A 1ª Guerra Mundial foi marcada pelo uso de trincheiras como estratégia de batalha| Foto: Wikimedia Commons

Uma guerra que transformou profundamente a vida no planeta. O mapa-múndi foi redesenhado com a fragmentação da Europa e do Oriente Médio. Em pouco tempo, o Império Otomano deixou de existir, e novas correntes políticas ganharam força, como o socialismo e o fascismo. Os Estados Unidos se consolidaram como a grande potência política e econômica. Essa foi a 1.ª Guerra Mundial (1914-1918), que começou no dia 28 de julho e deixou marcas que ditaram os novos rumos da história da humanidade.

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A inserção da tecnologia no campo de batalha ajudou a inflar números: foram 9 milhões de mortos e 20 milhões de feridos. O conflito levou à independência países como Iugoslávia, Finlândia, Hungria e Polônia. Fronteiras arbitrárias fizeram surgir novas nações no Oriente Médio,que era até então, à exceção do Irã,um bloco dominado pelo Império Otomano.

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Quando o conflito começou, o planeta vivia em tempo de reis e condes. O Velho Mundo controlava boa parte dos países, com possessões coloniais na África e Ásia. A política imperialista levava grandes nações, como França, Inglaterra e Alemanha, a estenderem seus domínios para outros territórios. O objetivo era ampliar o mercado consumidor e deter matéria-prima para garantir a sobrevivência das indústrias.

Foi aí que a história começou a mudar de curso. Na Europa, o Império Austro-Húngaro reunia as mais diversas etnias sob uma mesma administração. "Era evidente que o mapa ia ser reorganizado de um jeito ou de outro", diz o historiador Marcello Scarrone, pesquisador da Revista de História da Biblioteca Nacional. A guerra pode ter acelerado tais mudanças. Caiu o Império para entrar em cena países menores, como Romênia, Checoslováquia, Hungria e Áustria, agora reduzida à população de língua alemã.

Para o historiador Wilson Maske, a chamada segunda revolução industrial, a partir de 1870, acelerou a disputa entre as potências da época, que queriam ampliar fronteiras territoriais. A gota d’água foi o atentado em Sarajevo no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua mulher, Sofia, perpetrado por um jovem nacionalista que sonhava com uma Sérvia mais extensa, na região dos Bálcãs, que antes da 1.ª Guerra incluía também países como Bulgária, Grécia e a Albânia.

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Scarrone lembra que a região sempre foi vista pela Rússia como prioridade, já que passaria a ter condições melhores de concorrer com as outras potências da época e também dominar os estreitos do Mar Negro. "A Rússia olhava com desejo de proteção para os países dos Bálcãs, queria ter o controle territorial sobre essa região eslava", afirma Maske.

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A disputa no campo político

As marcas deixadas pela 1.ª Guerra Mundial se tornaram fatores relevantes no lapso de tempo entre o fim do conflito, em 1918, e o início da 2.ª Guerra Mundial, em 1939. O Tratado de Ver­­­salhes, acordo de paz elaborado pelos vitoriosos do primeiro conflito, responsabilizando a Alemanha, tinha sido construído com o intuito de manter o país enfraquecido ao longo dos anos. Tal situação foi encarada por muitos, inclusive por Adolf Hitler, como injusta e humilhante, e levou o regime nazista a entrar em conflito com outras nações. Somado a outros fatores – como as crises constantes durante o período da "República de Weimar", regime político instalado na Alemanha do pós-guerra –, a tensão foi capaz de desencadear a 2.ª Guerra Mundial.

“A Alemanha teve suas colônias retiradas e recebeu a sentença de culpada pela guerra. Isso deixou marcas no povo germânico, abrindo espaço para a ideologia nazista”, afirma o historiador Marcello Scarrone.

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Além do nazismo alemão, ganhou fôlego no pós-1.ª Guerra, o fascismo de Benito Mussolini na Itália. Mais tarde a influência fascista atinge Portugal, com Antonio Salazar, e a Espanha, com Francisco Franco.

Socialismo

Ainda com a 1.ª Guerra em andamento, a Rússia faz a primeira revolução socialista do mundo. "Isso se torna visível com o fim da 1.ª Guerra e influencia o mundo todo", afirma Scarrone. O capitalismo dos Estados Unidos também aparece como alternativa política econômica. "Grande parte dos países europeus estava com dificuldades e o governo norte-americano passou a ser um dos credores dessas nações", explica Scarrone.

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A fragmentação do Oriente Médio

Em 1916, foi negociado secretamente o acordo Sykes-Picot, de desmembramento do Império Otomano, que provocou a fragmentação do Oriente Médio. Os signatários foram a França e a Grã-Bretanha, com a anuência da Rússia. O historiador Wilson Maske explica que o acordo levou à uma nova divisão territorial, interferindo no mapa da região que hoje corresponde à Síria (então controlada pelos turcos), ao Iraque, ao Líbano e à Palestina. Viraram áreas administradas por França e Inglaterra. Gradualmente, esses territórios viraram países.

“Essa região era estratégica do ponto de vista econômico e também geográfico”, diz Maske. O historiador Scarrone ressalta que os problemas políticos na região se arrastavam por décadas devido às características multiétnicas da população. “Era difícil as potências europeias ouvirem a população que morava há séculos no Oriente Médio. Era mais natural impor a geopolítica para aquela região e subjugar um povo”, diz.

Principais pontos do conflito global

Em julho de 1914, após a morte do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo, a Áustria declarou guerra contra a Sérvia. Entre 1914 e 1916, muita movimentação dos exércitos antecedeu a chamada fase das trincheiras da batalha. Houve a composição de dois blocos: os Aliados, formados por Rússia, Grã-Bretanha e França, apoiados por diversos países, como Itália, Estados Unidos e Brasil. Do outro lado, o bloco era integrado pelas chamadas Potências Centrais, que contavam com a Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária.

Ao falar sobre as rivalidades e divergências entre os dois lados na guerra, o historiador Eric Hobsbawm, morto em 2012, chegou a afirmar que diferentemente de guerras anteriores, em que havia objetivos limitados e específicos, na 1ª Guerra Mundial os envolvidos combatiam por metas ilimitadas. A Alemanha ambicionava o status de potência marítima até então conquistado pela Grã-Bretanha, nação que apresentava sinais claros de declínio frente a outras potências, como os Estados Unidos. Já a França, com uma rivalidade antiga e consolidada com a Alemanha, buscava ampliar seu território e suas bases econômicas. (DA)

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