| Foto: Robson Vilalba/ Ilustração e Designer

Nova York - Quem ganhou muitos quilos indesejados pode ficar aliviado de saber que não é o culpado. Pelo menos não inteiramente. Muitos interesses econômicos das indústrias de alimentos e de bebidas conspiram contra a boa alimentação e práticas saudáveis ao corpo.

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Essa é a conclusão de uma equipe de especialistas que passou dois anos examinando as forças causadoras de obesidade globalmente.

Os pesquisadores di­­vulgaram suas descobertas numa série de artigos no site The Lancet, uma das mais importantes publicações científicas do Reino Uni­­do.

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De acordo com o estudo, co­­mo aconteceu com o tabagismo, se­­rão necessários muitos anos, di­­versas táticas e vontade política para superar os poderosos lobbies da indústria e contornar o problema – fazendo com que os níveis de sobrepeso e de obesidade regridam aos registrados na década de 1970.

O que mudou?

Nas décadas de 1940 e 1950, uma criança tinha de andar muitos quarteirões de bicicleta para comprar uma casquinha de sorvete. Não havia máquinas vendendo doces e refrigerantes, restaurantes fast-food ou shoppings com praças de alimentação.

Tam­­pou­­co as crianças eram constantemente bombardeados com co­­merciais televisivos de alimentos preparados e bebidas repletas de calorias, gorduras ou açúcares.

A maioria das refeições era preparada e consumida em casa, mesmo com ambos os pais trabalhando fora (como os meus). Co-­mer fora era um evento es­­pecial.

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A maioria das pessoas tinha os pés como o principal meio de transporte.

Desde 1900, os requisitos de energia para a vida diária diminuíram substancialmente – com o ad­­vento de dispositivos eletrônicos e automóveis –, mas o peso permaneceu estável até a dé­­cada de 1970. Boyd A. Swin­­burn, pesquisador de obesidade na Uni­­ver­­­­si­­dade Dea­­kin, em Mel­­bourne, Aus­­trália, e seus co­­autores, chamam essa década de "ponto da virada".

À medida que mais mu­­lheres entravam na força de trabalho, a indústria de alimentos, percebendo um novo e crescente mercado, produzia em massa as comidas de conveniência com apelo ao paladar. As comidas eram ricas em açúcar, sal e gordura, substâncias que os humanos são evolutivamente programados para amar.

"A indústria permitiu que as pessoas pudessem consumir mais calorias com maior facilidade", explica Steven L. Gortmaker, sociólogo da escola de saúde pú­­blica de Harvard.

Conforme escreveram Swin­­burn e seus colegas de estudo, "a década de 1970 viu um acentuado aumento na quantidade de gorduras e carboidratos refinados na distribuição alimentar dos EUA, acompanhado pelo aumento nas calorias disponíveis e pelo início da obesidade epidêmica".

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Campanhas

Diversas políticas coordenadas e complementares são necessárias para superar essa epidemia, afirmam Gortmaker. Ele lembra que, nos Estados Unidos, as campanhas para reduzir as taxas de tabagismo de 40% a 20% atuavam conjuntamente em quatro frentes.

Primeiro, as propagandas de cigarros foram proibidas na televisão. Em seguida os impostos sobre o produto foram aumentados. Também foi lançado o adesivo de nicotina e o cigarro foi sendo proibido cada vez mais em lugares públicos.

Assim como a queda no tabagismo não aconteceu da noite para o dia, uma redução nas taxas de sobrepeso e obesidade levará algum tempo, prevê Gortmaker. Ele enfatiza a importância de agir imediatamente, antes que o au­­mento na expectativa de vida da população seja revertido por doenças da obesidade.

Gortmaker e seus colegas de equipe listaram três das medidas mais econômicas e salutares: um imposto de 10% sobre alimentos e bebidas não saudáveis (como bebidas com açúcar, uma proposta derrotada no estado de Nova York por pressão da indústria); rótulos nutritivos mais claros e alimentos embalados com alertas, como um semáforo vermelho, amarelo ou verde na frente das embalagens; e a redução de propagan­­das de ‘’comidas não saudáveis e bebidas açucaradas para cri­­anças".

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‘’A divulgação de comidas e bebidas está associada ao aumento nas taxas de obesidade e atinge com maior eficácia as crianças", escreveram os autores do estudo. Eles defende um imposto sobre bebidas com açúcar como ‘’a escolha óbvia", apontando que isso poderia trazer, além de benefícios à saúde, bilhões de dólares por ano para os cofres públicos.