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6 gráficos que explicam por que os EUA não vivem uma crise de imigração 

Serviços de Imigração e Cidadania dos EUA dão as boas-vindas a 200 novos cidadãos de 50 países durante uma cerimônia em homenagem ao Dia da Independência na Biblioteca Pública de Nova York em 3 de julho de 2018  | BRYAN R. SMITHAFP
Serviços de Imigração e Cidadania dos EUA dão as boas-vindas a 200 novos cidadãos de 50 países durante uma cerimônia em homenagem ao Dia da Independência na Biblioteca Pública de Nova York em 3 de julho de 2018  (Foto: BRYAN R. SMITHAFP)

Nas últimas semanas vimos notícias terríveis sobre a "crise" que se instalou na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Na realidade, não há crise, pelo menos como foi retratado na imprensa e pela administração Trump. 

Entradas não documentadas através da fronteira são, na verdade, as mais baixas de todos os tempos. A entrada em massa de migrantes do México em busca de trabalho no vizinho do Norte acabou. 

Pessoas que chegam agora à fronteira não são trabalhadores mexicanos, mas sim famílias da América Central, em número muito menor, que buscam escapar de circunstâncias terríveis, causadas em parte pela intervenção militar norte-americana na região durante os anos 80.

Dada a exigência do Presidente Trump pela construção de um muro fronteiriço, muitas pessoas podem, sem dúvida, ficar surpreendidas ao saber que a migração líquida não documentada para os EUA foi zero ou negativa durante uma década. 

Queda da imigração do México 

Todos os dados indicam que a imigração ilegal do México, em particular, terminou e, neste momento, mais mexicanos não autorizados estão deixando o país do que chegando. De acordo com estimativas do Centro Hispânico Pew, do Centro de Estudos Migratórios e do Departamento de Segurança Interna, a população mexicana sem documentação parou de crescer em 2008 e continua diminuindo desde então. 

Dados independentes do Projeto Mexicano de Migração, do qual sou co-fundador e co-diretor, também mostram que a taxa de migração ilegal do México está se aproximando de zero. 

A migração ilegal do México na verdade começou a declinar por volta de 2000 e despencou depois da grande recessão que ocorreu em 2008. 

Isso se deve não por causa da aplicação de controle de fronteiras dos EUA, mas por causa da transição de fertilidade no México. O número de filhos por mulher diminuiu 68% entre 1960 e 2016. 

Como resultado, o México tornou-se uma sociedade em envelhecimento. A idade média da população subiu de 16,6 em 1970 para 28,6 hoje. 

Como outros processos demográficos, como fertilidade e mortalidade, a migração é altamente dependente da idade. A probabilidade de alguém migrar para fora de um país aumenta rapidamente durante a adolescência, atinge o pico nos 20 e poucos anos e depois cai rapidamente durante os 30. Com a idade média no México aumentando e o número de pessoas entre 15 e 30 anos diminuindo, a probabilidade de os mexicanos migrarem para os EUA sem autorização se move rapidamente em direção a zero. 

Hoje, as apreensões de mexicanos na fronteira atingiram os menores níveis, deixando os centro-americanos como o principal grupo que procura entrar ilegalmente nos EUA. 

Migração da América Central 

Diferentemente dos imigrantes do México, a maioria dos centro-americanos não vai para os Estados Unidos por questões econômicas. Eles são famílias ou menores que estão viajando sem seus pais. Segundo dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, entre as famílias apreendidas na fronteira sudoeste em 2017, 80% eram de El Salvador, Guatemala ou Honduras. Entre as crianças desacompanhadas, 95% eram dessas nações. 

Oficiais do governo e parte da imprensa fizeram parecer que houve aumento no número de prisões na fronteira desde o ano passado. Flutuações mensais são normais. Os ligeiros aumentos entre 2017 e 2018 obscurecem o fato de que a tendência das apreensões nas fronteiras tem diminuído constantemente. 

Em 2000, 1,6 milhão de imigrantes foram detidos ao longo da fronteira, mas em 2017 o número era de apenas 304 mil. 

Essa quantidade pode parecer muito, mas é o menor número de apreensões desde 1970, quando a Patrulha da Fronteira tinha apenas cerca de 1.600 policiais. Hoje, existem mais de 19.000 policiais. De fato, o número de apreensões por funcionário está no nível mais baixo desde 1943. 

Embora as apreensões até maio de 2018 estejam maiores do que no mesmo período de 2017, a diferença é pequena. Até maio deste ano, houve 252 mil apreensões, em comparação com as 225 mil até maio do ano passado (o ano fiscal dos EUA começa em 1º de Outubro e termina em 30 de Setembro). 

Escapando da guerra civil 

Antes de 1980, o fluxo de migrantes centro-americanos para os EUA era pequeno. A migração legal da região totalizou 135.000 durante a década de 1970, mas aumentou entre 1980 e 2010. 

Cerca de 80% dos que ingressaram desde 1980 eram de El Salvador, Guatemala e Honduras, locais onde a administração Reagan iniciou sua guerra contra o regime sandinista socialista da Nicarágua. Os nicaraguenses foram acolhidos como refugiados, mas migrantes de El Salvador, Guatemala e Honduras politicamente não podiam ser admitidos como refugiados ou asilados com status legal, já que estavam fugindo de países com regimes de direita, aliados aos EUA.

Como resultado, o número de migrantes ilegais dessas nações aumentou de dezenas de milhares em 1980 para cerca de 1,5 milhão em 2015. 

Durante a década de 1980, eles deixaram essas nações para escapar da guerra civil desencadeada pela intervenção dos EUA. Eles continuaram a migrar nos anos 90 porque as guerras haviam destruído suas economias e introduzido a violência endêmica de gangues na região. Em 1979, o PIB per capita naqueles países era de 80% em relação Costa Rica e Panamá. Hoje, a proporção é de apenas 46%. 

A violência das gangues também se originou diretamente da intervenção dos EUA. A famigerada gangue MS-13 foi formada em Los Angeles entre jovens salvadorenhos que estavam à deriva e desempregados, sem status legal. A taxa de homicídios em El Salvador, Guatemala e Honduras é de cerca de 70 por 100.000 pessoas. 

Em termos de números, não há "crise" na fronteira. A migração ilegal do México acabou, e as entradas irregulares de pessoas de El Salvador, Guatemala e Honduras são pequenas para os padrões históricos. 

Se houver uma crise, é, na minha opinião, uma crise de direitos humanos. Famílias e crianças que buscam refúgio de condições horrendas nos países onde nasceram estão sendo deportadas ilegalmente ou sendo presas como criminosas, em vez de terem seus pedidos de asilo considerados e julgados.

*Douglas Massey é professor de sociologia da Universidade de Princeton.

The Conversation
©2018 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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