Curitiba Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, pouca gente acreditava que os Estados Unidos tivessem inimigos que representassem uma ameaça real ao país. A idéia caiu por terra com os ataques de 11 de setembro e o terrorismo elevou-se à categoria de maior adversário não só dos EUA, mas de toda a civilização ocidental, como mostraram os ataques posteriores em Londres e Madri. No último fim de semana, a prisão de três homens com nacionalidade da Guiana e um de Trinidad e Tobago, envolvidos num plano de atentado contra o Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova Iorque, indica que as redes terroristas podem estar muito mais disseminadas do que se pensava e atuando em regiões inusitadas, como o Caribe.
Desde janeiro de 2006, os suspeitos, todos muçulmanos, planejavam explodir a tubulação de combustível do aeroporto e pretendiam causar "mais destruição que os atentados de 11 de setembro", segundo transcrição de uma conversa de dois dos presos divulgada pela polícia norte-americana. Ainda que, segundo a própria polícia, a vontade de destruição fosse muito maior do que as chances de levarem o plano a cabo, a inspiração no modelo de ataque da Al-Qaeda ficou evidente.
"Os americanos amam (o ex-presidente) John F. Kennedy (19611963). É o homem por excelência. Se cometermos um atentado contra o aeroporto, todo o país ficará de luto. Seria como matar este homem pela segunda vez. Poderíamos destruir a economia dos EUA durante um tempo", disse na gravação Russell Defreitas, cidadão norte-americano nascido em Guiana e ex-funcionário do aeroporto.
"Osama bin Laden representa hoje muito mais uma figura mítica, do que realmente uma ameaça. Mas na história humana, as piores ameaças vieram de idéias que partiram de um indivíduo ou um grupo e ganharam adeptos com o tempo. Osama bin Laden bem como a Al-Qaeda, podem ser pensados como uma marca que identifica e localiza determinando grupo na miríade de grupos no cenário político internacional", diz Marcial A. Garcia Suarez, doutorando em Ciência Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e Fellow Research do International Security Program da Universidade de Harvard, nos EUA.
O fato de o plano de atentado envolver cidadãos latino-americanos abre novas perspectivas para a luta contra o terrorismo. "Devido à própria natureza pulverizada de um mundo cada vez mais globalizado, seria um equívoco acreditar que o terrorismo islâmico se restringe unicamente ao Oriente Médio. Qualquer região está aberta à possibilidade de abrigar células terroristas e grupos extremistas islâmicos, inclusive a América Latina que, por sinal, torna-se cada vez mais simpática a toda forma de contestação ao papel que os Estados Unidos desempenham no mundo. Além do mais, a fraqueza institucional da América Latina contribui para tornar a região interessante para a instalação de grupos radicais islâmicos", acredita o analista internacional e vice-presidente de Formação e Projetos do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista, Cláudio Tellez.
Para Telles, no entanto, a ligação com o fundamentalismo islâmico não é condição necessária para a vontade de destruição dos Estados Unidos e Israel. "Aliás, muitas vezes esse ódio nasce dentro do próprio Ocidente, que perde cada vez mais a sua identidade e seus valores. Pode haver formação de terroristas em qualquer lugar do mundo, até porque na realidade contemporânea até as ameaças são globalizadas."