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Depois da crise

A Grécia está se recuperando, mas quem saiu de lá não quer mais voltar

Clube de engenheiros gregos expatriados, em Düsseldorf, na Alemanha, recebe recém-chegados do país mediterrâneo. Cidade alemã está se tornando uma pequena Atenas | FELIX BRUGGEMANN/NYT
Clube de engenheiros gregos expatriados, em Düsseldorf, na Alemanha, recebe recém-chegados do país mediterrâneo. Cidade alemã está se tornando uma pequena Atenas (Foto: FELIX BRUGGEMANN/NYT)

Após uma década de problemas econômicos, a Grécia finalmente parece estar endireitando, mas, tente dizer isso aos gregos que partiram e não têm planos de voltar, como Constantino Kakoyiannis. Ele ergueu seu copo de cerveja e fez um brinde à namorada em um café alemão em Düsseldorf, ao lado de 40 amigos. O grupo, parte de um clube de engenheiros gregos expatriados, estava recebendo vários recém-chegados que haviam saído da Grécia nos últimos meses. 

 "A situação não está melhorando. Quando você percebe que seu país se tornou um cemitério de sonhos, precisa descobri-los em outro lugar", disse Kakoyiannis. Enquanto o continente finalmente emerge da crise econômica, a Grécia ainda enfrenta desafios. Quase meio milhão de gregos se tornaram imigrantes econômicos desde que a crise começou, um dos maiores êxodos de países da zona do euro.  E continuam partindo. 

 Entre eles há médicos, técnicos, arquitetos e outros profissionais qualificados, além de recém-formados que continuam de olho no próspero Norte da Europa em busca de trabalho. Kakoyiannis conseguiu um cobiçado emprego de engenheiro, e sua namorada o acompanhou. 

Fim simbólico da crise

Enquanto Atenas se prepara para sair de uma dependência de oito anos de resgates financeiros internacionais e pagamento dessas dívidas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras já declarou que houve uma recuperação, com o crescimento dando sinais da tão esperada retomada. Recentemente, Tsipras adotou um novo modelo econômico para a Grécia e pediu que os gregos retornassem para ajudar a reconstruir o país. Os líderes europeus anunciam o fim simbólico da crise da dívida grega que começou em 2010. 

 Mas, para muitos que fugiram da economia fraturada, o otimismo parece prematuro. 20% da população continuam sem emprego, e a economia continua menor do que era há uma década. Além disso, a incerteza política na Itália, com a possível ameaça ao destino do euro, tem o potencial de minar os progressos alcançados pela Grécia. 

 "Quando uma economia é destruída, leva muitos anos para se recuperar. O resgate pode estar acabando, mas os problemas que afastaram as pessoas, não", disse Vassilis Kapoglou, que fundou o Clube dos Engenheiros Gregos da Renânia do Norte-Vestfália depois de deixar a Grécia em 2013, quando acabaram os projetos de construção. 

 Seguindo o caminho

Muitos que foram para a Alemanha seguiram o caminho aberto por um grupo de gregos na década de 1950, quando a Alemanha procurava trabalhadores para a mineração e a construção civil para reconstruir as cidades após a Segunda Guerra Mundial. Hoje, na Renânia do Norte-Vestfália, região industrial que inclui Düsseldorf e Colônia, estima-se que 130 mil gregos foram absorvidos pela demanda alemã em tecnologia, telecomunicações e construção civil, além de bancos, hospitais e farmácias. 

 Na vanguarda da contínua onda de emigração estão os engenheiros. Os investidores mostram interesse renovado na Grécia, mas projetos de construção, desenvolvimento e tecnologia ainda lutam para se recuperar. "Os engenheiros estão conectados ao desenvolvimento de um país, mas não há desenvolvimento acontecendo na Grécia", disse Martha Ouzounidou, engenheira química de Tessalônica, que foi para Düsseldorf em outubro, depois de conseguir uma vaga em uma fabricante alemã de baterias de carro elétrico. 

 Os engenheiros que ficam para trás são normalmente sustentados pelos pais, ou basicamente encontram empregos de baixa remuneração na construção de hotéis, ligados ao setor do turismo, um dos poucos que cresce no país, segundo Kapoglou. 

 No café onde seu grupo se reuniu em um sábado recente, havia pelo menos cinco novos engenheiros gregos que se mudaram para Düsseldorf nos últimos meses e já tinham arrumado emprego. O clube agora conta com quase 900 membros. "Os alemães nos acolheram porque querem pessoas altamente qualificadas", disse Kapoglou.

Essa é uma ironia amarga para as famílias que permaneceram. A Alemanha foi vista como a líder da austeridade na Grécia, exigindo cortes debilitantes nas pensões, salários e no setor público em troca de 326 bilhões de euros (US$380 bilhões) em resgates de credores para reduzir a dívida grega que não parava de crescer. Muitos gregos agora culpam a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, por sua situação. 

Desgosto com o governo

Porém, aqueles que saíram do país estão mais desgostosos com seu próprio governo, que segundo eles sempre gerenciou mal a economia, falhando no combate à corrupção, na redução do Estado e no incentivo ao investimento. As mudanças exigidas pelos credores da Grécia procuraram forçar melhorias em problemas estruturais profundamente enraizados na administração pública, na cobrança de impostos, no sistema judiciário e na regulamentação empresarial. Esses credores ainda estão pressionando Atenas a adotar medidas de austeridade antes do prazo estipulado para junho para determinar a concessão de um alívio para a dívida do país. 

 Kakoyiannis, o engenheiro que saiu com a namorada, resistiu até 2016, pouco depois que controles de capital foram impostos em um momento caótico, quando a Grécia quase saiu da zona do euro.

 Antes disso, ele se sustentava com três trabalhos de pesquisa que mal pagavam o aluguel. Mesmo com a objeção familiar, enviou currículos para outros países e logo recebeu ofertas de dois empregos no Vale do Silício. Para ficar mais perto de casa, Kakoyiannis optou por um trabalho perto de Düsseldorf, para uma empresa de tecnologia alemã com 180 outros engenheiros, projetando antenas de celular e outros dispositivos sem fio. 

 Sua namorada, Kalliope Rapti, tinha uma empresa de ensino de línguas on-line na Grécia. Apesar das promessas do governo para ajudar as pequenas empresas, mais da metade de seu tempo era gasto com a burocracia do país e as mudanças das regras fiscais. Quando ela registrou seu negócio aqui depois que se mudaram, o processo on-line levou cinco minutos. Rapti planeja contratar cinco funcionários este ano. "Na Grécia, era uma bagunça. Na Alemanha, a abordagem é: 'Se o ajudarmos a ganhar dinheiro, você vai pagar impostos'", disse. 

 Transição problemática

Mesmo com os muitos gregos planejando carreiras e até mesmo famílias na Alemanha, a transição nem sempre é fácil. O clima chuvoso de Düsseldorf, o modo direto dos alemães e a dificuldade de fazer amigos – mesmo depois de aprender a língua – podem ser uma dificuldade. Isso sem mencionar a saudade de casa, os sonhos destruídos e a aceitação gradual de que a vida que queriam construir na Grécia pode acontecer em outro lugar. 

 Kapoglou e a esposa, Katerina, engenheira ambiental, estão entre os poucos que poderiam ousar voltar. Embora tenham pouca fé no governo grego, estão apostando que podem transformar seu conhecimento de engenharia e sua experiência comercial internacional na Alemanha em um negócio rentável. 

 Para capitalizar sobre o interesse em turismo em torno de sua cidade natal, Ioannina, que se encontra em uma bela região no norte da Grécia, eles planejam criar uma consultoria para atrair investidores russos e chineses para projetos de construção. "Gostaríamos de fazer parte de uma migração de talentos", disse Kapoglou. 

No entanto, pode levar anos, ou mesmo uma geração inteira, antes que uma mudança significativa ocorra. 

 Após a reunião do clube de engenharia, Kakoyiannis e Rapti foram para seu apartamento na periferia de Düsseldorf e fizeram um almoço grego tradicional com souvlakia, tzatziki e pão pita. Kakoyiannis contou que sua mãe o estava pressionando, querendo saber quando voltariam para a Grécia. "Voltar para quê? Para não ter emprego nem futuro?", ele diz ter respondido. 

 O casal, que namora desde a universidade, adiou a vinda de filhos durante a crise grega. Agora, estão planejando ter um bebê, mas não como seus pais desejavam, na Grécia.  "Na Alemanha, temos esperança no futuro. E o mesmo acontecerá com nosso filho", disse Rapti.

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