| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Entomólogo aponta falha na estimativa

Terry Erwin, entomólogo do Instituto Smithsonian, acredita que haja uma grande falha no estudo do pesquisador Camilo Mora. Não há motivo para se assumir que a diversidade em grupos pouco estudados seguirá as regras dos grupos bem estudados. "Estão medindo atividade humana, não biodiversidade," disse.

David Pollock, um biólogo evolucionista da Universidade de Colorado que estuda fungos – um grupo particularmente pouco estudado – concorda. "Isso parece ser uma abordagem incrivelmente sem fundamento", disse. Há 43.271 espécies catalogadas de fungos, que servem de base para Mora e seus colegas estimarem a existência de 660 mil espécies de fungos na Terra. Mas outros estudos sobre a diversidade de fungos sugerem que o nú­­mero possa chegar a 5,1 milhão de espécies.

Os autores do novo estudo re­­conhecem que seu método não funciona bem com bactérias.

Os cientistas estão apenas co­­meçando a realmente explorar a biodiversidade dos micróbios e estão encontrando grupos de bactérias de alto nível num ritmo ace­­lerado.

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Nas bases das montanhas dos Andes vive um morcego do tamanho de uma framboesa. Em Cin­­gapura, há um verme nematódeo que habita somente os pulmões do lagarto Calotes versicolor.

O morcego e o verme têm algo em comum: Ambos são novos pa­­ra a ciência. Cada um deles recebeu recentemente seu nome científico: Myotis diminutus para o morcego e Rhabdias singaporensis para o verme.

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Com certeza, essas não são as duas últimas espécies que os cientistas irão descobrir. A cada ano, pesquisadores relatam mais de 15 mil novas espécies, e seu trabalho não apresenta sinais de fadiga. "Pergunte a qualquer taxonomista num museu, e eles lhe dirão que existem centenas de espécies esperando para serem descobertas," diz Camilo Mora, ecologista marinho da Universidade do Havaí.

Cientistas catalogaram e deram nome a 1,3 milhão de espécies. Quantas espécies ainda existem para serem descobertas é uma questão que tem pairado como uma nuvem sobre as cabeças de taxonomistas há dois séculos.

"É estarrecedor que não saibamos a mais básica das coisas sobre a vida", disse Boris Worm, biólogo marinho da Universidade de Da­­lhousie na Nova Escócia.

Na terça-feira, o Dr. Worm, o Dr. Mora e seus colegas apresentaram a mais recente estimativa do número de espécies existentes, com base num novo método que eles mesmos desenvolveram. Eles calculam haver 8,7 milhões de es­­pécies no planeta, 1,3 milhão para mais ou para menos.

O novo artigo, publicado no periódico PLoS Biology, está atraindo fortes reações de outros especialistas. "Na minha opinião, este é um artigo muito importante," disse Angela Brandt, bióloga marinha da Universidade de Hamburgo na Alemanha. Mas os críticos dizem que o método no novo artigo não funciona, e que a verdadeira diversidade da Terra é ainda mais vasta.

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Em 1833, um entomólogo britânico chamado John Obadiah Westwood fez a primeira estimativa conhecida da biodiversidade global, conjeturando quantas es­­pécies de insetos viviam em cada espécie de planta na Ingla­­terra, e depois extrapolando esse número para o planeta inteiro.

"Se dissermos 400 mil, talvez não estejamos muito distantes da verdade," escreveu. Hoje, os cientistas sabem que a estimativa de Westwood é pequena demais. Eles já encontraram mais de um milhão de espécies de insetos, e sua taxa anual de espécies descobertas não demonstra nenhum sinal de estar diminuindo.

Os pequenos

Nas décadas recentes, os cientistas têm procurado por maneiras me­­lhores de determinar quantas es­­pécies ainda faltam para ser en­­contradas. Em 1988, Robert May, um biólogo evolucionista da Uni­­versidade de Oxford, observou que a diversidade de animais terrestres aumenta conforme eles se tornam menores.

May raciocinou que nós provavelmente já descobrimos a maioria das espécies de grandes animais, como mamíferos e aves, de­­pois usou esse fato para calcular a diversidade de animais menores. Ele acabou com uma estimativa de 10 a 50 milhões de espécies de animais terrestres.

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Outras estimativas já variaram entre números tão baixos quanto 3 milhões para até 100 milhões. Dr. Mora e seus colegas acreditam que todas essas estimativas, de um modo ou de outro, apresentavam falhas. A questão mais séria é que não havia como validar os métodos utilizados para garantir sua confiabilidade.

Para a nova estimativa, os cientistas criaram um método próprio, baseado em como os taxonomistas classificam as espécies. Cada espécie pertence a um grupo maior chamado de gênero, que pertence a um grupo maior chamado de família, e assim por diante. Nós, humanos, por exemplo, pertencemos à classe dos mamíferos, junto de outras cerca de 5,5 mil espécies.

Tradução: de Adriano Scandolara.