Porto Príncipe - A população de Porto Príncipe parecia estar inteira nas ruas ontem, quando foram lembrados os 230 mil mortos do terremoto de 12 de janeiro de 2010. É difícil saber quem estava lá por falta de um atividade ou por causa do feriado declarado pelo governo o desemprego atinge de 70% a 80% dos haitianos, que vivem da venda de artigos variados e de doações. O trabalho que poderia vir das obras de reconstrução praticamente não existe.
Para relembrar as vítimas, multidões se reuniram diante de pequenas igrejas evangélicas e fizeram procissões pelas ruas. Na frente do Palácio Nacional, ainda em ruínas e um dos principais ícones da destruição causada pelo terremoto, um grande evento reuniu milhares de pessoas durante todo o dia, mas especialmente às 16h53, horário exato em que a terra tremeu um ano atrás.
Enquanto isso, as forças armadas monitoravam qualquer exaltação maior, temendo novos conflitos como os que ocorreram no início de dezembro, após o anúncio do resultado do primeiro-turno da eleição presidencial de 28 de novembro. Agora, a Organização dos Estados Americanos (OEA) comanda a recontagem de votos, cuja divulgação é prometida para os próximos dias.
Mercado
Embora a situação tenha mudado muito pouco desde a tragédia, a reabertura do mercado Hyppolite, um edifício gigante e centenário no centro de Porto Príncipe, é considerado um marco para a reconstrução do país. Em cores vivas que contrastam com o cinza das construções precárias do centro da capital, o prédio foi reinaugurado na terça-feira e contou com a presença do ex-presidente norte-americano Bill Clinton. O mercado é uma boa representação de como a saída para o Haiti pode estar na construção civil. Com a reinauguração, o local já fez a economia girar. O vigia do novo mercado, por exemplo, recebeu um aumento de salário quando a empresa para a qual trabalha fechou contrato para prestar segurança dentro do novo centro de vendas.
Na celebração em frente ao Palácio Nacional, a reportagem conheceu a jovem Franci Lanbert, de 33 anos e mãe de quatro filhos. Simpática, ela mostrou a barraca onde se instalou após o tremor, quando perdeu a casa no centro da cidade. O acampamento fica ao lado do antigo prédio presidencial. Em cerca de 4 metros quadrados, ela tem uma cama, onde dorme com o marido e os filhos, e um pequeno fogareiro, onde se viam algumas brasas e pedaços de cenoura. A sensação térmica debaixo das lonas que servem de telhado era de mais de 40 graus Celsius. Apesar da degradação de suas condições de moradia, ela se diz feliz com o emprego encontrado após a tragédia, como faxineira da ONG brasileira Viva Rio. A organização aumentou a abertura de vagas no último ano. Enquanto Franci ganhava cerca de US$ 50 por mês antes do tremor, agora sua renda subiu para US$ 200. O marido está desempregado.
Passeando no feriado com roupas de rapper, Jacob Fleuranvil, de 18 anos, também melhorou de vida após o terremoto. Ele trabalhava como vendedor informal, atividade em que conheceu os militares brasileiros que servem na missão da ONU no país. Com eles aprendeu português e foi contratado para realizar serviços de faxina na nova base, aberta após o tremor no centro da cidade para intensificar a presença na região de alta densidade populacional. O irmão já trabalhava na mesma função, e hoje os dois sustentam a família de 15 pessoas, com salário de cerca de US$ 150.