A população lotou as ruas da capital do Sudão, Cartum, no domingo (30) para mais uma vez pedir por novas eleições e a transição para um governo civil. O protesto foi o ressurgimento de um levante que foi reprimido com violência no início de junho.
Centenas de milhares de pessoas compareceram à maior manifestação no país desde que dezenas de manifestantes foram mortos na repressão que começou em 3 de junho.
Entenda as causas do protesto:
Por que as pessoas estão protestando?
Os protestos, que começaram em dezembro de 2018, tiveram sucesso em derrubar o antigo líder do país, Omar Hassan al-Bashir em abril. Bashir governava o Sudão desde um golpe de Estado em 1989. O aniversário de 30 anos desse golpe foi no último domingo.
Um conselho militar de transição logo tomou o lugar de Bashir. Mas os cidadãos exigem novas eleições e um governo liderado por civis.
Como tudo começou?
O movimento começou em dezembro com protestos contra os altos custos de alimentos e combustível no país, e logo se transformou em protestos contra Omar al-Bashir.
Embora Bashir tenha sido reeleito presidente várias vezes, grupos de direitos humanos dizem que as eleições não foram democráticas. Ele era considerado um líder autoritário. Estima-se que uma milícia apoiada pelo governo tenha matado 15 mil pessoas entre o começo de 2003 e 2004 em Darfur.
A Corte Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra Bashir em 2009 sob acusações de genocídio e crimes de guerra em Darfur. Outro mandado foi emitido em 2010. O caso foi suspenso em 2014 por falta de apoio do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Mesmo assim, Bashir manteve o poder até 11 de abril deste ano, quando foi deposto e preso pelo Exército do Sudão.
Como a junta militar tem reagido aos protestos?
A junta militar que governa o Sudão provisoriamente ordenou a repressão generalizada aos manifestantes que exigem a transição para um poder civil. Houve massacres de manifestantes. Mais de cem pessoas foram mortas no começo de junho, e algumas tiveram os seus corpos jogados no rio Nilo.
Como os protestos são organizados?
Há quase um mês, o país inteiro está sem internet, que foi cortada pelo governo. Os organizadores das manifestações incluem associações profissionais e de bairros. No domingo passado, eles pretendiam reunir 1 milhão de pessoas, ou cerca de um quinto da população de Cartum e seus subúrbios.
Sem internet, os organizadores recorreram a anúncios pintados em muros da cidade, e grupos que caminharam pelos bairros com megafones para informar a população.
O que deve acontecer a seguir?
Nesta quarta-feira (3), os manifestantes retomaram as negociações frente a frente com os generais da junta militar após a mediação da União Africana e da Etiópia para chegar a um novo governo, de acordo com o site de notícias Al Jazeera.
Os manifestantes colocaram condições para a retomada das negociações, incluindo a rejeição de uma presidência militar permanente, a libertação de presos políticos e a formação de uma comissão internacional para investigar o massacre de 3 de junho que deixou dezenas de mortos.
No sábado, a junta militar aceitou a proposta entregue pelos manifestantes.
Em um comunicado divulgado nesta quarta-feira, a alta comissária da Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu que as autoridades sudanesas garantam uma transição pacífica para um governo civil. Ela pediu aos militares que eles investiguem as acusações de uso excessivo da força.
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