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Mohammed bin Salman

A força do petróleo: príncipe saudita vai de pária a queridinho de governos por todo o mundo

O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman durante a cúpula do G20 de 2018, em Buenos Aires (Foto: EFE/Ballesteros)

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Até o início deste ano, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (conhecido como MBS) era um dos grandes párias da geopolítica mundial.

Desde o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto em 2018 dentro do consulado do país árabe em Istambul, na Turquia (crime que, segundo relatório da CIA, teria sido aprovado por MBS), chefes de Estado do Ocidente e de países aliados vinham evitando se encontrar com o príncipe.

O presidente americano, Joe Biden, na sua campanha vitoriosa à Casa Branca em 2020, prometeu tratar a Arábia Saudita como “pária” caso vencesse a eleição. Uma das exceções foi o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que se encontrou com o príncipe saudita durante a cúpula do G20 de 2019, no Japão.

Nada como um dia após o outro: a alta inflação em todo o mundo, na qual a alta do petróleo tem grande peso, e a guerra na Ucrânia, que vem levando o Ocidente a buscar o fim das importações de hidrocarbonetos russos, fizeram o outrora rejeitado MBS se tornar novamente o queridinho de governos defensores dos direitos humanos (ao menos no discurso) em todo o mundo – estes, como sempre aconteceu na relação com os sauditas, voltaram a desconsiderar as violações praticadas pela monarquia de Riad.

O próprio Biden visitou MBS em julho para pedir aumento na produção de petróleo e assim forçar uma queda nos preços. Dias depois, o príncipe herdeiro visitou Emmanuel Macron em Paris, e o presidente francês fez o mesmo pedido.

Ambos foram solenemente ignorados: na primeira semana de outubro, a Organização dos Países Produtores de Petróleo com acréscimo da Rússia (Opep+) decidiu cortar a produção mundial em 2 milhões de barris por dia, o que representa 2% do que é produzido em todo o mundo. Na prática, a Arábia Saudita lidera o grupo.

Os Estados Unidos anunciaram que iriam “rever” sua relação com Riad após a desfeita. Em novembro, porém, o Departamento de Justiça dos EUA apresentou um documento legal ao tribunal federal do Distrito de Columbia, para recomendar que bin Salman seja declarado imune, dada sua condição de primeiro-ministro saudita (cargo que assumiu em setembro, embora já governasse o país na prática), no caso pela morte de Khashoggi.

O governo Biden alegou que essa medida não representa uma reaproximação com MBS e que essa imunidade é padrão para chefes de Estado e de governo e ministros das Relações Exteriores enquanto ocupam tais cargos.

Em todo caso, a chancela de Biden e Macron a MBS como um governante com quem se deve manter diálogo parece ter feito outros líderes seguir o mesmo caminho.

No mês passado, o novo premiê britânico, Rishi Sunak, se encontrou com bin Salman na cúpula do G20 em Bali, na Indonésia. Segundo um porta-voz de Downing Street, além de petróleo, outros temas foram abordados.

“Os líderes também compartilharam sua preocupação com as ameaças à paz e à segurança no Oriente Médio, incluindo a atividade desestabilizadora do Irã na região”, informou. “O primeiro-ministro saudou as fortes relações comerciais e a colaboração em defesa e segurança entre nossos dois países, e os líderes se comprometeram a buscar oportunidades para aprofundar os laços de investimento em setores estratégicos.”

A morte de Khashoggi não foi abordada no encontro – ao contrário do que aconteceu na conversa entre Biden e MBS em julho. Meses antes, um dos antecessores de Sunak, Boris Johnson, já havia se encontrado com bin Salman.

Gargalhadas na abertura da Copa

Também em novembro, o príncipe saudita visitou em Seul o presidente da Coreia do Sul (histórica aliada americana), Yoon Suk Yeol, e este afirmou que empresas do país poderiam participar de megaprojetos na Arábia Saudita, entre eles o de Neom, uma cidade futurista e sem emissões de carbono a ser construída na costa do Mar Vermelho.

A volta definitiva de MBS ao grande palco da geopolítica mundial foi sua presença na abertura da Copa do Mundo do Catar, em 20 de novembro, quando foi visto às gargalhadas na tribuna do estádio Al Bayt com o presidente da Fifa, Gianni Infantino.

Para Abdulaziz al-Sager, presidente do Centro de Pesquisa do Golfo em Jeddah, o pragmatismo acabou predominando, principalmente a partir da mudança de posição dos americanos. Estes pensam no petróleo, mas também citaram a necessidade de dialogar com Riad para frear as influências russa, chinesa e iraniana no Oriente Médio.

“Os Estados Unidos tentaram limitar a importância e o papel do reino regional e internacionalmente, mas, primeiro, descobriram que esse objetivo era inatingível e, segundo, que prejudicava seus próprios interesses”, argumentou Sager, em entrevista à Reuters.

“Portanto, há um processo de recuo dos americanos [na atitude] de assumir posições negativas em relação ao reino”, acrescentou Sager, que destacou que a própria natureza do Estado saudita exige esse pragmatismo: “Não é possível fazer uma separação entre lidar com a liderança e lidar com o Estado, especialmente em uma monarquia hereditária”.

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