Sabemos para onde olhar nas próximas semanas, mas não temos ideia do que veremos. No entanto, especialistas, a mídia e a esquerda parecem tontos de alegria por suas pesquisas mostrarem uma queda nas intenções de voto para o presidente Donald Trump, como se não tivessem aprendido nada nas eleições de 2016. Mas, na verdade, o ciclo de notícias nos próximos três meses pode muito bem favorecer Trump - um cenário que seus oponentes, sem dúvida, consideram absurdos nesses dias de agosto.
1. O vírus
O coronavírus é como um incêndio florestal fora de controle. Ele morre e depois explode sem muita previsibilidade - ridicularizando os especialistas de ontem, provando-os mais uma vez os gênios de hoje, apenas para torná-los idiotas amanhã.
Trump estava bem nas pesquisas em maio, quando parecia que o vírus malvado estava diminuindo. Mas depois que o público baixou a guarda, ou depois que os manifestantes se reuniram durante grande parte de junho em manifestações massivas que eram zombarias politicamente corretas do distanciamento social, máscaras e álcool gel, ou depois que o vírus teve seu segundo pico natural, a situação pegou fogo novamente - e no exterior também.
Se em outubro os tratamentos melhorarem, as vacinas estiverem em testes finais, e os cuidados forem aprimorados para reduzir a taxa de mortalidade, o presidente será recompensado por conduzir a nação em meio ao desastre. Se os casos de Covid-19 aumentarem novamente, ou se o vírus sofrer uma mutação mais letal, ou se a taxa de letalidade subir em outubro, ele será responsabilizado nas urnas. Em certo sentido, o curso do vírus está além do controle humano; a chave, no entanto, é como o presidente reage às suas metamorfoses. Se bem, as críticas de Biden parecerão estridentes; se não tão bem, as diretrizes e políticas de Biden para o coronavírus, sempre inversas às do presidente Trump, parecerão sóbrias e criteriosas.
2. Lockdown/quarentena
Dependendo de como as perguntas das pesquisa de opinião são estruturadas, a maioria dos americanos demonstra que quer se arriscar e voltar ao trabalho, ou se preocupa pouco com os dados e simplesmente tem medo da Covid-19.
Se as escolas permanecerem fechadas, milhões de crianças sofrerão danos incalculáveis e milhões de pais não poderão voltar totalmente ao trabalho. As consequências médicas e financeiras terão implicações econômicas coletivas graves. Se as escolas reabrirem, e o vírus for gerenciável, a administração será vista como prudente. Se o contágio aumentar de alguma forma durante o retorno às escolas - ou se essa narrativa for adotada pela imprensa - Trump será chamado de imprudente e apelidado de “Maria Tifóide”. As políticas virais de Biden são simplesmente o oposto do que Trump faz. Portanto, os riscos de Biden são que, quando o vírus diminuir, ele já terá cedido a responsabilidade a Trump - e, portanto, creditado o presidente - por sua diminuição.
3. Economia
É difícil ver como a economia pode voltar a crescer antes do dia das eleições, pelo menos até a imunidade de rebanho aumentar ou o vírus diminuir naturalmente, se tornar uma doença tratável ou ser eliminado por uma vacina - ou por todos esses fatores. A eleição pode depender de que alguma dessas variáveis seja viável até novembro. Se forem, as pessoas gastarão e produzirão com confiança de que o fim está à vista; se o vírus ainda for considerado letal e aterrorizante, a economia permanecerá sem variações - no momento de um déficit anual de US$ 4 trilhões ou mais.
Mais uma vez, a estratégia de Biden, de deixar Trump dominar as questões sobre o vírus, as quarentenas e a economia, pode parecer sábia neste momento, dado o caos que está sendo verão do hemisfério norte. Mas 90 dias é muito tempo, e todas as três tendências podem reverter o curso e melhorar, o que, de acordo com a lógica do próprio Biden, seria um feito de Trump.
4. Tumultos
Estamos chegando ao pico do jacobinismo, o ponto em que o público está ficando cansado dos Antifa e do Black Lives Matter e cético em relação à negação surreal dos Democratas, em que a violência sem fim, vandalismo, saques, assassinatos, ferimentos e derrubadas de estátua são descritos como “protestos pacíficos intensificados” ou o trabalho de apenas "um pequeno número de infratores". A continuação da anarquia e do caos está sendo alavancada politicamente para criar uma sensação geral de agitação civil supostamente causada pela natureza controversa de Trump. A estratégia democrática é ter protestos violentos o suficiente para assustar o público, mas não violentos o suficiente para destruir a vida cotidiana, para que os eleitores indecisos entrem em uma posição fetal coletiva, com as mãos nos ouvidos e gritem que, se votarem para tirar Trump da presidência, "tudo vai passar".
Mas se o Antifa/BLM intensificar ou continuar a violência – incendiar Bíblias é a mais recente adição ao seu repertório – se mais policiais forem mortos ou feridos, e os democratas continuam negando o óbvio, pode ser um desastre para a esquerda. Dizer que a violência é um "mito" é um mito em que nenhuma pessoa sã acredita. Biden não tem ideia de quantas pessoas do centro da cidade dependem de uma força policial financiada, quantos no interior do país querem assistir a seus esportes sem sermões, quantos suburbanos gostavam da estátua de Colombo ou de Grant ou de Drake que foram derrubadas em suas cidades e quantos trabalhadores democratas não gostam de ter sua via expressa fechada por adolescentes desagradáveis e prolongados do Antifa. Existem tantas facetas da revolução cultural que a política democrática de aceitá-las em sua totalidade pode alienar muitos eleitores.
5. As acusações de Durham
Os democratas estão paranóicos de que o procurador John Durham possa indiciar funcionários do FBI ou do Departamento de Justiça - e recorrer a um ou dois que testemunharão contra seus pares por imunidade - criando um efeito bumerangue sobre a farsa de conluio da Rússia antes da eleição. (Durham investiga a atuação de agentes federais que no governo de Barack Obama, em 2016, abriram uma investigação contra a campanha do então candidato Donald Trump por suposto conluio com russos - caso que Trump chama de Obamagate).
Dependendo de quem e quantos Durham vai indiciar, e a quantidade de informações incriminadoras que ele conseguirá, Trump será capaz de lembrar ao público a corrupção sem precedentes no governo Obama e o papel de Joe Biden em ajudar e favorecer o abuso constitucional.
Se Durham não indicar ninguém antes da eleição, o público vai dar de ombros para o assunto, ainda considerando que a investigação da campanha de Trump era uma farsa, mas considerando-a mais como uma trapalhada do que uma ameaça existencial à presidência de uma república constitucional. Mas se durante os últimos 30 dias do ciclo eleitoral, as acusações de Durham revelarem ilegalidades em série, então Biden - um membro do círculo anti-Trump interno de Obama/FBI/DOJ - sofrerá uma hemorragia.
6. Desafios cognitivos de Joe Biden
No seu porão, Joe Biden, magistralmente, foi capaz de conduzir uma campanha virtual e coletivas de imprensa ocasionais com algumas perguntas pré-selecionadas para repórteres.
Ele supõe que não haverá convenção, discursos em público, entrevistas hostis – e reza para que não haja nenhum debate. Biden pode conseguir tudo isso, dependendo do curso do vírus nos próximos 90 dias. Se em tais situações roteirizadas ele parece apenas ocasionalmente confuso - como durante a temporada primária encurtada, quando ele se perdia ou às vezes mudava de assunto - sua saúde provavelmente será uma questão importante, mas não decisiva.
No entanto, se em outubro Biden estiver em campanha no estilo tradicional, dando entrevistas de improviso e imitando a onipresença de Trump, então há chances reais de momentos cruciais de confusão absoluta que poderiam ser determinantes - dado que sua onipresença não poderia ser coberta pela mídia pró-Biden.
A chave aqui é assistir às pesquisas eleitorais de Trump. Se permanecerem com 42-43 de aprovação nas médias do RealClearPolitics, Biden continuará sendo um candidato virtual. Se Trump se aproximar da faixa favorável de 45 a 48, Biden será forçado a emergir, e isso poderá se tornar catastrófico. Lembre-se, Trump pode ser nervoso, polêmico e impopular, mas selecionar Biden como candidato foi a atitude mais imprudente que os democratas fizeram em uma geração. Como Churchill disse sobre a única figura na Primeira Guerra Mundial que governou o destino da frota onipotente britânica, almirante Jellicoe: "Jellicoe era o único homem de ambos os lados que poderia perder a guerra em uma tarde". Da mesma forma, Biden é o único candidato que pode colocar tudo a perder para o seu partido em mais ou menos uma hora.
7. A escolha da vice democrata
Biden está em um dilema. Ele pode escolher entre mulheres afro-americanas bem-sucedidas, como Susan Rice e Kamala Harris – ambas provavelmente já passaram por um escrutínio e são nomes conhecidos. Antes da atual revolução cultural, elas eram consideradas democratas de esquerda, mas no modo Hillary Clinton e não na escola extremista de Bernie Sanders. Então, elas seriam as escolhas mais seguras. Mas elas iriam satisfazer a ala Sanders? E no passado, elas tinham boas relações com Biden?
Ou será que Biden terá que seguir o caminho completo do BLM com Stacey Abrams, Karen Bass ou alguma outra esquerdista incondicional, com um passado esquerdista ainda mais difícil, que cimentará sua coalizão, mas afastará os eleitores indecisos - especialmente se a violência continuar e for justificada, se não apoiada, por sua companheira de chapa? Os republicanos, sem dúvida, preferem o último cenário. E quanto mais esquerdista for a escolha, maior será a probabilidade de Biden parecer à mercê da ala militante manipuladora Antifa/BLM do partido - como apontou a encorajada Angela Davis.
A atual campanha da esquerda, “Settling for Biden” (Contentando-se com Biden), é uma das mais contraproducentes da história, porque confirma o cinismo da extrema esquerda e a falta de entusiasmo pelo medíocre Biden. Isso sugere claramente que sua eleição seria apenas uma porta para a tomada de poder pela esquerda mais tarde. Em outras palavras, a escolha da vice-presidente de Biden pode ser uma opção que só resultará em perdas para os democratas. O BLM está em alta agora, mas o movimento e o Antifa, com a ajuda da mídia e dos esportes profissionais, estão afastando milhões de pessoas com acusações e difamações ininterruptas. E tudo isso poderia culminar em novembro.
8. Tuítes imprevisíveis de Trump
Trump está frustrado por ter sido alvo de um golpe que aconteceu em câmera lenta durante três anos: o processo das urnas, o impeachment 1.0 fracassado, a cláusula de emolumentos, a farsa da Lei Logan, a perseguição sobre o conluio, a Ucrânia e o impeachment, que agora está sendo seguido por uma avalanche de críticas que Trump é o propagador da peste, o mestre do bloqueio, o destruidor econômico.
Por sua angústia, ele tuitou e gritou - e perguntou erroneamente sobre um possível adiamento da eleição, devido à provável fraude que se seguiria a uma eleição sem precedentes nas urnas. Mas dessa forma ele pode alienar o eleitor maduro e indeciso que estaria pronto para escolhê-lo
Por outro lado, quando Trump fala enfaticamente da necessidade de a polícia proteger os vulneráveis ou se ater aos detalhes do contágio em sua coletiva de imprensa, ele gradualmente recupera popularidade.
Se ele deixar que o ciclo natural de notícias faça seu trabalho, ele redescobrirá que o vento está soprando a seu favor. De fato, a evidência dessa mudança já é evidente. Mas com o passar do tempo, Trump quase não tem margem de erro e deve manter a disciplina o tempo inteiro para permitir que tudo isso ocorra.
Esses pontos de virada estão contra Trump desde meados de junho. Mas eles estão começando a mudar, muito lenta e insidiosamente. E se eles continuarem, e Trump os deixar continuar, até novembro quase todos estarão a favor de Trump.
* Victor Davis Hanson é o membro sênior na Instituição Hoover e autor de The Case for Trump.
© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.