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Arco mineiro

A Amazônia esquecida: projeto de Maduro gera desmatamento e violência na floresta venezuelana

Nicolás Maduro em fevereiro de 2016, no lançamento do Arco Mineiro do Orinoco: segundo OCDE, projeto é “experiência descontrolada” e nenhum dos objetivos anunciados foi atingido (Foto: EFE/MIGUEL GUTIÉRREZ)

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Políticos de países europeus e dos Estados Unidos costumam centrar foco no Brasil quando fazem críticas ao desmatamento e a ações ilegais na Amazônia, embora a floresta se estenda por mais outros oito países: Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa).

Na ditadura chavista, a Amazônia tem sido palco de devastação ambiental, criminalidade e violações aos direitos humanos, devido a um projeto malsucedido do regime de Nicolás Maduro lançado em fevereiro de 2016: o Arco Mineiro do Orinoco (AMO), onde está sendo estimulada a extração de ouro, cobre, diamantes e bauxita, entre outros.

Por ironia, o ditador alegou à época que os objetivos eram, além de gerar riquezas para a combalida economia venezuelana, promover conservação ambiental e “derrotar as máfias que exploram e escravizam as comunidades mineiras”.

No ano passado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um relatório que apontou que nenhum dos objetivos anunciados por Maduro quando o AMO foi lançado foi atingido.

“Pelo contrário, o AMO é amplamente considerado como o centro de uma experiência descontrolada e muitas vezes violenta de exploração de recursos, regiões e comunidades”, apontou a organização, que destacou que a exploração de minérios do AMO foi expandida para seis rios adicionais além do Orinoco e que as estimativas de mineradores ativos na região variam de 70 mil a 500 mil pessoas.

Nos últimos 20 anos, cerca de 3,8 mil quilômetros quadrados (cerca de três vezes a área da cidade do Rio de Janeiro) da Amazônia venezuelana foram desmatados, o que não parece muito em números absolutos – a efeito de comparação, somente no ano passado, 4.037 quilômetros quadrados da floresta foram devastados apenas no Pará.

Entretanto, é necessário destacar que a Amazônia venezuelana representa apenas 6% da área total da floresta e cerca de metade da área perdida durante o chavismo foi desmatada nos últimos cinco anos, segundo informações do Financial Times.

“Temos um dos lugares mais ricos do mundo, alguns recursos naturais fantásticos, temos todo um sistema de áreas protegidas que foi criado para proteger esses recursos, mas agora temos o início de uma onda de destruição e não há indicação de que as coisas vão mudar”, disse ao jornal inglês o venezuelano Francisco Dallmeier, diretor do Centro de Conservação e Sustentabilidade do Instituto Smithsonian de Conservação Biológica. Ele classificou o que vem ocorrendo nos últimos anos no sul da Venezuela como “ecocídio”.

Amputações e mineiros enterrados vivos

Em uma entrevista recente veiculada pelo Conselho das Américas, Cristina Burelli, cofundadora e diretora executiva da organização sem fins lucrativos Iniciativa V5, comentou sobre o fato de que a situação da Amazônia venezuelana é pouco comentada em todo o mundo.

“Nós realmente não ouvimos sobre a Amazônia venezuelana porque o país nunca se apresentou como um país amazônico, mas sim como um país petrolífero”, justificou.

“[As comunidades indígenas] estão sofrendo o peso da mineração ilegal. O que está acontecendo é que milhares de garimpeiros ilegais – pessoas em busca de uma maneira de sobreviver – gerenciados por grupos criminosos estão sendo colocados para trabalhar. Isso é escravidão moderna”, alegou Burelli.

Em julho de 2020, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos indicou que o AMO é uma região de violência desenfreada, com relatos de exploração sexual de adolescentes, extorsão e amputação de membros de mineiros como forma de punição, entre outros crimes. Alguns trabalhadores foram enterrados vivos, segundo os testemunhos colhidos pela ONU.

Além disso, o relatório apontou que crianças de até nove anos foram encontradas trabalhando na mineração, que trabalhadores eram forçados a fazer turnos de 12 horas e a descer em poços de mineração sem qualquer equipamento de proteção e também casos de intoxicação por mercúrio, usado para separar o ouro de outros minerais.

As disputas entre grupos criminosos pelo controle dos locais de mineração (nicho explorado também pelas guerrilhas envolvidas no tráfico de drogas) também é fonte de violência: 149 pessoas foram mortas em 16 conflitos entre 2016 e 2020.

Como tudo em que o chavismo põe as mãos, a Amazônia esquecida está virando tragédia.

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