Um tribunal turco decretou nesta quarta-feira a prisão preventiva de 12 suspeitos de envolvimento num suposto plano de golpe contra o governo de raízes islâmicas do país em 2003. A controversa investigação ampliou as tensões na já polarizada nação eurasiática.
Entre os suspeitos encontram-se cinco almirantes, um general do exército e seis outros oficiais. Eles estavam entre os cerca de 50 militares interrogados na terça-feira sobre o suposto plano de golpe.
Entre esses militares havia um ex-chefe da Marinha e outro da Aeronáutica, Ozden Ornek e Ibrahim Firtina, respectivamente
A ação foi considerada a mais dura já realizada contra as Forças Armadas turcas, um organismo bastante influente no país.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente Abdullah Gul agendaram para esta quinta-feira uma reunião com a cúpula militar.
Em resposta à decretação das prisões preventivas, o Exército turco - que se considera o guardião da laicidade no país - convocou uma reunião de emergência e alertou sobre a "situação muito séria" pela qual passa a Turquia.
De volta de uma visita oficial à Espanha, Erdogan se reuniu com altos membros do governo na noite de terça-feira.
A investigação da tentativa de golpe aprofundou as divisões entre as forças seculares e o governo. Essas divergências atingem o país desde que o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, pelas iniciais em turco) chegou ao poder, em novembro de 2002. O AKP fazia parte de um movimento islâmico mais amplo no país, agora proscrito.
Os partidários do AKP afirmam que o Exército, que já derrubou quatro governos e tradicionalmente tem forte peso político no país, deve ser forçado a não se intrometer na arena política.
Os oponentes, porém, afirmam que o AKP utiliza-se da questão da democratização como pretexto para desacreditar as Forças Armadas, vistas como o pilar do sistema secular turco, ficando com caminho aberto para realizar suas ambições islâmicas.
O suposto golpe teria sido tramado em 2003 no Primeiro Exército de Istambul, pouco após o AKP ter chegado ao poder. Não está claro se os envolvidos teriam tomado alguma ação concreta para implementar o plano, revelado primeiro em janeiro pelo jornal Taraf, que rotineiramente critica os militares.
O plano supostamente envolvia a colocação de bombas em mesquitas e o aumento da tensão com a Grécia, desacreditando o governo e provocando sua queda. Militares acusados, porém, garantem que não havia nenhum plano em andamento.
A credibilidade da investigação foi questionada após a polícia começar a prender jornalistas, escritores e acadêmicos críticos do AKP, com promotores baseando-se em evidências como cartas anônimas e testemunhas secretas. Alguns suspeitos acusaram a polícia de fabricar provas.
Os críticos afirmam que a investigação tornou-se um instrumento de intimidação para desarticular a oposição secular. O procurador-chefe da Turquia afirmou, na semana passada, que examinava se o governo exerce pressão sobre o Judiciário.
Caso isso fique comprovado e gere um processo judicial, o AKP poderia até mesmo ser fechado pela Corte Constitucional. Em 2008, o partido escapou por pouco de ser banido por suposta violação do sistema secular turco.
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