Mesmo com a maior parte do Ocidente se apressando em reconhecer o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, um coro pequeno mas familiar deixou clara a sua dissidência. Autoproclamados anti-imperialistas, que exigem que os Estados Unidos fiquem fora dos assuntos da Venezuela, se uniram ao lado do homem forte, o presidente Nicolás Maduro.
Entre os dissidentes estão apparatchiks do regime iraniano, apresentadores de talk shows de propaganda russa e colunistas do The Nation. Há até alguns membros democratas do Congresso do lado de Maduro.
Os Estados Unidos têm, sim, uma história de intervir na América Latina do lado de ditadores, geralmente na luta contra o comunismo ou para proteger o hemisfério da influência de outras potências estrangeiras. É fácil ver por que vários malandros e inocentes veriam esse padrão se repetindo na Venezuela.
Eles estão errados, no entanto. Apoiar Maduro agora não é ficar contra o imperialismo americano. Pelo contrário, é um endosso do imperialismo dos adversários da América.
Para ilustrar o ponto, considere uma ótima reportagem da Bloomberg News em Caracas. A partir de um tweet de um legislador venezuelano, repórteres confirmaram que as autoridades reservaram 20 toneladas de ouro, no valor de US$ 840 milhões, para serem carregadas em um avião de carga russo. Claro que o ouro pertence ao povo venezuelano. Mas Maduro assinou empréstimos que eram uma cilada de dívidas com a China e a Rússia. Assim, em um momento em que seu povo está morrendo de fome e fugindo do país em uma crise de refugiados que se compara à da Síria, o ditador está pagando seus benfeitores.
É um padrão para Maduro, que penhorou o país. De acordo com uma estimativa recente, a China emprestou ao regime de Maduro US$ 70 bilhões com a expectativa de que a maior parte seja paga em petróleo. No ano passado, o prazo para o pagamento expirou, pressionando ainda mais o mal administrado setor de petróleo do país.
A relação de Cuba com a Venezuela é mais perniciosa. O antecessor e mentor de Maduro, Hugo Chávez, adorava a revolução cubana e procurou fundir sua revolução com a que levou a família Castro ao poder seis décadas atrás. Quando Chávez estava morrendo e em tratamento para o câncer em Cuba em 2012, ele comandou o governo venezuelano de Havana.
Seu protegido manteve a fidelidade da Venezuela à nação insular. Até recentemente, a Venezuela vendia seu petróleo com um grande desconto para Cuba. E Cuba enviou oficiais da inteligência para se infiltrar nos serviços de segurança militar e doméstica do país. Maduro alegadamente recebe seu briefing diário de inteligência de oficiais de inteligência cubanos.
As forças de segurança cubanas na Venezuela, estimadas em milhares, têm ameaçado os cidadãos. Em 2017, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos disse ao Congresso que havia cerca de 15 mil cubanos na Venezuela, formando "um exército de ocupação" no país. Esse contingente de assessores cubanos vai tornar mais difícil que os militares aceitem ajudar Guaidó a preparar novas eleições, como eles estão sendo pressionados a fazer.
A predação de chineses, cubanos e russos na Venezuela já seria ruim por si só. Ela é ainda pior em um momento em que o último braço democraticamente legítimo do governo da Venezuela – a Assembleia Nacional – está fazendo valer a sua prerrogativa constitucional de exigir eleições livres e justas. É semelhante à intervenção do Irã e da Rússia para salvar a ditadura de Bashar al-Assad na Síria no meio da sua campanha de massacre em massa. Agora as intervenções imperialistas são para apoiar um homem que lotou de aliados os tribunais e a legislatura, prendeu sua oposição e destruiu sua economia.
As razões deles são pelo menos compreensíveis: sob Chávez e Maduro, a China conseguiu projetos de petróleo e infraestrutura. A Rússia recebeu autorização para enviar navios de guerra para os portos da Venezuela. E Cuba conseguiu se infiltrar nos serviços militares e de inteligência do país.
Essas nações apoiam Maduro porque querem continuar explorando sua relação com a Venezuela. Qual é a lógica dos anti-imperialistas que exigem que os EUA mantenham suas “mãos fora da Venezuela”, enquanto nada dizem sobre as mãos chinesas, cubanas e russas que já estão lá?
*Lake é colunista da Bloomberg Opinion e cobre segurança nacional e política externa. Ele foi correspondente de segurança nacional do Daily Beast e cobriu segurança nacional e inteligência para o Washington Times, o New York Sun e o UPI.