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Biologia

8,7 milhões de espécies

 | Ilustração: Felipe Lima
(Foto: Ilustração: Felipe Lima)

Nas bases das montanhas dos Andes vive um morcego do tamanho de uma framboesa. Em Cin­­gapura, há um verme nematódeo que habita somente os pulmões do lagarto Calotes versicolor.

O morcego e o verme têm algo em comum: Ambos são novos pa­­ra a ciência. Cada um deles recebeu recentemente seu nome científico: Myotis diminutus para o morcego e Rhabdias singaporensis para o verme.

Com certeza, essas não são as duas últimas espécies que os cientistas irão descobrir. A cada ano, pesquisadores relatam mais de 15 mil novas espécies, e seu trabalho não apresenta sinais de fadiga. "Pergunte a qualquer taxonomista num museu, e eles lhe dirão que existem centenas de espécies esperando para serem descobertas," diz Camilo Mora, ecologista marinho da Universidade do Havaí.

Cientistas catalogaram e deram nome a 1,3 milhão de espécies. Quantas espécies ainda existem para serem descobertas é uma questão que tem pairado como uma nuvem sobre as cabeças de taxonomistas há dois séculos.

"É estarrecedor que não saibamos a mais básica das coisas sobre a vida", disse Boris Worm, biólogo marinho da Universidade de Da­­lhousie na Nova Escócia.

Na terça-feira, o Dr. Worm, o Dr. Mora e seus colegas apresentaram a mais recente estimativa do número de espécies existentes, com base num novo método que eles mesmos desenvolveram. Eles calculam haver 8,7 milhões de es­­pécies no planeta, 1,3 milhão para mais ou para menos.

O novo artigo, publicado no periódico PLoS Biology, está atraindo fortes reações de outros especialistas. "Na minha opinião, este é um artigo muito importante," disse Angela Brandt, bióloga marinha da Universidade de Hamburgo na Alemanha. Mas os críticos dizem que o método no novo artigo não funciona, e que a verdadeira diversidade da Terra é ainda mais vasta.

Em 1833, um entomólogo britânico chamado John Obadiah Westwood fez a primeira estimativa conhecida da biodiversidade global, conjeturando quantas es­­pécies de insetos viviam em cada espécie de planta na Ingla­­terra, e depois extrapolando esse número para o planeta inteiro.

"Se dissermos 400 mil, talvez não estejamos muito distantes da verdade," escreveu. Hoje, os cientistas sabem que a estimativa de Westwood é pequena demais. Eles já encontraram mais de um milhão de espécies de insetos, e sua taxa anual de espécies descobertas não demonstra nenhum sinal de estar diminuindo.

Os pequenos

Nas décadas recentes, os cientistas têm procurado por maneiras me­­lhores de determinar quantas es­­pécies ainda faltam para ser en­­contradas. Em 1988, Robert May, um biólogo evolucionista da Uni­­versidade de Oxford, observou que a diversidade de animais terrestres aumenta conforme eles se tornam menores.

May raciocinou que nós provavelmente já descobrimos a maioria das espécies de grandes animais, como mamíferos e aves, de­­pois usou esse fato para calcular a diversidade de animais menores. Ele acabou com uma estimativa de 10 a 50 milhões de espécies de animais terrestres.

Outras estimativas já variaram entre números tão baixos quanto 3 milhões para até 100 milhões. Dr. Mora e seus colegas acreditam que todas essas estimativas, de um modo ou de outro, apresentavam falhas. A questão mais séria é que não havia como validar os métodos utilizados para garantir sua confiabilidade.

Para a nova estimativa, os cientistas criaram um método próprio, baseado em como os taxonomistas classificam as espécies. Cada espécie pertence a um grupo maior chamado de gênero, que pertence a um grupo maior chamado de família, e assim por diante. Nós, humanos, por exemplo, pertencemos à classe dos mamíferos, junto de outras cerca de 5,5 mil espécies.

Tradução: de Adriano Scandolara.

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