Em agosto do ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, tinha prometido “fogo e fúria” contra a Coreia do Norte caso o país asiático prosseguisse com as ameaças aos americanos quanto ao lançamento das armas nucleares, em um momento em que a hipótese de vê-lo cumprimentando o ditador Kim Jong-un ainda soava como uma piada de mau gosto.
Naquele mesmo mês, Trump supostamente também ponderou uma intervenção militar em um país muito mais perto dos Estados Unidos: a Venezuela. De acordo com uma reportagem da Associated Press, Trump repetidamente perguntou a seus principais assessores, em uma reunião no Salão Oval, se os Estados Unidos poderiam invadir a conturbada nação sul-americana.
O presidente depois discutiu a mesma questão com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e outros líderes regionais em várias ocasiões, segundo um oficial do governo ouvido pela reportagem. A Associated Press afirmou que a Casa Branca se recusou a comentar, mas um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional disse à agência de notícias que "todas as opções" permanecem abertas para "ajudar a restaurar a democracia à Venezuela e trazer estabilidade [à região]".
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Aqui estão alguns dos argumentos que provavelmente foram trazidos pela própria equipe de Trump e pelos líderes latino-americanos para impedir o presidente de um movimento que provavelmente resultaria em uma enorme repercussão regional e internacional.
Discutir a possibilidade pode até mesmo funcionar em favor do governo venezuelano
As reservas de caixa da Venezuela estão diminuindo há meses, os trabalhadores altamente qualificados estão fugindo de lá e o investimento estrangeiro continua em declínio. A hiperinflação tornou a moeda local, o bolívar, virtualmente sem valor.
O governo culpa as sanções norte-americanas pela desaceleração econômica. Reembolsar suas dívidas tornou-se cada vez mais difícil para a Venezuela, já que as exportações ou transações estão atrasadas ou completamente paralisadas.
Culpar os Estados Unidos por seus infortúnios acabou sendo uma estratégia cada vez mais mal-sucedida para o ditador Nicolás Maduro. Mas a consideração de uma "opção militar" na Venezuela por parte de Trump foi suficiente para impulsionar o governo de Maduro e desencadear protestos anti-EUA na capital Caracas no ano passado, apesar de poucos observadores norte-americanos terem levado sua ameaça a sério, devido à ausência dos detalhes que surgiram agora.
Na quarta-feira, respondendo à reportagem da AP, Maduro repetiu suas críticas aos Estados Unidos, atacando a "visão supremacista e criminosa" de Washington. A reação tem semelhanças com o apoio de Trump a grupos de oposição iranianos, no início deste ano, que foi usado pelo regime de Hassan Rohani para dizer que seus oponentes estavam vinculados a potências estrangeiras impopulares (uma pesquisa posterior descobriu que apenas 9% dos iranianos achavam que o apoio de Trump à oposição ajudava aqueles que estavam se manifestando).
A reação não se limitaria à Venezuela
Respondendo aos pensamentos de Trump sobre a Venezuela em agosto passado, o então conselheiro de segurança nacional H.R. McMaster e outros funcionários alegaram que qualquer intervenção dos EUA poderia facilmente criar uma reação adversa em toda a América Latina. Quando perguntados diretamente por Trump se apoiavam a ação militar, vários líderes latino-americanos aparentemente rejeitaram a proposta de imediato.
Alguns líderes latino-americanos estreitaram laços com os Estados Unidos nos últimos anos, apesar da impopularidade de Trump entre os eleitores da região. Uma intervenção militar poderia forçar muitos desses líderes a reconsiderar sua cooperação com os Estados Unidos em meio à pressão do público.
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Os riscos da "diplomacia das canhoneiras"
Na própria Venezuela, a mudança de regime influenciada por outro país poderia facilmente resultar no surgimento de outro regime tão instável quanto o de Maduro. A guerra do Iraque é o exemplo mais óbvio para os desafios que surgem quando os regimes são derrubados por potências estrangeiras.
Na América Latina, os golpes apoiados pela CIA ou intervenções diretas frequentemente tiveram resultados desastrosos. A queda do presidente guatemalteco Jacobo Árbenz, apoiado pela CIA em 1954, por exemplo, levou à guerra civil no país e a uma sucessão de regimes autoritários.
Segundo a AP, Trump teria citado as invasões do Panamá e Granada na década de 1980 como exemplos de intervenções militares bem-sucedidas no exterior durante suas conversas sobre a Venezuela.
No entanto, é preciso considerar que Granada tem uma população de cerca de 90 mil pessoas, comparada com os mais de 30 milhões de venezuelanos. E que a intervenção militar no Panamá foi de fato considerada um sucesso militar na época, tendo sido bem recebida por muitos moradores locais, mas há um forte contraste com a Venezuela, onde apenas 20% dos venezuelanos disseram que se sentiam confiantes de que o presidente dos EUA tomaria boas decisões em questões de relações exteriores.