Mas, apesar de o país finalmente ter assumido que Khashoggi morreu no interior da repartição diplomática, como alegavam as autoridades turcas, a explicação saudita de como isto aconteceu entra em conflito com informações de outras fontes, e detalhes importantes parecem estar faltando.
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Abaixo estão nove perguntas que os sauditas ainda precisam responder.
1. Khashoggi estava realmente considerando voltar à Arábia Saudita?
O comunicado saudita disse que os "suspeitos" do assassinato de Khashoggi viajaram para a Turquia para se encontrar com o jornalista, já que ele teria sugerido que seria interessante retornar ao seu país. No entanto, Khashoggi viajou para o consulado com sua noiva, a turca Hatice Cengiz, que disse que seu parceiro estava procurando um documento do governo saudita que lhes permitisse se casar.
O próprio Khashoggi havia dito a amigos que suspeitava de tentativas de atraí-lo de volta ao reino. "Ele disse: 'Você está brincando? Eu não confio neles nem um pouco'", depois de uma dessas tentativas, afirmou Khaled Saffuri, um ativista político árabe-americano, ao Washington Post.
2. Se foi apenas uma discussão, por que pelo menos 15 homens viajaram para Istambul para a reunião?
O relato do governo saudita sugere que, no início, o encontro com Khashoggi no consulado começou como uma discussão e se transformou em "uma briga e uma luta entre alguns dos suspeitos e o cidadão".
No entanto, a Arábia Saudita diz ter detido 18 pessoas por seu envolvimento na morte de Khashoggi e o governo turco vinculou 15 pessoas com Khashoggi, todos cidadãos sauditas, que chegaram ao consulado pouco antes de o jornalista desaparecer e que foram embora horas depois.
Não está claro por que um grupo tão grande de pessoas era necessário para uma discussão sobre um retorno voluntário à Arábia Saudita.
3. Por que esse grupo saudita incluiu um perito forense e membros das forças de segurança?
Novamente, se esta fosse uma simples discussão, pareceria desnecessário enviar membros dos serviços de segurança da Arábia Saudita. No entanto, o Washington Post descobriu que pelo menos 12 membros da suposta equipe de ataque identificada pelas autoridades turcas tinham algum tipo de ligação com os serviços de segurança do reino.
Um dos suspeitos, Salah Muhammed al-Tubaigy, era um perito forense conhecido por ser pioneiro em autópsias rápida.. Bruce Riedel, um ex-funcionário da CIA e pesquisador do Brookings que escreveu um livro sobre as relações entre os americanos e os sauditas, disse que isso lhe chamou muito a atenção. "Não consigo imaginar em uma alternativa de por que você precisaria de um perito forense, a menos que estivesse encobrindo provas de um crime", disse Reidel.
4. O que realmente aconteceu dentro do consulado?
A versão saudita descreve "uma briga" no consulado , o que implica uma disputa física entre os dois lados. No entanto, Khashoggi entrou na repartição diplomática por conta própria e aparentemente encontrou uma equipe de 15 homens, sugerindo, pelo menos, que as partes na disputa não estavam em situação de igualdade.
Acredita-se que as autoridades turcas tenham apresentado para os colegas da CIA uma gravação de áudio feita dentro do consulado que poderia lançar alguma luz sobre o que aconteceu. A gravação poderia fornecer pistas importantes sobre o que aconteceu com Khashoggi, incluindo se sua morte foi intencional ou se foi torturado.
5. O que aconteceu com o corpo de Khashoggi?
Mesmo com a Arábia Saudita admitindo que o jornalista morreu dentro do consulado, a declaração não revelou o que aconteceu com o corpo. As primeiras especulações sugerem que as partes do corpo de Khashoggi podem ter sido retiradas do país, embora as autoridades turcas tenham recentemente pesquisado áreas rurais perto de Istambul. Uma fonte saudita disse à Reuters na sexta-feira que o destino do corpo de Khashoggi não estava claro depois que foi entregue a um "cooperador local".
6. Por que a Arábia Saudita disse que ele deixou o consulado quando não o fez?
Quando Khashoggi não saiu do consulado, sua noiva, Cengiz, que estava esperando do lado de fora, alertou as autoridades turcas. No entanto, as sauditas repetidamente disseram aos repórteres que o jornalista havia deixado o consulado por uma entrada dos fundos logo após sua chegada e que também estavam preocupados com seu destino.
O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman repetiu este discursi em uma entrevista à Bloomberg em 5 de outubro. "Meu entendimento é que ele entrou e saiu depois de alguns minutos ou uma hora", disse o governante de fato saudita. "Não tenho certeza. Estamos investigando isto através do Ministério das Relações Exteriores para ver exatamente o que aconteceu naquele momento."
7. Como poderia o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman não ter conhecimento do assunto?
O relato saudita não dá nenhuma indicação de que o príncipe herdeiro soubesse o que havia acontecido com Khashoggi. Entretanto, ele foi escolhido por seu pai, o rei Salman, para liderar uma comissão projetada para revisar e "modernizar" as operações de inteligência do reino após a morte do jornalista.
Mohammed bin Salman, de 33 anos, é amplamente considerado o governante de fato na Arábia Saudita, e liderou a campanha para modernizar o país. Alguns especialistas também dizem que ele está por trás de uma repressão à liberdade de expressão. "Isso nunca teria acontecido sem a aprovação do príncipe herdeiro. Nunca, nunca, nunca", disse um ex-diplomata de alto escalão dos EUA ao Washington Post pouco depois de Khashoggi desaparecer.
Saud al-Qahtani, conselheiro do príncipe herdeiro, foi um dos demitidos no sábado. Anteriormente, ele esteve atrás de tentativas de atrair Khashoggi de volta à Arábia Saudita, de acordo com autoridades norte-americanas. Após o anúncio do reino no sábado, uma mensagem que ele escreveu no Twitter no ano passado foi compartilhada amplamente nas mídias sociais. "Você acha que eu posso agir sozinho sem receber ordens ou orientações? Eu sou um empregado e um executivo digno de confiança para as ordens do rei e do príncipe herdeiro."
8. Os homens detidos pela Arábia Saudita são, na verdade, os mesmos homens identificados pelas autoridades turcas?
O governo saudita disse que 18 pessoas foram presas. Não está claro, no entanto, se essas pessoas incluíam os mesmos 15 suspeitos identificados pelas autoridades turcas. Uma reportagem do canal de notícias al-Arabiya, de propriedade saudita, havia dito que os 15 eram "turistas" que haviam sido falsamente acusados.
9. Por que demorou 17 dias para a Arábia Saudita dar a sua versão?
Mais de duas semanas se passaram desde que Khashoggi desapareceu. Quaisquer que sejam as respostas para as perguntas desta lista, é notável que demorou tanto tempo para a Arábia Saudita revelar que Khashoggi havia morrido e que quando Riad finalmente admitiu a culpabilidade na morte do jornalista, o fez com uma história que não convence a seus críticos.
Thomas Juneau, especialista em Arábia Saudita da Universidade de Ottawa, escreveu em sua conta no Twitter que a situação expôs a "fraqueza da capacidade administrativa saudita" e que havia "uma impressão geral de que as coisas estavam mal colocadas".
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