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A China comprova (de novo) por que economias planificadas não funcionam

O ditador chinês, Xi Jinping: fala-se muito da Covid Zero, mas Pequim vinha adotando políticas econômicas ruins muito antes da pandemia (Foto: EFE/EPA/EKATERINA SHTUKINA/SPUTNIK/KREMLIN)

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Muitos jornais americanos, incluindo o Wall Street Journal, publicaram a notícia de que, ao contrário do projetado anteriormente pelo Centro de Pesquisa Econômica do Japão (JCER, na sigla em inglês), o PIB da China não ultrapassará o dos Estados Unidos até 2035.

Isso pode ser uma surpresa e um alívio para os americanos, mas alguns especialistas sempre se mantiveram céticos sobre a perspectiva de que a China alcançaria grande sucesso econômico depois de ter revertido seu movimento em direção à liberalização de mercado em 2012 e retornado ao planejamento central para sua política industrial.

Com base na experiência, mas também em princípios econômicos fundamentais, era nítido que essa mudança de política resultaria no regime comunista sendo incapaz não apenas de crescer tão rápido quanto o previsto, mas também de sustentar o crescimento que havia conseguido até então. A China não estava destinada, portanto, a ultrapassar a economia dos Estados Unidos, a menos que os americanos adotassem irresponsavelmente políticas estatistas semelhantes.

A ideia de que um país pode enriquecer por meio do planejamento centralizado é um mito. Os planejadores centrais podem criar temporariamente a ilusão de sucesso, da mesma forma que a política de Covid Zero da China criou a ilusão de que o país derrotou o vírus.

Como explicaram Dominic Pino e Adam Thierer, maus investimentos, distorções econômicas e medidas com viés político repletas de subsídios voltados para interesses especiais, todas características do planejamento central, sempre acabam infligindo um preço econômico considerável, que é impossível esconder. Quando isso acontece, a economia desacelera, empresas entram em colapso e o brilho da direção estatal dos assuntos econômicos acaba aos olhos de todo mundo, exceto dos mais cegos ideologicamente (pelo menos até a próxima crise).

Nenhum desses raciocínios, porém, aparece nas projeções do JCER. Em vez disso, como relata o Wall Street Journal, o diagnóstico é o seguinte: “O regime de Xi Jinping, em um inédito terceiro mandato, a política de Covid Zero e o afastamento de Estados Unidos e China, que impede o acesso a tecnologias avançadas, se tornaram um fardo pesado demais para a economia chinesa”, escreveram economistas do JCER em um relatório divulgado na semana passada.

Muito desse diagnóstico é verdade, é claro, mas ele não expressa o problema fundamental. Pequim vinha adotando políticas econômicas ruins muito antes da Covid-19. É desconcertante que tantos analistas americanos e japoneses, incluindo economistas, tenham comprado a lenda de que os chineses operavam milagres com sua economia planificada.

Não parece ter importância alguma o vasto registro histórico que mostra repetidamente que a direção estatal da atividade econômica gera pobreza ao invés de riqueza. Muitas pessoas nos Estados Unidos hoje – à esquerda e à direita – ainda acreditam que o planejamento central pode operar maravilhas econômicas e que, portanto, os americanos devem imitar as políticas da China.

Há ainda outra razão pela qual previsões como as do JCER devem sempre ser recebidas com cautela: os modelos macroeconômicos são notoriamente ruins em fazer previsões de longo prazo. Sempre deveríamos ter mantido o ceticismo em relação a previsões sobre o que acontecerá na China e nos Estados Unidos até 2035. E o mesmo se aplica às previsões revisadas. Como exemplo, temos o Fed, uma organização de 23 mil funcionários e com um orçamento de US$ 5,3 bilhões, cujos modelos não parecem sequer capazes de prever tendências econômicas sob seu próprio nariz, muito menos para o futuro.

No final de 2021, o Fed projetou que a taxa de juros seria de 1,6% no início de 2023. Três meses depois, essa projeção havia quase dobrado. Em setembro de 2022, ela havia aumentado para 4,5% e agora deve chegar a 5,1%. Para colocar em termos técnicos, o Fed é péssimo em fazer projeções.

A maioria dos outros modelos macroeconômicos também errou ao longo de 2021 e 2022, e é certo que errarão também em 2023. Na verdade, o mercado em si não é bom em estabelecer expectativas precisas de inflação de longo prazo. E o Escritório de Orçamento do Congresso americano frequentemente erra nas suas projeções de crescimento econômico.

Quanto mais distantes estiverem as projeções, maior a probabilidade de estarem erradas. Tentar prever o que milhões de pessoas, investidores, fornecedores e varejistas farão, como centenas de fatores diferentes mudarão e quais resultados essas mudanças produzirão é um mero palpite.

Além disso, o caminho da economia de US$ 25 trilhões dos Estados Unidos está intimamente ligado ao de uma economia global de US$ 94 trilhões, o que torna esses palpites ainda menos confiáveis. Isso não significa que os modelos sejam completamente inúteis, mas sim que não devemos acreditar prontamente em tudo o que eles preveem, especialmente se forem além de um ano no futuro.

Duvido que aprendamos com nossos erros e passemos a adotar uma dose saudável de ceticismo em relação às projeções de longo prazo. Munidos de modelos que alegam predizer o futuro, muitos políticos, economistas e analistas estão investindo na ilusão de que podem traçar planos infalíveis para organizar a economia. Pior ainda, essa arrogância intelectual alimenta a crença de que ser capaz de planejar e organizar nossas vidas torna imperativo que o façam.

*Veronique de Rugy é pesquisadora sênior do Mercatus Center, da George Mason University.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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