O atual confronto entre Israel e os grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica já é o mais intenso desde 2014. Até a tarde desta quarta-feira (12), 59 pessoas haviam morrido – 53 na Faixa de Gaza e seis em Israel. Os dois lados se mostraram dispostos a aumentar os ataques e as Nações Unidas (ONU), temendo uma "guerra em grande escala", estão pedindo cautela.
Por que um conflito agora?
Os ataques do Hamas a Israel foram motivados, segundo o grupo terrorista, pelos confrontos violentos entre grupos árabes e a polícia israelense em Jerusalém Oriental, que por sua vez foram desencadeados por protestos contra a reintegração de posse de terrenos no Bairro de Sheikh Jarrah em benefício de colonos israelenses.
Centenas de árabes-israelenses, defensores da causa palestina, ficaram feridos nesses protestos que começaram na sexta-feira passada, assim como dezenas de policiais israelenses. O Hamas também acusa a polícia de Israel de ter violado um local sagrado do Islã ao entrar na mesquita al-Aqsa para dispersar milhares de manifestantes.
As autoridades de Israel disseram que a incursão na mesquita, que fica na Esplanada das Mesquitas, era necessária porque esses grupos árabes estavam barricados e munidos com pedras, as quais lançaram contra policiais. A polícia também salientou que usou meios não-letais para dispersar as pessoas da mesquita.
A disputa imobiliária no bairro Sheikh Jarrah é antiga, assim como as tensões entre os israelenses e os árabes que vivem em Jerusalém Oriental. Em resumo: colonos judeus haviam comprado terras na região no fim do século XIX, mas elas foram conquistadas pela Jordânia na guerra árabe-israelense de 1948. Nesse local, foram instaladas famílias palestinas, mas a retomada do controle israelense sobre a área, em 1967, abriu um precedente legal para que os colonos judeus reivindicassem a posse das terras. A justiça israelense tem dado ganho de causa para os judeus que conseguirem comprovar que seus antepassados tinham realmente comprado aquelas terras, onde atualmente mora uma grande comunidade árabe. Famílias que estão sendo despejadas moram há gerações no local.
As ações de despejo são contestadas por grupos de direitos humanos pró-Palestina, como a Human Rights Watch, e também são questionadas em organizações internacionais, como as Nações Unidas. Nesta semana, uma porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que o país via com preocupação “medidas unilaterais que exacerbam as tensões ou nos afastem da paz, incluindo despejos, atividades de assentamento e demolições de casas”. As Nações Unidas consideram Jerusalém Oriental como parte dos territórios ocupados por Israel – não território israelense.
Israel, por sua vez, afirma que os ataques aéreos contra alvos do Hamas na Faixa de Gaza fazem parte de uma operação de defesa após os ataques de grupos terroristas à sua população.
Por que há mais vítimas na Faixa de Gaza?
O número de palestinos que são vítimas no confronto é muito maior do que o de israelenses. Para algumas organizações de direitos humanos e defensores da causa palestina, isso ocorre porque a resposta de Israel aos foguetes é "desproporcional". A Humans Wright Watch, por exemplo, publicou um texto nesta semana salientando "o uso regular de força excessiva e amplamente desproporcional pelas autoridades israelenses, às vezes visando deliberadamente civis ou infraestrutura civil".
Israel defende-se dessas acusações afirmando que os terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica atuam em meio à sociedade civil, usando a população palestina como escudo.
"A triste realidade é que o Hamas e a Jihad Islâmica propositalmente estão inseridos entre a população civil [palestina]. Eles estão usando suas casas, suas escolas, suas mesquitas, seus hospitais e tudo o que eles, os terroristas, têm à disposição em Gaza para usar a população civil palestina como escudos humanos e tornando impossível para nós atacarmos apenas aqueles envolvidos em atividades militares", disse o tenente-coronel das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) Jonathan Conricus nesta terça-feira.
As IDF já emitiram vários alertas aos cidadãos de Gaza, pedindo para que eles fiquem longe dos locais onde o Hamas armazena suas armas. "Nosso objetivo é apenas atacar terroristas".
As Forças de Defesa de Israel afirmam também que muitos dos foguetes lançados pelos grupos terroristas acabam falhando e caindo dentro da Faixa de Gaza, o que também coloca a população palestina em risco.
Também há outro fator importante: o sistema de defesa antiaérea de Israel abate uma grande número de foguetes que têm potencial de cair em regiões habitadas de seu território.
Quais os riscos de uma guerra declarada?
É difícil ter certeza neste momento, mas tudo indica que o atual conflito não evoluirá para uma guerra declarada. Não há interesse em um combate amplo para nenhum dos lados, segundo o diretor executivo da organização StandWithUs Brasil e cientista político, André Lajst. Além dos altos custos de uma guerra, há uma grande pressão internacional para que isso não ocorra. Lajst explicou à Gazeta do Povo que, até o momento, Israel tem usado apenas um pequeno percentual de sua força militar para contra-atacar posições do Hamas na Faixa de Gaza. Ele estima que a operação defensiva que está sendo conduzida por Israel, batizada de Guardião da Muralha, deve durar alguns dias, embora o ministro da Defesa da nação judaica, Benny Gantz, tenha dito que “não há data final” para a operação.
Lajst também acredita que é muito improvável que outros grupos terroristas que lutam contra Israel, como o Hezbollah, se envolvam no conflito. Até agora, não houve ataques na fronteira com o Líbano, ao norte, na região onde o grupo aliado ao Irã atua.
Quais foram as reações internacionais até agora?
Como era de se esperar, países árabes condenaram a violência da polícia israelenses nos protestos em Jerusalém que antecederam a troca de fogo entre Hamas e Israel. O chefe da Liga Árabe disse que Israel é culpado pela uma "escalada perigosa" em Jerusalém e que os ataques aéreos em Gaza são "indiscriminados e irresponsáveis”.
A Turquia tem sido um dos mais proeminentes críticos de Israel. O ministério das Relações Exteriores do país disse que “o governo israelense deve finalmente entender que não será capaz de suprimir os direitos e demandas legítimas do povo palestino usando poder indiscriminado e desproporcional". O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, incitou os grupos terroristas: "Os sionistas não entendem nada além da linguagem da força, então os palestinos devem aumentar seu poder e resistência para forçar os criminosos a se renderem e impedirem seus atos brutais", disse Khamenei.
Líderes ocidentais pediram cautela para ambos os lados, reconhecendo também o direito de defesa de Israel. “O ataque com foguetes contra Israel é absolutamente inaceitável e deve terminar imediatamente. Israel tem, nesta situação, o direito à autodefesa. Esta escalada de violência não pode ser tolerada nem aceita”, disse o ministério das Relações Exteriores da Alemanha. Um recado semelhante foi enviado pela União Europeia.
Os Estados Unidos disseram que Israel tem o direito legítimo de se defender dos ataques de foguetes do Hamas, mas salientaram que Jerusalém "deve ser um lugar de coexistência". O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu o fim dos combates e "exortou as partes a diminuir as tensões e resolver pacificamente as questões emergentes".
E os países árabes que recentemente assinaram acordos com Israel?
De acordo com Jon B Alterman, diretor do Programa do Oriente Médio do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), a maioria dos estados árabes é hostil ao Hamas. “Eles se opuseram veementemente às ações israelenses no Monte do Templo (Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém), no entanto, buscam diferenciar o povo palestino dos combatentes do Hamas que lançam foguetes contra Israel”, escreveu Alterman. “Os protestos provavelmente serão transitórios, presumindo-se que a resposta israelense tenha vida curta. Uma resposta de longo prazo teria um efeito inibidor sobre os laços, mas não os encerraria”, concluiu.
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