Quase 70.000 africânderes (sul-africanos brancos descendentes de colonos holandeses) expressaram interesse em se mudar para os Estados Unidos depois que o presidente Donald Trump lhes ofereceu refúgio, após acusar o governo da África do Sul de violar seus direitos e expropriar suas terras.
O presidente da Câmara de Comércio da África do Sul nos EUA (Saccusa), Neil Diamond, viajou para o país africano esta semana para entregar à embaixada dos EUA em Pretória a lista de 67.042 pessoas que registraram interesse na oferta de Trump até agora, segundo informou a imprensa local na quarta-feira à noite.
"Era muito importante que a Câmara de Comércio da África do Sul nos EUA viajasse para a África do Sul para que pudéssemos compartilhar os detalhes das pessoas que se registraram em nosso site para receber mais informações e expressar interesse no programa de refugiados contido na ordem executiva do presidente Trump de 7 de fevereiro de 2025", disse Diamond.
"Muitos deles mencionaram suas preocupações com a reforma agrária e a forma como percebem seu tratamento no país", acrescentou o presidente da Saccusa, detalhando que a maioria dos requerentes têm entre 25 e 45 anos.
Diamond afirmou que a organização não está pressionando pela saída de cidadãos sul-africanos e ressaltou que, assim que a lista de interessados for enviada à missão diplomática dos EUA, se distanciará do assunto.
No último dia 7 de fevereiro, Trump ordenou o congelamento por tempo indefinido de toda a ajuda à África do Sul após acusar o governo de confiscar terras da minoria branca africâner e prejudicar Israel com sua acusação de genocídio perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).
O presidente americano se referia à controversa Lei de Expropriação da África do Sul, promulgada no último mês de janeiro, que prevê a expropriação de terras por “interesse público” no país africano, sem indenização em alguns casos.
A ordem executiva de Trump, que desencadeou uma crise diplomática entre Washington e Pretória, também incluía a promoção do reassentamento de "refugiados africânderes" nos Estados Unidos.
Embora a postura de Trump e a pressão exercida sobre o governo sul-africano por sua administração tenham sido bem recebidas por alguns grupos da sociedade, como o AfriForum, outras vozes da população africâner rejeitaram o bloqueio de ajuda ao país e a oferta de refúgio.
A expropriação de terras, uma questão altamente sensível na África do Sul, é vista como uma ferramenta para “remediar a desigualdade racial” que persiste como resultado do regime segregacionista do apartheid (1948-1994).