Mulher carrega papel higiênico, produto raro na Venezuela: filas e escassez são cada vez maiores| Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

Os supermercados venezuelanos estão sendo cada vez mais atacados por saqueadores em função das filas imensas e da prolongada escassez de alimentos. Na terça-feira, quatro caminhões com alimentos foram saqueados por um grupo de pessoas que, em seguida, queimou a prefeitura da cidade venezuelana de Sinamaica. Os manifestantes queimaram fotos do presidente Nicolás Maduro e do ex-presidente Hugo Chávez.

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Segundo a ONG Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais, nos seis primeiros meses deste ano foram registrados 56 saques e 76 tentativas. A entidade baseou suas cifras em reportagens publicadas pela imprensa e em testemunhos coletados em todo o país.

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Para o International Crisis Group (ICG), centro de estudos sediado em Bruxelas, na Bélgica, o cenário é de crise humanitária. Um relatório da entidade cita que o país enfrenta escassez de alimentos, bens de primeira necessidade e remédios. Médicos são cada vez mais raros nos hospitais.

Pobreza

O combate à pobreza, carro-chefe do governo desde a chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela, em 1999, também tem índices mascarados. “O último indicador oficial disponível, de 2013, indicava 27,3% de pobreza no país. Desde então novos índices não foram divulgados, mas em março um estudo realizado por três universidades venezuelanas apontava um crescimento do índice de pobreza para 48,4%”, afirma Javier Ciurlizza, diretor do International Crisis Group.

O documento do ICG indica que a turbulência econômica na qual o país mergulhou nos últimos anos está se tornando uma crise social que pode virar um “desastre social que abalará não apenas as políticas domésticas e a sociedade da Venezuela, mas também seus países vizinhos”.

“A escassez não está somente nas prateleiras dos supermercados, mas a falta de acesso a alimentos processados, somada à dificuldade de obtenção de remédios nas farmácias e hospitais, está gerando um cenário na área da saúde muito próximo dos encontrados nos países que enfrentam crises humanitárias“, afirmou o diretor do ICG para a América Latina, Javier Ciurlizza. ”Estivemos em contato com muitos militantes chavistas e mesmo eles reconhecem que o governo tem fracassado em levar adiante seus projetos sociais”.

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Saúde em frangalhos

A escassez de profissionais é particularmente preocupante na área da saúde. Em abril, o presidente da Federação Médica Venezuelana, Douglas León Natera, informou que pelo menos 13 mil médicos deixaram o país nos últimos anos.

O ICG destacou os pontos críticos, entre eles a falta de leitos e materiais nos hospitais, a escassez de remédios, a decisão do Ministério da Saúde de não publicar mais boletins sobre epidemias e a dificuldade no atendimento neonatal, especialmente nas zonas rurais.

Para Diederik Lohman, da ONG Human Rights Watch, muitas dificuldades têm origem no fato de o país não produzir medicamentos, tendo de recorrer a importações, que se tornam inviáveis frente ao controle cambiário do governo.