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Populosa e diminuta, Cingapura dispõe de poucas soluções para ganhar espaço | Eduardo Aguiar/Gazeta do Povo
Populosa e diminuta, Cingapura dispõe de poucas soluções para ganhar espaço| Foto: Eduardo Aguiar/Gazeta do Povo

Descrença

População descarta viver debaixo da terra

Embora a Universidade Tecnológica de Nangyang e construtoras comecem a realizar estudos para a ocupação subterrânea de Cingapura, a reação pública é de sarcasmo e descrença. "Por que me colocar debaixo da terra?", questionou Patricia Bian-Hing, uma empresária aposentada de 87 anos. "Só vou aceitar ir para o subterrâneo pacificamente para viver no meu caixão."

Os especialistas, porém, pedem que a população tenha mente aberta. "Os cingapurianos estão descartando essa possibilidade porque é algo novo, não porque seja inviável ou implausível", comentou Jeffrey Chan, professor-assistente de arquitetura da Universidade Nacional de Cingapura.

"Astronautas que vivem em estações espaciais, apesar da abundância de raios solares, precisam viver na sombra na maior parte do tempo e eles ficam debilitados pela falta de gravidade, e não pela escassez de luz", argumentou Chan. "Eu acho que se houver quaisquer restrições biológicas, seja de ordem psicológica ou real, essas restrições podem ser superadas, seja por meio de novos hábitos ou pelo uso da tecnologia."

Um dos países mais densamente povoados do mundo, Cingapura prevê que sua população crescerá em um quarto nas duas próximas décadas. A previsão de que a cidade-Estado passará a ter 6,9 milhões de pessoas – 1,3 milhão a mais que no presente – é polêmica num país onde o rápido fluxo de imigrantes pressiona os serviços públicos, contribui para a alta dos preços dos imóveis e amplia a distância entre os mais pobres e mais ricos.

Para acomodar tanta gente, os projetistas do país têm planos de expandir para cima, para os lados e para baixo. A mídia estatal vem promovendo a proposta. Em setembro do ano passado, o jornal Straits Times classificou moradias subterrâneas como a "próxima fronteira" em Cingapura. Segundo a publicação, no futuro, os cingapurianos poderão "viver, trabalhar e se divertir em vastas cavernas subterrâneas que farão os atuais shopping centers subterrâneos parecerem porões de casas".

O órgão regulador da área de construção, que supervisiona uma agência responsável por pesquisas subterrâneas, acredita que o projeto pode se tornar realidade até 2050. "Ir para o subterrâneo é uma opção para Cingapura à medida que forem liberadas terras na superfície", diz David Tan, vice-chefe-executivo da Jurong Town Corporation, a principal construtora do país.

Enquanto as construções subterrâneas não são realidade, o governo planeja liberar terras para residências e instalações industriais com o fechamento de campos de golfe e áreas para treinamento militar. Além disso, parte das reservas naturais da ilha está sendo pavimentada. Com essas medidas e os aterramentos, serão criados 52 quilômetros quadrados de espaço que ajudarão a acomodar mais 700 mil casas, lojas e fábricas nos próximos 20 anos.

Cingapura possui cerca de 675 quilômetros quadrados e é apenas 3,5 vezes maior que a cidade de Washington, capital dos Estados Unidos. A cidade-Estado dispõe de poucas opções para ganhar espaço. As terras que antes estavam submersas já respondem por um quinto de seu território e o apetite de Cingapura por terra importada, usada em aterros, causaram tensões com países vizinhos, preocupados com a questão da erosão na costa. Mas o partido governista Ação do Povo, que está no poder desde 1959, vê o aumento da população como um fator crucial para seu objetivo de transformar Cingapura no que eles chamam de cidade mundial de ponta.

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