Parece claro, neste ponto, que a Casa Branca preferiria não realizar briefings de imprensa semanais. Mas o presidente Trump e seus assessores não querem levar a culpa por encerrar essas atividades. Eles querem que os jornalistas desistam.
A Casa Branca está batendo de frente com a mídia, tornando a situação tão insustentável que os repórteres podem desistir primeiro. Se for bem sucedido, o “Team Trump” alcançará o resultado desejado, evitando assim sua culpa.
A aparente estratégia tem três pontas:
Desligue as câmeras
Oito dos últimos onze briefings foram feitos sem câmeras presentes, incluindo o último de sexta-feira (30). A Casa Branca também proibiu as transmissões de áudio ao vivo dessas sessões.
Isso tem se tornado normal, e péssimo para as televisões. As redes de notícias a cabo inicialmente emitiram gravações de áudio com atraso, com fotos sendo colocadas no lugar da imagem, mas rapidamente desistiram da ideia, pois não agradava o público.
Pare de responder perguntas
Um mês atrás, a Casa Branca disse que iria encaminhar diretamente os advogados privados da Trump todas as questões sobre a investigação especial, dirigida por advogados, sobre uma tentativa de intervenção nas eleições russas. Em outras questões, os porta-vozes da Casa Branca dizem que também não sabem as respostas ou não perguntaram ao presidente.
Durante uma reunião fora da câmera na segunda-feira (26), o secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, disse que o tema da administração da semana seria o "domínio da energia".
"E qual o significado do ‘domínio da energia’", perguntou um repórter.
"Bem, acho que vamos explicar melhor isso durante a semana", respondeu Spicer. Ele continuou com uma resposta vaga sobre "nossa capacidade de exportar agora" e "nossa capacidade de maximizar nossos recursos naturais e criar empregos". Pressionado para dar mais detalhes, Spicer não entregou nenhum.
"Eu acho que isso significa muita coisa", disse ele. "Quero dizer, apenas a capacidade de ser um exportador nos ajuda de forma econômica, mas obviamente há um aspecto político para isso".
Mesmo sobre o tema que a Casa Branca supostamente queria trazer como principal, Spicer tinha pouca informação para compartilhar.
A Casa Branca parece estar tentando transformar os briefings em eventos de baixo valor que os repórteres deixem de aparecer.
"O secretário de imprensa da Casa Branca está chegando a um ponto em que ele é apenas uma pessoa inútil", disse Jim Acosta da CNN no ar depois de um briefing bastante improdutivo na semana passada. "Se ele não pode sair e responder às perguntas, e eles não querem fazer isso em frente as câmera ou áudios, por que estamos fazendo esses briefings então?" Afirmou.
Mostre a mídia no seu pior
A Casa Branca escolheu dois dias nesta semana para realizar briefings com câmeras ligadas: terça-feira (27), dia seguinte em que três jornalistas da CNN pediram demissão, e quinta-feira (29), o dia em que Trump twittou um ataque sexista à Mika Brzezinski da MSNBC.
Estas não são coincidências.
A repressão e as demissões na CNN criaram uma excelente oportunidade para a Casa Branca rasgar a mídia, e a vice-secretária de imprensa, Sarah Huckabee Sanders, aceitou. Sem evidências, ela acusou a imprensa de fábrica de mentiras e disse que "se a mídia não é confiável para trazer a notícia, então eles são um perigo para a América".
Alguns dias depois, quando aconteceram os tweets de Trump sobre Brzezinski, o circo foi armado, que é como a Casa Branca tem tentado caracterizar briefings, em geral. Perguntas sobre os tweets do presidente dominaram a evento, e alguns repórteres foram visivelmente ofendidos. Isso foi perfeitamente compreensível, mas, a cena ajudou a Casa Branca a mostrar que os jornalistas usam os briefings como uma arquibancada de futebol.
Viu só? Eles não estão interessados em políticas ou americanos trabalhadores. Eles apenas falam sobre si mesmos e fazem as mesmas perguntas repetidamente.
A Casa Branca parece estar tentando levar os jornalistas para a seguinte conclusão: os briefings são ruins, com pouca informação e nos fazem parecer mesquinhos. Vamos parar de ir.
O co-fundador da agencia de notícias Axios, Mike Allen, argumentou na quinta-feira (29) que os repórteres devem fazer exatamente isso.
A estratégia da Casa Branca está funcionando.