Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil| Foto: Reprodução

Viagens interplanetárias são o futuro da corrida espacial, dizem especialistas

Curitiba – Qual será o futuro dos programas espaciais? O que podemos esperar para os próximos 50 anos? De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Paulo Henrique Martins, as viagens interplanetárias são uma das grandes promessas para o futuro da Era Espacial. "Há novos instrumentos que estão mapeando a Lua com detalhe, com imagens de alta resolução. Isso não é à toa. Esse tipo de medida está no contexto de utilizar a Lua como base para viagens interplanetárias. Inclusive a possibilidade de haver água no pólo da Lua está sendo levada em conta", diz. Segundo Martins, essas viagens podem durar até 200 anos e o risco de voltar a colocar humanos em naves terá de ser encarado.

Para Aydano Carleial, ex-diretor do programa de satélites do INPE (1985-1989) e um dos engenheiros do primeiro satélite brasileiro, o SCD 1, lançado em 1993, a evolução dos programas espaciais está em um ritmo lento. "É claro que as missões para outros planetas serão realidade. Para Marte, por exemplo, que possui um clima relativamente acessível. Ou melhor do que Vênus, pelo menos", diz. ele.

Nos EUA, uma das mudanças em andamento é a maior participação do setor privado em programas espaciais. Novos milionários, como Paul Allen, fundador da Microsoft, e Jeffrey Bezos, fundador da Amazon.com, estão gastando milhões em empresas ligadas ao setor, como na construção de foguetes e naves espaciais. O dinheiro pode ser um dos motivadores de novas descobertas.

Brasil

Para o Brasil, Martins sugere que o país avançe no sentido de ganhar autonomia de seu programa espacial, mas não para buscar novidades fora da Terra. "O programa brasileiro deve se voltar para a Terra, onde está conseguindo seus melhores resultados. Isso tanto na parte da observação, como modelamento do meio ambiente e do clima, como para questões de telecomunicações", diz ele.

CARREGANDO :)

Curitiba – Há 50 anos, a União Soviética colocou em órbita o primeiro satélite feito pelo homem. Com o diâmetro de uma bola de basquete e pouco mais de 80 quilos, o Sputnik (satélite, na tradução do russo) foi lançado do Cosmódromo de Baikonur em 4 de outubro de 1957. Do espaço, sua única função foi emitir um som: "bip-bip-bip". Depois de 22 dias em órbita, a bateria acabou e, semanas depois, ele evaporou-se ao reentrar na atmosfera terrestre. A façanha parece pequena, mas o Sputnik marcou o início da Era Espacial e teve conseqüências enormes na ciência e na política, além de na própria maneira do homem ver o espaço e a si próprio. Foi também um momento de paradoxo. Se, de repente, o Universo pareceu pequeno (e conquistável), a humanidade se viu mais próxima de ser liquidada.

O Sputnik chegou ao espaço carregado pelo míssil balístico intercontinental R-7. O momento histórico era importante: no fim da década de 1950, a Guerra Fria começava a tomar forma. O recente sucesso espacial comunista foi uma demonstração de força militar. A bomba atômica, o máximo em armamento até então, era bem mais "maleável" – precisava de um avião para ser carregada e, entre a decolagem e o momento do ataque, havia tempo para negociações. Agora, com o R-7, os soviéticos poderiam carregar ogivas nucleares e provocar em poucos minutos uma destruição de proporções apocalípticas. Para os norte-americanos, foi um susto. O comunismo parecia estar vencendo o capitalismo. Além de que, como um voto de minerva, o Sputnik fez com que muitos países em desenvolvimento optassem pela ideologia de Stalin e Kruschev.

Publicidade

Os EUA só conseguiram colocar seu primeiro satélite em órbita em janeiro do ano seguinte. Antes disso, em novembro, a URSS já havia enviado o primeiro animal – a cadela Laika – ao espaço. Wernher von Braun, o alemão chefe do programa espacial norte-americano, acredita que os Estados Unidos poderiam ter sido os pioneiros do espaço. Segundo ele, faltou apoio do Pentágono. Muitos historiadores creditam a vitória de John F. Kennedy na eleição presidencial seguinte, em 1960, ao fato de Dwight D. Eisenhower ter conduzido mal a questão espacial (o concorrente de Kennedy, Richard Nixon, era vice de Eisenhower).

Em abril de 1961, o russo Yuri Gagarian tornou-se o primeiro homem a viajar pelo espaço. No dia 25 de maio daquele ano, poucos meses após assumir, Kennedy fez um discurso forte perante o Congresso. Antes do fim desta década, disse ele, os EUA irão colocar um homem na Lua e retorná-lo com segurança à Terra. O governo americano estava disposto a reagir. Nos anos seguintes, apesar do notável avanços dos americanos, a União Soviética continuou quebrando recordes: a primeira mulher no espaço (Valentina Tereshkova, em 1963), o primeiro homem a andar no espaço (Alexei Leonov. em 1965) e o primeiro impacto contra outro planeta (Vênus, em 1966). Foi apenas com o programa espacial Soyuz, em 1967, que a dominância soviética caiu por terra.

Quando os Estados Unidos colocaram o primeiro homem na Lua – Neil Armstrong, em 1969 –, o Soyuz sofria problemas no lançamento. Os soviéticos ainda tentaram uma recuperação, com a estação espacial MIR, mas logo que começou a ser habitada a União Soviética desmoronou.

Cinqüenta anos depois de seu início, a corrida espacial parece ter perdido o ritmo. Desde 1972, nenhum homem pisa na Lua. A tão esperada colonização de Marte também não veio. Os programas espaciais mudaram de foco. "O que ocorreu foi que passou a ter um outro tipo de procedimento para visitar esses lugares e para buscar informações sobre eles. São as sondas. Em vez de colocar o homem e toda a parafernália que deve acompanhá-lo numa viagem ao espaço, estão fazendo as viagens com sondas, por assessoramento remoto. Envolve menos custo e menos risco", afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), Paulo Roberto Martins. "Mas isso sem dúvida não vai parar aí. O homem quer ir longe", completa. Como dizia o famoso astrônomo Carl Sagan, "em algum lugar, algo incrível está esperando para ser descoberto."