Mesmo com um violento aumento da taxa referencial de juros para 60% ao ano, que deverá valer até dezembro, com o objetivo de combater a desvalorização do peso, a crise na Argentina se intensificou nesta quinta após o presidente Maurício Macri ter chocado o país ao pedir maior agilidade na liberação de parcelas do empréstimo de US$ 50 bilhões acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho. O órgão disse estar avaliando o pedido.
Somente ontem, o peso argentino perdeu 20% de seu valor frente ao dólar. A Argentina está voltando para um período de turbulências financeiras que o governo de Macri supostamente havia deixado para trás.
Investidores estão perdendo a confiança de que o presidente, que chegou ao poder em dezembro de 2015 depois de mais de uma década de populismo, possa fortalecer a economia e reduzir os déficits fiscal e comercial e a de inflação para níveis administráveis.
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Macri prometera uma correção gradual e gradual. Esta opção pode estar desaparecendo. "O mercado não está lhes dando alternativas", disse Edwin Gutierrez, diretor de dívida soberana para mercados emergentes da Aberdeen Standard Investments, em Londres.
A crise na Argentina causou tremores em outros mercados emergentes, que foram abalados no mês passado pelos problemas na economia turca. A lira perdeu 4,4% de seu valor nesta quinta. As moedas do México e da África do Sul também se desvalorizaram frente ao dólar. E o BC brasileiro interveio para sustentar o real, realizando leilões de swap.
A Argentina ainda tinha algumas defesas, depois de obter o maior empréstimo do FMI da história. O país apresenta níveis relativamente baixos de dívida em moeda estrangeira, depois de ter sido excluído por mais de uma década do mercado financeiro internacional, devido à moratória de dezembro de 2001.
O país retornou em ritmo acelerado, com Macri, assumindo mais de US$ 50 bilhões em dívidas nos últimos dois anos.
Números fracos
Os indicadores do país não são dos melhores. A inflação anual é superior a 30% e deve acelerar após a forte queda do peso. O governo pretendia reduzir o déficit orçamentário global para 5,1% do PIB este ano. No ano passado, foi de 6,5%.
O governo já está prevendo uma queda de 1% no PIB neste ano, uma deterioração acentuada em relação à previsão do início do ano, quando era projetado um crescimento de 3%.
A Argentina está se preparando para uma “dura pressão” nos próximos 12 meses, o que colocará Macri sob pressão, enquanto busca a reeleição em outubro de 2019, disse Paul Greer, gerente da Fidelity International em Londres. O pano de fundo atual para os mercados emergentes é "implacável", disse ele.
O ministro do Tesouro de Macri, Nicolas Dujovne, afirmou que o governo está trabalhando em um plano para cortar o déficit fiscal mais rapidamente, com o objetivo de reduzir o endividamento. Nenhum detalhe foi dado.
O mercado é cético quanto ao pedido feito por Macri para a antecipação de parcelas dos empréstimos do FMI. "Disseram que o acordo com o FMI estará pronto dentro de poucas semanas", disse Gutierrez, da Aberdeen. "Eles têm algumas semanas? Eu não tenho certeza disso."
Má reação
Segundo o jornal Clarín, tentar acalmar o mercado não será fácil. Diversos relatórios encaminhados por grandes bancos a clientes e investidores sinalizam que é preciso mais detalhes sobre os desembolsos antecipados de recursos por parte do FMI, uma política mais audaciosa e um ajuste fiscal mais acelerado. Eles também apontam que a volatilidade do peso pode continuar e assinalam “erros de estratégia e comunicação” por parte do governo.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, disse ao jornal argentino os “mercados não reagiram bem aos anúncios do presidente Maurício Macri por, entre outras coisas, ausência de detalhes e também porque foi visto como uma medida desesperada”. Ele assinala que se espera uma “certa flexibilidade” do FMI para reprogramar o desembolso de fundos e que isto seria “em troca de ajustes de políticas domésticas, particularmente no terreno fiscal.”
O banco Santander informou a seus clientes que “o mercado cambial está desequilibrado e a volatilidade nos ativos locais pode continuar nos próximos meses devido à falta de divisas e à incerteza com as eleições no Brasil.”
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