérios – problemas médicos que aparecem durante a viagem que antes eram desconhecidos, ou acidentes de trânsito, especialmente em motocicletas, disse Sylvester.
"Estamos tão pressionados, que em algum momento você relaxa e descobre que não está apenas estressado com o trabalho. Na verdade você está doente", disse ele.
Robert Quigley, cirurgião cardiovascular e vice-presidente de uma empresa que oferece serviços médicos e de seguro de viagens para indivíduos e empresas, disse que os viajantes enfrentam problemas de saúde por várias razões: eles praticam atividades que normalmente não realizam, se arriscam mais, experimentam novos alimentos e bebem mais do que o habitual, o que torna as pessoas com condições preexistentes vulneráveis a complicações médicas, disse ele.
Mas à primeira vista, disse ele, as mortes relatadas na República Dominicana parecem indicar potencialmente um grupo que não por ser totalmente explicado por causas naturais, observando que algumas das vítimas eram relativamente jovens. "Isso pode levantar alguma preocupação", disse ele, "mas até que haja dados forenses, nenhuma conclusão pode ser feita".