Londres Um projeto de pesquisa multinacional tem como objetivo utilizar um laser de alto poder para reproduzir a reação que ocorre no coração do Sol e em outras estrelas do Universo a fusão nuclear. Se o projeto der certo, ele terá grandes chances de resolver o problema da crise energética mundial sem destruir o meio ambiente.
Os cientistas admitem que ainda se está longe de ter um reator comercial com essa capacidade, mas estão confiantes de que o laser capaz de produzir a fusão tem um futuro promissor. A União Européia (UE) estuda financiar um projeto de pesquisa com sete anos de duração chamado HiPER (sigla em inglês para Pesquisa de Energia a Laser com Alto Poder) que irá construir um reator de demonstração. Só os preparativos para o projeto, que conta com a colaboração de 11 nações, vão custar aproximadamente 50 milhões de euros. Construir o reator propriamente dito vai custar mais de meio bilhão de euros.
A iniciativa liderada pela Grã-Bretanha foi estabelecida como prioridade pela UE para desbancar um projeto financiado pelos EUA chamado de NIF (sigla em inglês para Aparato de Ignição Nacional), em Livermore, na Califórnia. Quando for construído, em 2010, físicos esperam que o laser NIF vai ser poderoso o bastante para iniciar uma reação de fusão. Experimentos feitos no deserto de Nevada nos anos 80 com explosões subterrâneas de armas nucleares já deram uma prévia da quantidade de energia que essas reações poderão atingir com o laser.
Mike Dunne, diretor do Aparato Central do Laser, ao visitar um instituto de pesquisa que abriga o Vulcan (o laser mais poderoso do mundo), em Oxfordshire, no sul da Inglaterra, disse: "O mundo vai perceber no dia que isto acontecer. Políticos irão dar uma olhada e dizer então, o que você vai fazer com relação a isso? Qual é o próximo passo? Esta é uma maneira de fazer uma demonstração científica virar uma realidade comercial".
O professor Dunne disse que muitos detalhes dos testes nucleares ainda são confidenciais "mas a única coisa que importa para nós, um grupo de cientistas de energia, é que funciona de verdade. O segredo agora é se nós conseguimos pôr a coisa para funcionar sem ter de jogar uma bomba nuclear em cima dela". É para isso que o NIF foi projetado.
Ser capaz de fazer uma fusão na Terra de modo a obter energia utilizável é o sonho e a inspiração de físicos há muito tempo. A idéia é fazer a fusão de dois átomos de hidrogênio para formar hélio. Essa reação, a mesma que alimenta o Sol, libera enormes quantidades de energia porque segue a famosa equação de Einstein: E=MC2. Uma pequena quantidade de massa é perdida quando os átomos de hidrogênio se fundem e o processo libera muita energia. Ao contrário da fissão nuclear, na fusão há apenas a produção material de baixo nível de radioatividade. Melhor que isso: uma reação em cadeia, como o que ocorreu em Chernobyl, é simplesmente impossível com a fusão nuclear.
O sonho da fusão já vem sendo perseguido por um projeto de dez bilhões de euros chamado ITER (sigla em inglês de Experimento Nuclear Internacional) que está sendo construído em Cadarache, na França. Este projeto pretende usar ímãs bem potentes para fazer a fusão de átomos de hidrogênio.
Por outro lado, muitos cientistas da comunidade de pesquisa vêem a utilização do laser como mais promissora. "A beleza do método com o laser é que você pode dividir e conquistar", disse o professor Dunne. Existem desafios formidáveis de engenharia para se construir um laser que seja poderoso o suficiente, aumentar seu poder de disparo e desenhar os projéteis milimetricamente. Todos esses desafios podem ser vencidos paralelamente", complementa.
Outros estudiosos são mais céticos com relação ao laser. Duarte Borbam, que trabalha no JET, um reator de fusão magnética experimental, disse que atingir a ignição (ponto no qual a fusão nuclear se torna auto-sustentável) seria tudo. "Existe um longo processo a se trilhar mesmo antes que você consiga construir um reator que funcione com fusão a laser", conclui.
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