Sul-africanos aguardam na fila gigantesca para votar em Johannesburgo: mesmo com voto facultativo, comparecimento foi alto| Foto: AFP

Entrevista: Orgulho amargo

Algo engraçado aconteceu comigo ontem. Depois de votar na quarta eleição democrática da África do Sul desde 1994, ofereci um almoço em minha casa. Pela primeira vez em 15 anos, desde que os negros ganharam o direito ao voto, nenhuma pessoa à mesa votou para o partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA). Por sua vez, os ex-ativistas – alguns dos quais perderam parentes na luta contra o apartheid – decidiram que eles dariam seus votos a um dos outros 25 partidos.

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Johannesburgo - Filas gigantescas – retilíneas, onduladas, em formato de meia-lua e até formando quadrados perfeitos – foram ontem a imagem da eleição sul-africana, a quarta desde o fim do apartheid, há 15 anos.

Nem a face sorridente de Nelson Mandela, votando com a ajuda de um neto, nem os gritinhos de alegria do arcebispo Desmond Tutu dentro da seção eleitoral na Cidade do Cabo foram suficientes para apagar a visão de milhares de pessoas esperando por até cinco horas no frio, pacientemente. O comparecimento foi de cerca de 80% entre os 23 milhões de eleitores – o voto é facultativo.

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O resultado final é aguardado para o fim de semana, mas os primeiros resultados parciais já devem indicar hoje a vitória fácil de Jacob Zuma, do Congresso Nacional Africano.

Em alguns locais o clima foi tenso, com policiamento reforçado, mas os incidentes foram pontuais. No mais sério, o chefe de uma seção eleitoral na província de KwaZulu-Natal foi preso após terem sido encontradas cem cédulas pré-marcadas para o Partido Inkhata.

Sistema arcaico

No geral, o sentimento era de resignação com o arcaico sistema de votação sul-africano, baseado em poucas seções eleitorais, poucas cabines de votação e cédulas enormes. Eleitores, sobretudo os mais velhos, tinham dificuldade em encaixá-la nas urnas de papelão.

Máquina

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Zuma deve ser eleito com entre 60% e 70% dos votos, enquanto os dois principais partidos de oposição, a Aliança Democrática e o Congresso do Povo, juntos, devem ter entre 20% e 30%. A popularidade do CNA deve-se à sua aura de partido da libertação da segregação racial e a uma bem engrenada máquina partidária.

Em frente a uma seção eleitoral na favela de Alexandra, o militante do CNA Nathi Nkabinde pediu desculpas para interromper uma conversa com a reportagem. Precisava passar uma mensagem de texto de seu celular para o escritório regional do partido, informando que, até aquele momento, 10 h, 197 pessoas haviam votado na eleição nacional e 196 na provincial (as urnas são diferentes). O crédito foi pago pelo partido para milhares de pessoas.

A boca de urna é tolerada na África do Sul, mas com regras. Numa seção, duas mesinhas do outro lado da calçada tinham partidários do CNA e do Partido Inkhata tentando atrair eleitores para um último esforço de convencimento. Irritado com o fato de a mesa adversária ter uma grande bandeira, o representante do CNA foi reclamar com o chefe da seção, que o autorizou a colocar a sua.