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Celebrado como o Dia da Vitória na Rússia, o 9 de maio foi alvo de apreensão e especulações em todo o mundo durante as últimas semanas. Havia quem apostasse que o presidente russo, Vladimir Putin, clamaria vitória no campo de batalha, declararia uma guerra mais ampla ou talvez até usasse armas nucleares, para acelerar o fim do conflito (ou iniciar a Terceira Guerra Mundial). O discurso de Putin na manhã desta segunda-feira (9) e a intensificação da ação russa na Ucrânia apontam, no entanto, que a guerra está longe de chegar ao fim.
Feriado mais importante do país, comemorado com desfiles militares e fogos de artifício em todo o território, o 9 de maio marca a vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. A “Grande Guerra Patriótica” deixou uma baixa de 27 milhões de pessoas na União Soviética e profundas feridas no sentimento nacional.
No desfile militar na Praça Vermelha, nesta segunda, o presidente russo não deu indicativos de mudança em sua estratégia militar ou de qualquer mobilização mais ampla, como temiam Ucrânia e Ocidente. Dirigindo-se às tropas russas, Putin justificou sua campanha militar como necessária para evitar “uma ameaça que era absolutamente inaceitável para nós (que) foi criada metodicamente perto de nossas fronteiras”. O trecho do discurso foi reproduzido pela agência de notícias Associated Press.
Ele acusou o Ocidente e a Otan de terem preparado uma "invasão dos territórios históricos da Rússia, incluindo a Crimeia", de modo que não teve outra escolha senão realizar um ataque "preventivo" contra a Ucrânia.
“Resultado será alcançado”
Depois de mais de dois meses de guerra, a Rússia ainda não conseguiu tomar a região ucraniana de Donbass, mas Putin garantiu que sua ação vai cumprir os objetivos previstos. "Todos os planos estão sendo implementados. O resultado será alcançado, não há dúvida sobre isso", disse, após o desfile militar.
"Se houvesse uma única oportunidade de resolver este problema (Donbass) por outros meios, pacíficos, é claro que o aceitaríamos, mas eles não nos deixaram esta opção, simplesmente não nos deram", alegou.
Putin participou nesta segunda da marcha do Regimento Imortal, um desfile pelas ruas de Moscou, que também acontece em outras cidades do país, em que os russos carregam fotos de seus parentes que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, ele levou um retrato de seu pai, que foi combatente na Segunda Guerra, segundo imagens distribuídas pelo Kremlin.
Fortes combates
Segundo a agência de notícias Reuters, tropas russas invadiram a usina siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, e intensificaram ataques com mísseis em outras localidades nesta segunda-feira. Putin já havia declarado vitória em Mariupol, no dia 21 de abril, mas preferiu “evitar perdas” militares com a tomada da usina, onde se escondiam cerca de 2 mil militares ucranianos.
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse na segunda-feira que forças russas apoiadas por tanques e artilharia estavam realizando "operações de assalto" no local, o que a Rússia nega. O controle da siderúrgica seria uma vitória simbólica para marcar o 9 de maio, uma vez que os russos ainda não conseguiram tomar nenhuma grande cidade ucraniana.
Autoridades ucranianas também relataram fortes combates em andamento no leste do país. Quatro mísseis Onyx de alta precisão foram disparados da Crimeia, controlada pela Rússia, atingindo Odessa, no sudoeste da Ucrânia. O governador de Mykolaiv, também no sudoeste, afirmou que os ataques noturnos foram muito fortes.
Vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse que os russos tentam avançar no leste da Ucrânia, onde a situação é "difícil". O medo de bombardeios russos nesta segunda-feira também motivou cuidados por parte do poder público. Em Zaporizhzhia, cerca de 230 quilômetros a noroeste de Mariupol, um toque de recolher foi mantido ao longo de todo o dia.