Líderes mundiais se reunirão em Buenos Aires neste final de semana para a cúpula anual do Grupo dos 20. O bloco reúne as principais economias do mundo, representando cerca de 85% do PIB global e três quartos de todo o comércio internacional.
Para o presidente dos EUA, Donald Trump, esses fóruns podem ser cansativos. Ele não fez segredo de seu desprezo pelas instituições multilaterais e pelas ponderadas deliberações que os definem. Mas o encontro em Buenos Aires também servirá de cenário para uma série potencialmente fascinante de encontros cara-a-cara entre líderes que estão lutando com seus próprios desafios políticos. Conflitos militares, assassinatos escabrosos, guerras comerciais generalizadas e grandes crises financeiras pairam sobre o processo.
"A reunião do poder global que já foi sonolenta agora parece que está bombando", observou o editor diplomático da CNN, Nic Robertson.
Ainda assim, os anfitriões argentinos estão esperando por uma reunião mais calma do que o caso espetacular que aconteceu em Hamburgo no ano passado. "Os argentinos estão tentando minimizar os tópicos que poderiam desencadear uma sequência de tuítes de Trump – incluindo o protecionismo, o acordo climático de Paris e a migração", relataram repórteres do Washington Post. "Na declaração emitida no final da cúpula – na qual os líderes resumem seu trabalho e estabelecem prioridades para seus subordinados – a Argentina está trabalhando duro para minimizar o constrangimento dos EUA".
As coisas não chegaram a um começo promissor. Atingido por novas revelações da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre os negócios de sua campanha com a Rússia, a equipe de Trump anunciou do Air Force One que suspenderia ou rebaixaria uma série de reuniões bilaterais formais em Buenos Aires, incluindo agendamentos com os líderes da Turquia e Coreia do Sul.
Mas mesmo que o presidente desempenhe um papel mais circunspecto do que no passado, ele está longe de ser a única pessoa para seguir neste fim de semana. Estes são os líderes que devemos ficar de olho:
1. Vladimir Putin
Uma semana atrás, havia muita expectativa para o encontro do presidente russo, Vladimir Putin, com Trump. Ele teria sido a sequência da cúpula bilateral de julho em Helsinque, onde Trump irritou observadores de ambos os lados do Atlântico com sua aparente complacência com Putin.
Mas uma crise que começou no fim de semana no Mar de Azov, onde a Rússia tomou três navios ucranianos e suas tripulações, acabou obrigando Trump a cancelar a reunião.
Os funcionários do Kremlin ignoraram a notícia. "Se este é realmente o caso, o presidente terá algumas horas adicionais em sua agenda para reuniões úteis à margem da cúpula", disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov.
2. Mohammed bin Salman
Nenhum líder mundial será visto mais de perto que o príncipe herdeiro saudita, que chega ao G-20 sob uma nuvem escura de escrutínio internacional. Trump pode estar ansioso para absolver Mohammed de seu papel no sequestro e assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, mas outros líderes estão menos interessados em varrer todo o episódio para debaixo do tapete.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, considerou a explicação saudita para o assassinato de Khashoggi – que colocou a culpa em oficiais desonestos em seu palácio – sem credibilidade. O governo da chanceler alemã, Angela Merkel, suspendeu todas as vendas de armas para Riyadh e proibiu que mais de uma dúzia de oficiais sauditas envolvidos no crime viajassem para a Alemanha. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou os sauditas pelo assassinato, ocorrido no consulado saudita em Istambul, e acusou Riad de se envolver em um encobrimento.
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"A questão é quem entre os líderes globais concordará em acompanhá-lo publicamente", disse H.A. Hellyer, membro sênior do Atlantic Council e do Royal United Services Institute em Londres, à Agence France-Presse. "Eu suspeito que suas aparições serão cuidadosamente encenadas para evitar constrangimentos".
Mas o G-20 pode oferecer ao príncipe herdeiro uma chance de redenção: ele deve se encontrar com Putin e o presidente francês Emmanuel Macron pelo menos. Ambos os líderes disseram que conversariam a morte de Khashoggi com Mohammed, mas autoridades sauditas no reino esperam que essas reuniões ajudem seu líder a restaurar alguma boa vontade.
3. Xi Jinping
O confronto dos titãs no fim de semana será uma reunião de sábado entre Trump e seu homólogo chinês. Trump, irritado com as práticas comerciais "injustas" da China, instigou uma guerra comercial com Pequim no ano passado. As negociações entre os dois lados despontaram nos últimos meses e Trump ameaçou nesta semana elevar ainda mais as tarifas ainda sobre as importações chinesas.
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Analistas esperam um diálogo tranquilo. "Acho que é do interesse do presidente Trump que essa reunião seja vista como um sucesso", disse David Dollar, da Brookings Institution, em uma conferência telefônica nesta semana com repórteres. Mas é improvável que Xi dê a Trump as concessões que a Casa Branca há muito procura em Pequim, então a probabilidade de uma trégua significativa é pequena.
4. Justin Trudeau
O primeiro-ministro canadense bateu de frente com Trump na tumultuada cúpula do Grupo dos 7 realizada em Quebec no início deste ano. Trudeau classificou as novas tarifas dos EUA como "ações inaceitáveis"; Trump citou os comentários de Trudeau como a razão para se recusar a assinar o habitual comunicado conjunto da cúpula. Mas nesta sexta-feira, os dois líderes podem se reunir para assinar um novo acordo comercial entre seus países e o México, o produto de meses de negociações intermitentes.
A ótica será complicada para Trudeau. "Estas cúpulas se referem muito ao envio de uma imagem bonita para as pessoas em casa, e Trudeau pode não querer aparecer para ficar lado a lado com Donald Trump sem saber que humor o presidente vai estar", disse John Kirton, diretor dos Grupos de Pesquisa G7 e G20 da Universidade de Toronto, para a CBC News do Canadá.
5. Mauricio Macri
A vitória do presidente argentino de centro-direita em 2015 deveria ser um sinal de uma tendência crescente na América Latina – um empresário pragmático ganhando em um governo esquerdista cada vez mais impopular. Mas no Brasil e no México, as outras potências latino-americanas do G20, um populista de direita e de esquerda estão prestes a assumir o poder após vitórias eleitorais sísmicas neste ano. Macri tem que se ajustar a um clima político mutante e cada vez mais polarizado na região.
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"Como a porção central do triângulo – a que não é nem direita nem esquerda, que ocupa deliberadamente o espaço intermediário – Macri pode enviar uma mensagem de moderação e patrocinar a convivência como uma alternativa à divisão social e política que está se tornando mais perigosa a cada dia", observou um editorial do diário argentino Clarín.
Mas essa não é uma tarefa fácil – especialmente em um momento em que o maior desafio de Macri é uma crise financeira interna que deve gerar protestos em massa no fim de semana.