Toronto Cientistas do Censo da Vida Marinha (CVM) encontraram no Atlântico espécies de camarões e moluscos que vivem nos arredores de um vulcão submarino e suportam temperaturas de até 80 graus centígrados. O achado faz parte do pesquisadores vêm chamando de "o ano das descobertas".
O vulcão, situado a três quilômetros de profundidade na região equatorial do Atlântico, lança materiais a 407 graus centígrados, e os cientistas agora estão interessados em entender como camarões e moluscos podem resistir a ondas de calor de até 80 graus centígrados, apesar de viverem em águas a apenas 2 graus.
Censo
Essa é uma das descobertas feitas desse ano pelas 19 expedições que o Censo da Vida Marinha realizou em diversas regiões do mundo na tentativa de catalogar até 2010 as formas de vidas presentes e passadas dos oceanos.
Segundo Jesse Ausubel, um dos diretores de projeto do CVM, "2006 foi um ano extremamente empolgante e o ano das descobertas ainda não terminou. Encontramos vida em todos os cantos, em todas as temperaturas". O projeto conta com cerca de 2 mil cientistas do mundo inteiro, que trabalham há seis anos.
Novidades
Ausubel destacou que a 20.ª expedição de 2006 ainda está em atividade na Antártida, e que está descobrindo espécies insólitas em águas sob 700 metros de gelo e a 200 quilômetros em mar aberto.
A expedição no vulcão submarino do Atlântico e a nas águas da Antártida são duas regiões nas quais os cientistas trabalham para revelar os novos segredos.
Camarões
No primeiro caso, os pesquisadores estão interessados em decifrar os mecanismos químicos que permitem que os camarões sobrevivam a mudanças de temperatura, disse Chris German, cientista encarregado da expedição.
Os camarões se alimentam de alguns micróbios que, por sua vez, se nutrem de substâncias químicas lançadas pelo vulcão.
Se por um lado Ausubel descreve o hábitat do vulcão como o mais quente, o da Antártida é o mais obscuro.
O cientista descreve a existencia de câmeras submersas através de buracos nas camadas de gelo do Antártico. Sua equipe descobriu "uma cidade cansada", na qual vivem animais gelatinosos (como medusas) e crustáceos.
Em maior profundidade, na expedição realizada no mar dos Sargaços, nas águas das Bermudas, os cientistas recolheram amostras a 5 mil metros de profundidade para encontrar colônias de camarões.
Nessas profundezas, explicou German, com pressões extremas nas quais os equipamentos dos cientistas resistem com dificuldade, "os camarões sobrevivem porque seus corpos não têm cavidades com ar, e logo, não há diferença de pressão entre o interior e o exterior".
O cientista disse que agora os pesquisadores estão tentando construir seus equipamentos seguindo o princípio dos animais. Durante a expedição no mar dos Sargaços, os cientistas recolheram mais de 500 espécies, entre elas cerca de dez, sobre os quais a ciência não tinha conhecimento.
Ave
Outra surpresa do ano foi descobrir que uma pequena ave, a pardela-preta (Puffinus griseus), chega a percorrer 70 mil quilômetros em 200 dias em busca de comida.
Os cientistas acompanharam por satélite a trajetória da ave pelo Oceano Pacífico, da Nova Zelândia ao Japão, Alasca e Califórnia. Os animais fizeram em média 350 quilômetros por dia.