Equipes médicas checam temperatura de moradores de Wuhan, na China| Foto: Hector RETAMAL/AFP
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Há 18 anos, quando houve uma epidemia de coronavírus na China, o governo comunista foi amplamente criticado pela comunidade internacional por suas tentativas de abafar a gravidade e a propagação da doença que ficou conhecida como síndrome respiratória aguda grave (Sars) e matou quase 800 pessoas. Quando o surto de um novo coronavírus voltou a assombrar o país em janeiro de 2020, momento em que a economia chinesa está profundamente integrada ao resto do mundo, o presidente Xi Jinping quis mostrar que, desta vez, faria diferente. Para evitar julgamentos negativos e, principalmente, efeitos deteriorantes para a economia do país, o governo central compartilhou dados sobre o novo coronavírus, se engajou com equipes estrangeiras na busca por uma vacina, abriu o país para uma parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e tem emitido relatórios diários com o número de casos confirmados e mortes.

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Contudo, muitas das medidas adotadas pelas autoridades chinesas estão sendo questionadas - até mesmo a suposta prontidão do governo central em combater a propagação do vírus. Líderes locais foram afastados sob suspeita de tentar esconder do governo central os casos iniciais do novo coronavírus e reprimir os médicos que primeiro alertaram sobre a doença, batizada de Covid-19. Neste fim de semana, porém, a divulgação de um documento interno do Partido Comunista Chinês revelou que Xi já sabia do surto em 7 de janeiro, duas semanas antes de seu primeiro discurso público sobre a doença e enquanto as autoridades locais de Wuhan ainda minimizavam a extensão da crise de saúde, segundo reportagem do New York Times.

Confira, abaixo, seis medidas adotadas pelo governo chinês depois que o Covid-19 se tornou uma preocupação nacional.

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1. Bloqueio de cidades

Uma das primeiras medidas adotadas pelo governo da China para conter a propagação do coronavírus foi a restrição de mobilidade nas cidades que estão no centro da epidemia. Em 23 de janeiro foram limitadas entradas e saídas de pessoas de Wuhan, capital de Hubei onde vivem 11 milhões de habitantes, com o fechamento de estações de trem, de ônibus e do aeroporto local. A circulação de veículos privados também foi restringida. Nos dias seguintes essas determinações foram aplicadas para municípios do entorno.

Com a propagação do coronavírus pelo país, na sexta-feira (14), pelo menos 48 cidades em quatro províncias chinesas estavam limitando a circulação de pessoas, segundo informou a agência Reuters. Em algumas localidades os moradores precisam se registrar antes de entrar e sair; outras limitaram acesso a rodovias, ferrovias e transporte público. Mais de 700 milhões de chineses, quase metade da população do país, estão vivendo sob algum tipo de restrição de mobilidade.

Alguns especialistas, porém, afirmam que as restrições podem ter chegado tarde demais - uma indicação é que 5 milhões de pessoas saíram de Wuhan antes de a limitação ser imposta. Ou que elas podem piorar a situação ao dificultar acesso a alimentos, combustível, remédios e suprimentos médicos.

2. Quarentena

Já em fevereiro e sem sinais de queda no número de casos de coronavírus, autoridades de Wuhan começaram a enviar agentes de saúde de casa em casa para verificar se os moradores estavam com febre. Segundo o jornal britânico The Guardian, aqueles que apresentam sintomas são levados em ônibus e colocados em quarentena em estádios e centros de exibição que estão servindo como “depósitos” de doentes. Sun Chunlan, vice-primeira-ministra da China, disse que a cidade e o país estão enfrentando “condições de guerra” por causa do novo coronavírus.

O jornal New York Times relatou histórias de pessoas que foram negligenciadas pelo poder público depois de serem colocadas em isolamento. Uma mulher contou que, durante a quarentena, sua tia não conseguiu acesso a medicamentos que já tomava para tratar problemas do coração. Um homem disse que não recebeu suporte médico enquanto estava isolado em um hotel e que não conseguiu sair de lá para ir a um hospital. A família de outro paciente disse que ele ficou em coma por dois dias em um abrigo de isolamento temporário e, mesmo assim, não conseguiu vaga em um hospital e acabou falecendo.

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Outras cidades de Hubei com alto número de casos também foram colocadas sob as mesmas medidas restritivas de Wuhan.

3. Alerta com drones

O uso obrigatório de máscaras foi a primeira medida adotada pelo governo de Wuhan para conter o coronavírus - e posteriormente por outras cidades. Para fazer valer a nova regra, autoridades policiais lançaram mão de drones com alto-falantes para fiscalizar a população. Vídeos que circulam na internet mostram drones avisando moradores a continuar usando as máscaras ou, no caso de estarem sem, indicando que deveriam ir para casa ou colocar uma o mais rápido possível. Nas província de Guangdong, policiais estavam usando drones para orientar os cidadãos a cadastrar suas informações de saúde em um site do governo chinês.

4. Construção de hospitais temporários

Enquanto os primeiros casos de coronavírus eram registrados além das fronteiras chinesas, o governo chinês colocou em operação uma força-tarefa gigantesca para a construção de  dois hospitais temporários em Wuhan, que, juntos, teriam a capacidade para atender 2,6 mil pacientes. Eles foram concluídos em apenas 12 dias e centenas de médicos de diferentes regiões do país foram enviados para Wuhan para tratar os infectados.

“Missão impossível se tornou possível”, noticiou a agência estatal chinesa Xinhua quando um dos centros temporários foi entregue para uso - apenas dez dias do início das obras.

Porém, uma matéria do Business Insider, com base em dados oficiais do governo chinês, mostrou que, na semana passada, apenas um deles estava funcionando em sua totalidade.

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5. Suspensão da venda de remédios

Outra medida arriscada, adotada por pelo menos três cidades, foi a suspensão das vendas de medicamentos para febre e tosse, dois dos principais sintomas do coronavírus, conforme noticiado pela publicação americana Quartz. O objetivo seria incentivar as pessoas a procurar hospitais para tratamento em vez de se automedicar. Mais de 18 milhões de pessoas estão vivendo sob essas regras em Hangzhou, Ningbo e Sanya.

6. Lavagem de dinheiro

Como ação de prevenção, a China quer literalmente limpar o dinheiro em circulação no país para evitar contaminação por meio do papel moeda. A partir de uma determinação do Banco Central, os bancos chineses terão que desinfetar as notas de yuan com luz ultravioleta e altas temperaturas.Elas ainda ficarão armazenadas de sete a 14 dias antes de serem colocadas de volta em circulação. O dinheiro que vem de áreas de alto risco de contaminação, como hospitais, será enviado ao Banco Central e destruído. Para compensar essa retirada, a instituição vai liberar grandes quantidades de dinheiro novo.

Além dessas medidas, muitos restaurantes, shoppings, cinemas, museus e resorts turísticos na China estão fechados para evitar aglomerações, segundo a agência estatal Xinhua. Indústrias também suspenderam as atividades para evitar contaminação.

Alegando ter controlado 99% dos casos confirmados de coronavírus em seu território, a China defende que "graças aos sacrifícios auto-impostos, o mundo até agora não viu um grande surto global".