Norte-coreanos conseguiram obter iPhones, sistemas operacionais da Microsoft e servidores fabricados nos Estados Unidos apesar das crescentes sanções americanas nos últimos anos. Muitos desses equipamentos foram utilizados para ciberataques contra outros países, apontou um relatório publicado na quarta-feira da semana passada.
O documento, elaborado pela firma de inteligência Recorded Future, sugere que a Coreia do Norte foi capaz de montar sua infraestrutura tecnológica usando hardware e software americano, apresar das sanções comerciais.
Apesar de as autoridades norte-americanas terem reforçado as sanções contra a Coreia do Norte ao longo de uma década, muita dessa tecnologia foi vendida pelos Estados Unidos sob regras que antes permitiam o comércio de bens tecnológicos, desde que os exportadores recebessem as licenças governamentais necessárias.
As sanções impostas pelo governo Barack Obama em 2016 bloquearam o comércio de bens tecnológicos que pudessem minar a cibersegurança e Trump, em 2017, reforçou as restrições ao editar uma ordem executiva que tinha como alvo as exportações vinculadas à área tecnológica.
Sanções dribladas
O incremento das sanções não impediu que a Coreia do Norte adquirisse tecnologia de fornecedores americanos. Muitas chegaram antes de 2016, entretanto outros hardwares e softwares foram obtidos mais recentemente de empresas e pessoas que driblavam as sanções, disse a pesquisadora Priscilla Moriuchi.
“A Coreia do Norte se profissionalizou em driblar as sanções”, disse Moriuchi. “Há buracos no controle das exportações americanas que são explorados pelo país asiático.” As compras nos últimos anos, segundo ela, foram feitas por intermediários ou por norte-coreanos que vivem no exterior, que compram iPhones e MacBooks em lojas da Apple e as enviam para a Coreia do Norte – talvez por meio de canais diplomáticos -, supõem os pesquisadores.
Ela disse que a pesquisa, baseada no monitoramento de tráfego da internet entrando e saindo da Coreia do Norte, ofereceu evidencias conclusivas de que a tecnologia americana forneceu parte do hardware e do software usado em ciberataques, especialmente contra a vizinha Coreia do Norte. Evidências deixadas em softwares maliciosos, por exemplo, deixaram claro que eles foram criados com a utilização de tecnologia americana, ressaltou a pesquisadora,
Fotografias das elites norte-coreanas – principalmente políticos, militares de alta patente e suas famílias -, que circulam online, mostram elas usando iPhones ou computadores que utilizam o Windows.
O relatório da Recorded Future é incomum porque monitorou o tráfego online norte-americano para determinar que aparelhos e softwares estavam transmitindo informações para a internet.
Lista de itens desejados
A lista relaciona uma série de itens tecnológicos populares nos últimos anos. Incluindo várias gerações de iPhones do 4S ao X. Aparelhos da Samsung, como o S5, J5, S7 e S8 Plus, também estão na lista. Apesar da Samsung ser uma empresa sul-coreana, seus aparelhos usam, com frequência, componentes e softwares sujeitos às sanções americanas contra a Coreia do Norte.
Em relação ao software, a pesquisa detectou o Windows 2000, XP, 7, 8.1 e 10, assim como o sistema operacional da Apple e softwares para servidores da Microsoft, IBM e Conexant.
Apesar dos sinais de compras recentes, Recorded Future aponta que muita tecnologia é de 2014, quando os Estados Unidos venderam US$ 215,9 mil em computadores e bens tecnológicos à Coreia do Norte. Este foi o maior valor de exportações autorizadas entre 2002 e 2017.
Mais de US$ 430 mil dessas exportações para a Coreia da Norte foram permitidas nesses anos, apontou o relatório, citando informações do Departamento de Comércio. Os valores despencaram drasticamente após Obama reforçar as sanções em 2016.
Martyn Williams, jornalista da área de tecnologia, disse que a tecnologia americana é usada largamente na Coreia do Norte porque os EUA dominam essa área e muitos produtos usam componentes ou softwares americanos.
Moriuchi pede uma aplicação mais rígida e consistente dos controles de exportação por parte dos Estados Unidos, com o objetivo de diminuir a capacidade de a Coreia do Norte conduzir ciberataques. Apesar de muitos deles serem lançados de computadores fora do país, uma significante minoria é feira a partir da Coreia do Norte usando tecnologia americana, disse ela.
O relatório detalha como as sanções foram impostas de forma desigual e que vários aliados dos Estados Unidos usam diferentes definições em suas leis de comércio exterior, tornando mais fácil a evasão.