Agora que os democratas controlarão a Câmara, eles têm liberdade para lançar o maior número possível de investigações sobre o presidente Donald Trump e sua administração. Eles planejam conter qualquer processo de impeachment – apesar de quase dois terços dos eleitores de candidatos democratas apoiarem a iniciativa – até que eles saibam os resultados da investigação do conselheiro especial Robert Mueller sobre a interferência russa na eleição de 2016.
Mas eles ainda têm muitas outras maneiras de se manterem ocupados.
Para os democratas, o resultado das midterms (eleições de meio de mandato) representou um pedido dos eleitores para que os eleitos fiquem de olho na Casa Branca e no presidente Donald Trump. Uma semana após a votação, os futuros presidentes das comissões afirmaram que planejam utilizar seu novo poder para esse fim, mas farão isso estrategicamente. O futuro presidente da Comissão de Supervisão Governamental e Reforma do Governo, Elijah Cummings, disse no programa "This Week", da ABC:
"Eu não vou distribuir intimações como se alguém estivesse distribuindo doces no Halloween".
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Doces ou não, há muito para mastigar. Apresentamos uma lista – e nem de longe exaustiva – das áreas que os democratas planejam investigar e realizar audiências quando assumirem a maioria da Casa dos Representantes em janeiro.
1. Interferência russa
Os democratas aguardarão o relatório de Mueller, mas o presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, disse que examinaria como a investigação da própria Câmara sobre a potencial interferência estava incompleta, buscando preencher as lacunas deixadas. O republicano Devin Nunes, Califórnia, foi acusado de se esforçar mais para encontrar uma conspiração do governo contra Trump, do que malfeitos por parte da Rússia e da campanha Trump.
Em uma entrevista ao Post, Schiff disse: "não é minha intenção ficar parado enquanto esperamos Mueller".
"Pode ser que haja um relatório antes mesmo de assumirmos e, se for esse o caso, seremos guiados por este documento. Espero que as descobertas sejam compartilhadas com o Congresso e o povo americano, essa é uma questão muito grande para ser varrida para debaixo do tapete. Mas se o relatório de Mueller não estiver disponível, nós pretendemos avançar com trabalhos investigativos importantes. A realidade para nós é que os republicanos se afastaram das investigações, eles decidiram dedicar-se à defesa do presidente, mas nós nunca deixamos o assunto de lado. Essa será nossa intenção, terminar este trabalho, e agora teremos o poder de intimar as pessoas a testemunharem".
Em um tópico relacionado, Schiff escreveu em um artigo publicado no Washington Post no mês passado que seu comitê abordaria "alegações de que os russos podem ter influência financeira sobre o presidente, incluindo talvez a lavagem de dinheiro russo através de seus negócios".
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2. Matt Whitaker
Se o novo procurador-geral interino Matthew Whitaker não se recusar a supervisionar a investigação russa por causa de suas sinceras críticas aos méritos de Mueller e da investigação, e se ele ainda estiver no cargo no momento em que o novo Congresso será empossado, os democratas da Câmara estão preparados para investigar seus conflitos de interesse.
O deputado Jerrold Nadler, provavelmente o próximo presidente do Comitê Judiciário, disse no domingo (11) que planejava convocar Whitaker como primeira pessoa a testemunhar em sua comissão e estava preparado para intimá-lo se necessário. E Schiff, no programa "Meet the Press", da NBC, disse que se Whitaker não se recusar, suas ações relacionadas à investigação serão escrutinadas por qualquer interferência.
"Se ele tem algum envolvimento com essa investigação na Rússia, vamos descobrir se ele assumiu compromissos com o presidente sobre a investigação, se está servindo de canal para o presidente ou seus advogados sobre a investigação, se está fazendo alguma coisa para interferir na investigação. O senhor Whitaker precisa entender que ele será chamado a responder. E qualquer papel que ele desempenhe será exposto ao público", disse Schiff.
3. Subornos
O Comitê de Supervisão da Câmara planeja investigar o papel de Trump no pagamento de Stormy Daniels e Karen McDougal, que alegaram ter tido casos com ele, a fim de silenciá-las antes das eleições de 2016. , Elijah Cummings enviou um pedido, no mês passado, para a Casa Branca e para a Organização Trump solicitando documentos relacionados aos pagamentos do silêncio, mas nunca os recebeu. Agora que os democratas estão em maioria, eles têm mais força para exigir essa informação.
4. Declarações fiscais
O deputado Richard Neal, democrata de Massachusetts, que assumirá o comando do poderoso Comitê de Modalidades da Câmara, disse que se Trump não liberar voluntariamente suas declarações de impostos, ele entraria com um pedido legal junto ao Departamento do Tesouro para que eles sejam liberados para um pequeno grupo no Congresso. Neal disse na semana passada que esperava que a questão acabasse em um tribunal federal.
Ele também disse ao Post que "poderia obter os retornos usando uma lei de 1924 que dá aos chefes dos comitês de redação de impostos do congresso o direito de solicitar as declarações de impostos de qualquer americano. A comissão poderia torná-los públicos com uma maioria simples".
5. Cláusula de Emolumentos
Já existem duas ações judiciais alegando que Trump violou a cláusula de emolumento na Constituição ao aceitar pagamentos de governos estrangeiros por meio de dignitários que se hospedam no hotel Trump em Washington. Um dos processos foi aberto por membros democratas do Congresso e, em setembro, um juiz determinou que eles tinham legitimidade para isso. Mas enquanto os processos correm pelos tribunais, Cummings disse que uma violação em potencial da Constituição para obter ganhos financeiros pessoais é uma questão que ele planeja investigar em sua comissão.
E o deputado John Garamendi, da Califórnia, membro sênior do comitê de transporte, que tem jurisdição sobre as propriedades do governo (o hotel fica no antigo prédio do US Post Office), disse que o painel investigará o hotel Trump. Ele disse à Bloomberg TV na semana passada: "Nós temos uma responsabilidade constitucional... O presidente recebeu dinheiro de um governo estrangeiro? Pense na Arábia Saudita. Pense no Kuwait".
6. Autorizações de segurança
Os democratas querem saber como certas pessoas, como o genro de Trump, Jared Kushner, e o ex-secretário da Casa Civil, Rob Porter, estavam trabalhando no mais alto nível da Casa Branca sem autorização de segurança. Eles também vão investigar a decisão de Trump de revogar as autorizações de segurança de John Brennan, ex-diretor da Agência Central de Inteligência, e outros críticos de Trump.
7. A mídia como alvo
Schiff acha que os democratas deveriam investigar se Trump usou seu escritório para tentar punir empresas associadas à CNN e ao Washington Post. Ele falou sobre o esforço de Trump para bloquear a compra da Time Warner, controladora da CNN, e seu desejo de fazer com que os Correios dos EUA aumentassem os custos de envio para a Amazon, cujo presidente-executivo, Jeff Bezos, também é dono do Post.
"O presidente não está apenas castigando a imprensa, mas pode estar secretamente usando instrumentos do poder do Estado para puni-los", disse Schiff em entrevista ao Post no domingo. "Essa é uma grande ameaça à liberdade de imprensa".
8. Brett Kavanaugh
Enquanto alguns eleitores democratas adorariam ver a nova maioria da Câmara assumir as acusações de impeachment contra o juiz da Suprema Corte Brett Kavanaugh, Nadler disse que esse não é o caminho que ele pretende seguir. Em vez disso, ele disse que pretende usar o poder de seu comitê para analisar por que o FBI não fez um trabalho mais completo ao investigar as alegações de má conduta sexual que pesaram sobre Kavanaugh durante seu processo de confirmação.
Nadler disse que estaria examinando "o processo pelo qual o FBI foi sufocado em sua investigação pela Casa Branca".
9. Separações de famílias de imigrantes
Ainda restam muitas perguntas não respondidas sobre a "política de tolerância zero" da Casa Branca na fronteira sul, que resultou na separação de milhares de crianças de seus pais. Muitas crianças permanecem longe dos familiares. A comissão de Supervisão Governamental, na liderança de Cummings, pretende investigar os deslizes que ocorreram, além de identificar por que as crianças ainda estão sob custódia do governo e se são verdadeiros os relatos de que crianças foram maltratadas enquanto estavam sob os cuidados do governo.
10. Saúde
Os democratas fizeram da saúde uma pedra angular de sua plataforma de campanha nas midterms. Agora, Nadler quer iniciar uma investigação sobre a decisão do governo Trump de não defender a Lei de Cuidados Acessíveis, conhecida como Obamacare, contra um processo que, se bem sucedido, derrubaria toda a legislação.
11. Secretária de Educação Betsy DeVos
O Comitê de Educação e Força de Trabalho, sob controle democrata, vai exigir mais respostas de DeVos, que em grande parte evitou a supervisão de seu trabalho no Departamento de Educação. O jornal Chronicle of Higher Education afirmou que ela é "um dos maiores perdedores das eleições de meio de mandato", explicando:
“Os democratas vão se concentrar nas decisões de DeVos sobre duas importantes regras do ensino superior. Ela propôs uma revisão mais restritiva da regra de defesa do mutuário, que permite que os estudantes fraudulentos busquem o perdão do empréstimo, e uma revogação da regra do emprego remunerado, que responsabiliza programas de graduação por estudantes com dívidas que não podem pagar”.
12. Secretário do Interior Ryan Zinke
O Post afirmou, na semana passada, que o deputado Raúl Grijalva, democrata do Arizona, que assumirá o Comitê de Recursos Naturais da Câmara, quer investigar Zinke "sobre sua conduta pessoal e decisões administrativas".
Grijalva disse que ele e seus colegas querem que o secretário do Interior forneça respostas em várias frentes. No mês passado, a inspetora interina do Departamento do Interior, Mary Kendall, referiu o inquérito, que examina se Zinke usou seu cargo para ganhos pessoais, ao Departamento de Justiça: "Este é nosso controle e equilíbrio, nossa obrigação constitucional e nossa jurisdição", Grijalva disse. "Nós, exercendo nossas responsabilidades de supervisão, não queremos uma guerra com a administração".