Presidente dos EUA, Donald Trump| Foto: AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (2) que vai aumentar tarifas de importação para o aço e alumínio do Brasil e da Argentina, acusando os dois países de provocar a desvalorização de suas moedas de forma deliberada.

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Em 2018 o Brasil já havia sido alvo de uma medida semelhante, quando Trump aumentou a tarifa de importação desses materiais para vários países. Na época, um relatório do Departamento de Comércio americano, produzido a pedido da Casa Branca, concluiu que a importação de aço e alumínio reduzia a capacidade siderúrgica nacional e, por isso, estava ameaçando a indústria de defesa dos EUA. “O aço e o alumínio são a espinha dorsal da nação”, declarou Trump em março de 2018. Essa sobretaxa ao aço e alumínio brasileiros, porém, foi revogada em agosto de 2018.

Agora a medida ressurge como uma forma de retaliação à desvalorização do real frente ao dólar, o que, na visão de Trump, está sendo orquestrada pelo governo brasileiro e causando prejuízos aos fazendeiros americanos por tornar os produtos agrícolas brasileiros mais atrativos no mercado internacional.

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A medida foi recebida com surpresa no Brasil, já que desde o primeiro dia de governo, o presidente Jair Bolsonaro buscou aprofundar as relações com os Estados Unidos. Porém, esta não é, nem de longe, a primeira vez que Trump bate de frente com um país aliado para agradar seu público interno e levar adiante sua agenda protecionista, sob a bandeira do “America First”. No comércio, já o fez com Canadá, México e União Europeia. Com consequências geopolíticas mais graves, ameaçou alianças militares. Veja a seguir três situações em que Trump causou atritos com os aliados.

Guerra de tarifas

A guerra comercial de Trump com vários países, inclusive os aliados, é um elemento importante de sua diplomacia estrangeira e política econômica.

Desde que assumiu a presidência em 2017, ele busca renegociar acordos que julga serem desfavoráveis aos Estados Unidos e usa a imposição de tarifas de importação como uma maneira de pressionar os demais países. O problema é que essa postura causou fissuras no relacionamento entre países aliados.

Em 2018, as tensões com União Europeia e Canadá chegaram a um nível crítico, com troca de acusações públicas entre os líderes mundiais. A reunião do Grupo dos 7 naquele ano chegou a ser chamada de G6+1, tamanho o distanciamento dos Estados Unidos dos outros países que compõem o grupo - Alemanha, Japão, Canadá, França, Reino Unido e Itália.

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O motivo da briga? Líderes na Europa, Canadá, México, Japão e Coreia do Sul ficaram furiosos com a invocação da segurança nacional por parte de Trump para justificar as tarifas sobre suas exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos - a mesma que atingiu o Brasil em 2018.

A tensão entre os aliados continua elevada no campo comercial, já que em outubro de 2019 os Estados Unidos passaram a taxar produtos importados da União Europeia, inclusive aviões da Airbus, queijos e vinhos. A Organização Mundial do Comércio autorizou as novas tarifas americanas de até US$ 7,5 bilhões ao concordar com os Estados Unidos que os países europeus oferecem subsídios ilegais à Airbus, prejudicando as vendas da concorrente norte-americana Boeing.

Durante seu governo, Trump também deixou tratados comerciais e buscou negociações que ele julga serem melhores para os Estados Unidos, como o fim do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e a assinatura do novo Acordo EUA-México-Canadá (Umsca).

Financiamento de defesa 

A relação entre Estados Unidos e Coreia do Sul também não está em seu melhor momento. O governo de Donald Trump está exigindo maior participação financeira do aliado na proteção do território sul-coreano. Há duas semanas, os Estados Unidos interromperam as negociações com a Coreia do Sul sobre como dividir o custo da aliança militar das duas nações, injetando nova tensão no relacionamento bilateral - uma questão muito delicada ao levar-se em conta que Coreia do Norte e China estão aumentando seu poderio militar na região.

O presidente Donald Trump exige que a Coreia do Sul aumente em cinco vezes sua contribuição para cobrir o custo de manter uma base de 28.500 soldados americanos no país asiático, pedindo quase US$ 5 bilhões, segundo autoridades de ambos os lados. Mas essa demanda provocou raiva dos legisladores coreanos e despertou preocupações de que Trump possa decidir reduzir a presença de tropas dos EUA na Península Coreana se as negociações fracassarem.

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O fim abrupto das negociações foi uma rara demonstração pública de desunião entre os aliados, com os EUA culpando a Coreia do Sul por fazer propostas que "não respondiam ao nosso pedido de compartilhamento de ônus justo e equitativo".

Em 2019, a Coreia do Sul concordou em pagar cerca de US$ 890 milhões pelo custo de estacionar as tropas americanas no país, pouco mais de 40% das despesas diárias.

Trump também quer renegociar o financiamento de defesa com o Japão e a mesma cobrança tem sido feita para os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Curdos abandonados na Síria

Em outubro os Estados Unidos anunciaram a retirada de suas tropas do norte da Síria, abrindo caminho para um avanço da Turquia sobre a região, controlada pelos curdos. Ao justificar sua decisão, Trump argumentou que seu objetivo era acabar com as "guerras sem fim" nas quais os EUA estão envolvidos - uma demanda do seu eleitorado e promessa de campanha - e disse que cabe aos atores da região resolver a situação. O problema é que os curdos, considerados terroristas pela Turquia, foram importantes aliados dos Estados Unidos na guerra contra o Estado Islâmico. A decisão foi denunciada como uma "facada nas costas" pelas forças lideradas pelos curdos.

Após o anúncio do governo americano, a Turquia começou a bombardear cidades curdas na Síria. O avanço turco sobre o território resultou na fuga de mais de 150 mil curdos para o interior da Síria ou para o leste do Iraque. Pelo menos 30 civis morreram durante o ataque.

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Pouco mais de 10 dias depois, em 22 de outubro, a Rússia, aliada do governo de Bashar al-Assad, fechou um acordo com a Turquia se comprometendo em ajudar a remover combatentes curdos sírios do norte da Síria. Ankara, por sua vez, interrompeu a ofensiva.