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Combatente do Talibã monta guarda em ponto de controle na cidade de Kandahar, Afeganistão, 17 de agosto
Combatente do Talibã monta guarda em ponto de controle na cidade de Kandahar, Afeganistão, 17 de agosto| Foto: EFE/STRINGER

A rapidez com que o Talibã tomou as grandes cidades afegãs nos últimos dez dias surpreendeu o mundo e colocou o governo dos EUA em uma situação vergonhosa perante a comunidade internacional. Os bilhões investidos pela superpotência mundial em equipamentos e capacitação das forças armadas afegãs não foram suficientes para impedir que o Talibã voltasse a dominar o Afeganistão. Os serviços de inteligência da Otan também parecem ter falhado.

Na avaliação de Anthony H. Cordesman, analista do Oriente Médio para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), embora ainda não seja possível realizar uma avaliação completa sobre o que levou ao colapso repentino da maior parte do governo central afegão e das forças de defesa do país – já que há muita informação confidencial ainda –, alguns fatores contribuíram para que isto ocorresse. Confira a seguir seis pontos elencados pelo especialista em uma análise publicada nesta terça-feira.

Anúncio da retirada das tropas americanas levou o Talibã a agir

Primeiro houve uma redução significativa das tropas americanas no Afeganistão em 2014, que permitiu que o Talibã começasse  a retomar territórios no interior do país.

Mais recentemente, em 2020 e 2021, as retiradas de pessoal militar e o fechamento de bases e instalações americanas no país ocorreram de maneira acelerada, sem um plano de paz e sem exigir contrapartida do Talibã – afinal, o grupo militante não cumpriu nada do que tinha prometido no acordo assinado com a administração de Donald Trump.

Isso foi um incentivo para o Talibã preparar uma ofensiva nacional e persuadir muitos oficiais afegãos de que os EUA e as forças aliadas estavam saindo do país e que eles seriam forçados a lidar com o Talibã.

Corrupção das autoridades afegãs

Fracasso de governança e corrupção, não apenas em Cabul, mas em todas as grandes cidades das 34 províncias do Afeganistão, foram fatores que contribuíram para a derrocada do governo afegão. O sistema legal, a polícia e qualquer força de segurança local estavam virando fontes de corrupção e extorsão.

“Em muitos aspectos, a política, a corrupção e a incompetência das partes civil e militar do governo afegão eram tão inimigos desse governo quanto o Talibã”, escreveu Anthony.

Falta de coordenação entre autoridades civis e militares

Doações nunca foram propriamente coordenadas entre oficiais civis e militares, contribuindo para a falha do governo em desenvolver a unidade política que necessitava e ao mesmo tempo aumentando o nível de pobreza da população, que não via a ajuda chegar onde precisava. Essa ausência do poder público abriu espaço para o Talibã influenciar em muitas áreas.

Financiamento do Talibã

Enquanto o governo afegão dependia basicamente de ajuda externa e operava de maneira inchada e corrupta, o Talibã se beneficiou do narcotráfico em ascensão, obtendo pelo menos parte da receita das drogas vendidas para fora do país, com extorsão e postos de controle nas estradas. Além disso, ao avançar sobre territórios, o Talibã obteve cada vez mais armas e suprimentos militares das forças afegãs e de fontes governamentais, arrecadando dinheiro de fontes civis, como a indústria de mineração. O grupo ainda podia financiar suas operações de maneira muito mais barata e gastar quase todo o seu dinheiro em seus objetivos e operações.

Deficiências das forças afegãs

Enquanto os EUA anunciavam sua retirada do país, o número de oficiais das forças de segurança afegãs aumentou. Passou de 272 mil em outubro de 2019 para 307,9 mil em janeiro de 2021 - o número diminuiu nos meses seguintes, com o avanço do Talibã. Contudo, deste contingente, apenas 118 mil eram militares. Os demais eram membros da polícia, não treinados para fazer a segurança de áreas ou atuar como forças paramilitares. Nos combates com o Talibã, a maioria deles morreu ou desertou. Em algumas áreas do país, os policiais não recebiam salários e suprimentos básicos. A qualidade das forças afegãs e governança também eram problemas.

O verdadeiro núcleo pronto para o combate das forças do Exército afegão era muito pequeno, estava sobrecarregado com missões de combate e era forçado a lutar em níveis insustentáveis. Esses problemas foram agravados pela dependência da inteligência ativa dos EUA, apoio de tropas de combate e poder aéreo americano.

Além disso, os equipamentos modernos que foram deixados nas mãos do Exército afegão tornavam os oficiais dependentes do auxílio de contratados, dadas as suas complexidades.

Erro de cálculo dos EUA e da Otan

Os relatórios oficiais dos EUA subestimaram sistematicamente a sofisticação e a capacidade do Talibã, ignorando sua história como movimento político e seu desenvolvimento como uma força insurgente. Isso levou à subestimação da influência crescente do Talibã nas áreas rurais e no país como um todo.

Como no Vietnã, as forças assistidas pelos EUA venceram praticamente todas as batalhas contra o Talibã, mas constantemente perdiam áreas – e o pequeno número de forças afegãs efetivas não conseguiu continuar a vencer enquanto o apoio militar ativo dos EUA diminuía.

Os EUA e outros serviços de inteligência também subestimaram a capacidade do Talibã de se comunicar e coordenar operações complexas em todo o Afeganistão, como os ataques que ajudaram a catalisar e explorar o colapso do governo afegão e suas forças.

Quando Biden anunciou que os EUA iriam retirar todas as tropas americanas do Afeganistão, a inteligência americana previa que as forças de defesa afegãs poderiam manter o Talibã afastado por dois ou três anos. Quando a recente ofensiva do grupo começou, a perspectiva caiu para três dias.

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