Exposição sobre o clima na Cúpula da ONU, em Copenhague, em dezembro do ano passado: evento coincidiu com vazamento de pesquisas mal intencionadas| Foto: Adrian Dennis/AFP

Nova rodada começa com pessimismo

A primeira reunião pós-Copenhague da Convenção do Clima das Nações Unidas começou on­­tem na Alemanha, ainda à sombra da insatisfação que resultou da cúpula de 2009. O encontro em Bonn deixa evidente o desacordo entre países ricos e pobres sobre os próximos passos das negociações sobre como combater os efeitos do aquecimento global.

A cúpula de dezembro resultou no Acordo de Copenhague, declaração sem força legal que quer restringir o aumento da temperatura mundial em 2ºC, mas sem dizer como. Na reunião de Bonn, a discussão gira em torno de como incluir o acordo nas negociações entre os países.

O braço de ferro entre ricos e pobres vem dos temores por parte dos países emergentes de que o acordo poderia vi­­rar a única base para discussões, descartando-se o Protocolo de Kyoto e as ações de longo prazo.

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Há meses cientistas do clima sofrem críticas cruéis na mídia e na internet, acusados de esconder dados, cobrir erros e suprimir vi­­sões alternativas. Sua resposta até agora tem sido, em grande parte, insistir na legitimidade de seu vasto corpo de ciência climática e ridicularizar seus críticos, chamando-os de esquisitos e desinformados.

Mas o volume de críticas e a profundidade da dúvida só cresceram. Muitos cientistas hoje se dão conta de estarem enfrentando uma crise de confiança pública e de terem de rebatê-la. Tempo­­ra­­riamente e a contragosto, eles es­­tão começando a admitir erros, abrir dados e remodelar a forma como conduzem seu trabalho.

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A liberação não autorizada, no ano passado, de centenas de mensagens de e-mail de um grande centro de pesquisa sobre o clima na Inglaterra, e, mais recentemente, revelações de um punhado de erros num suposto relatório confiável das Nações Unidas so­­bre a mudança climática, criaram o que vários cientistas importantes afirmam ser uma grande quebra de confiança em sua pesquisa. Eles afirmam que essa agitação ameaça minar décadas de trabalho e tem prejudicado enormemente a confiança do público na atividade científica.

O episódio virtual, apelidado de "climategate" por alguns críticos, revelou a arrogância e o que um importante pesquisador do clima chamou de "tribalismo" en­­tre alguns cientistas. A correspondência parece mostrar esforços para limitar a publicação de opiniões contrárias. O conteúdo das mensagens deu margem a acusações contra alguns cientistas co­­nhecidos, por supostamente es­­conder dados de temperatura de pesquisadores rivais e manipular resultados para estarem em conformidade com conclusões pré-estabelecidas.

"Eu obviamente escrevi alguns e-mails terríveis", disse Phil Jones, cientista britânico do clima que está no centro da controvérsia, em confissão recente a um comitê es­­pecial do Parlamento. Mas ele discordou veementemente de acusações de que ele teria escondido dados ou falsificado resultados.

Algumas das alegações mais sérias contra Jones, diretor da unidade de pesquisa climática da University of East Anglia, foram derrubadas, embora várias investigações ainda estejam a caminho para determinar se outros estiveram envolvidos.

No entanto, danos sérios já fo­­ram causados. Uma pesquisa conduzida no final de dezembro pela Universidade de Yale e pela Geor­­ge Mason University revelou que o número de americanos que acre­­ditava que a mudança climática era uma enganação ou conspiração científica mais que do­­brou desde 2008, de 7% da população para 16%. Adicionais 13% dos americanos disseram achar que, mesmo que o planeta esteja esquentando, isso seria resultado de fatores naturais e não representaria uma preocupação significativa.

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Reação

Cientistas do clima foram balançados pelas críticas e agora estão começando a buscar formas de recuperar sua reputação. Eles es­­tão aprendendo um pouco de hu­­mildade e tentando evitar ao má­­ximo cruzar a linha para a defesa de diretrizes.

"Está claro que a comunidade científica do clima simplesmente não estava preparada para a escala e ferocidade dos ataques, e simplesmente não responderam de forma rápida e adequada", afirmou Peter C. Frumhoff, ecologista e cientista-chefe da Union of Con­­cerned Scientists (união de cientistas preocupados, em tradução livre). "Precisamos re­­conhecer os erros e ajudar a mu­­dar o foco das atenções, do que está acontecendo na blogosfera para o que está acontecendo na atmosfera."

Várias instituições estão iniciando esforços para melhorar a qualidade de sua ciência e tornar seu trabalho mais transparente. A agência britânica oficial do clima está realizando uma revisão completa de seus dados de temperatura e irá tornar públicos seus registros e análises pela primeira vez, permitindo análises detalhadas por parte de terceiros em relações a métodos e conclusões. O painel das Nações Unidas de mu­­dança climática irá aceitar supervisão externa de suas práticas de pesquisa, também pela primeira vez.

Além disso, duas universidades estão investigando o trabalho de importantes cientistas do clima para determinar se eles violaram padrões acadêmicos e minaram a crença na ciência. A Na­­tional Academy of Sciences está se preparando para publicar um ar­­tigo não técnico salientando o que se sabe – e o que não se sabe – sobre mudanças no clima global. Além disso, um debate vigoroso está a caminho entre cientistas climáticos sobre como tornar seu trabalho mais transparente e recuperar a confiança do público.

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Alguns críticos acreditam que se trata apenas de esforços cosméticos que não resolvem o verdadeiro problema.

"Vou deixar você por dentro de um segredo bem escuro e feio – não quero que a confiança na ciên­­cia do clima seja recuperada", disse Willis Eschenbach, engenheiro cético sobre aquecimento global. "A solução é que vocês pa­­rem de tentar fingir que esse lixo é ciência."

Ralph J. Cicerone, presidente da National Academy of Sciences, disse haver o risco de que a desconfiança na ciência climática se ramifique e gere dúvidas em relação ao co­­nhecimento científico de forma mais ampla. Para ele, os cientistas de­­vem fazer um trabalho me­­lhor se policiando e tentando ser ouvidos em redes de tevê, rá­­dio e internet.