Milhões de pessoas viram a fotografia de uma menina de dois anos chorando desesperadamente enquanto uma agente da Patrulha de Fronteira dos EUA revistava sua mãe. A cena, registrada pelo fotógrafo John Moore, se tornou um símbolo da nova política de "tolerância zero" do governo do presidente norte-americano Donald Trump, que já fez com que centenas de crianças fossem separadas dos pais ou responsáveis que viajavam com elas.
Fotógrafo premiado da Getty Images, Moore documentou guerras, doenças e crises de refugiados em todo o mundo e desde o final do governo George W. Bush, ele fotografava a crise dos migrantes americanos para a Getty Images. Já havia andado em cima de trens de carga com famílias carentes pela América Central e já havia seguido as patrulhas de fronteira dos EUA enquanto perseguiam homens através do cerrado do Texas. Também conhecia as rotas secretas pelos desertos, as travessias mais seguras do Rio Grande e os pontos mais sutis dos protocolos de busca e apreensão da Patrulha de Fronteira dos EUA.
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Ele sabia que quando pessoas sozinhas atravessavam o rio durante o dia, tendiam a correr ou se esconder da Patrulha da Fronteira, mas os grandes grupos que atravessavam à noite frequentemente se entregavam aos primeiros agentes americanos que encontravam. Destes imigrantes noturnos, muitos eram famílias, exaustas e assustadas, procurando asilo de qualquer terror que as fez deixar as suas casas na terra natal.
Mudança na política
Na noite de 12 de junho, Moore e uma unidade de guardas da Patrulha da Fronteira se agachavam entre as árvores na margem norte do Rio Grande, ouvindo as jangadas chegando à margem.
Havia dezenas de pessoas chegando, embora fosse difícil contar no escuro. Quando as luzes dos guardas os iluminaram, Moore viu que eram, em sua grande maioria, mulheres e crianças. Foi o maior êxodo familiar que ele viu em sua carreira.
Ele lembrou que enquanto aqueles imigrantes estavam deixando suas casas e viajando - alguns por semanas - os Estados Unidos mudaram as regras de imigração. Os pedidos de asilo que foram aceitos por anos podem agora ser rejeitados. Mães e pais, que teriam sido libertados para aguardar as audiências com os filhos, agora seriam presos e as crianças seriam apreendidas e mantidas pelo governo norte-americano.
O público americano acabara de ficar sabendo sobre a política de “tolerância zero”. Moore e os agentes da Patrulha da Fronteira que se esconderam com ele nas margens do rio Grande sabiam disso. Mas as pessoas nas jangadas... "Essas pessoas não tinham como saber", disse Moore.
Em seus rostos havia misturas de alívio e medo. Às vezes apenas um ou outro. "Havia um menino, de cerca de 10 ou 12 anos, que estava visivelmente aterrorizado", lembrou Moore.
A história da garotinha
O secretário de segurança interna sugeriu que as quase 2.000 crianças que foram apreendidas na fronteira desde abril foram tiradas de seus pais ou responsáveis para sua própria segurança. Como o governo poderia saber que seus pais não eram seus captores?
Enquanto os guardas organizavam as famílias naquela noite, Moore viu uma mulher amamentar uma criança no meio da rua. "Não havia lugar para privacidade", disse Moore, “então ela fez isso sob a luz faróis do veículo da Patrulha da Fronteira”.
"Fiz contato visual com a mãe e comecei a tirar algumas fotos", disse Moore. Em espanhol, ela contou a ele o essencial de sua história.
Sua filha tinha 2 anos, disse Moore. "Ela contou que elas estavam na estrada há um mês e que eram de Honduras. Eu só posso imaginar que perigos ela passou, sozinha com a garota".
Moore já esteve em Honduras; é um lugar tão dominado pela violência das gangues e pela pobreza que a National Geographic uma vez escreveu que o povo do país perdeu "o direito de envelhecer".
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Em uma ou duas horas, o turno da escolta da Patrulha de Fronteira que ele estava acompanhando terminaria e ele teria que ir embora. Então ele perguntou à mulher hondurenha se poderia seguir com ela pelo resto do processamento, o que ela permitiu.
Ao redor deles, outras famílias estavam sendo interrogadas e revistadas. Depois, eram colocados em uma van para serem levados ao destino que o sistema de imigração dos EUA determinasse.
A mãe hondurenha agachou-se na poeira enquanto esperava sua vez, os olhos no nível de sua filha. Na foto de Moore, parecia que ela estava amarrando os sapatos da garota. Mas ela não estava. "Ela estava desamarrando-os", contou. "A Patrulha Fronteiriça confisca todos os itens pessoais dos imigrantes. Eles pegam fitas de cabelo, pegam cadarços, tiram cintos, pegam dinheiro, levam alianças de casamento, levam todos os itens pessoais. Tiraram os cadarços das crianças".
A mãe colocou os cadarços e tudo o que elas levaram consigo por quase 2.500 Km em um saco de plástico transparente onde se lia "Homeland Security" (Departamento de Segurança Interna). Os agentes jogaram a sacola em uma pilha junto com outras, e então foi a vez da mãe ser revistada.
Moore estava ajoelhado na estrada a cerca de dois metros de distância. A maioria das outras famílias já estava na van. Ele sabia que as fotos que tirasse em seguida seriam as últimas antes de retornar ao seu quarto de hotel, depois voaria de volta para casa em Connecticut para estar com seus próprios filhos.
"Foi muito rápido", lembrou ele. A mãe colocou a menina no chão e uma agente começou a revistá-la. Imediatamente, a garota começou a gritar.
"Eu queria fazê-la parar de chorar", disse Moore. Imaginou que os guardas também quisessem isso; ele os tinha visto brincar com outras crianças durante as buscas para distraí-las do que estava acontecendo com seus pais.
"A mãe colocou as mãos contra o veículo e a menina estava chorando", disse Moore. "Nada podia ser dito que a acalmasse. Ela precisava estar com a mãe".
Depois disso, a mulher pegou a filha e entraram na van, que partiu. Moore nunca mais as viu.
Em sua cabeça, ele calculava as chances da garota. Segundo as novas políticas federais, ela seria tirada de sua mãe quando a van chegasse ao seu destino e não se encontrariam novamente até que o caso tivesse passado pelos tribunais, e então provavelmente voltariam ao país de onde fugiram.
Moore queria ser otimista - acreditar que, por alguma razão, a garota não teria que passar semanas ou meses no estado de espírito que havia testemunhado por apenas alguns segundos, quando estava sozinha na estrada.
Casal arrecada milhões
A imagem da garotinha hondurenha viralizou na internet nos últimos dias. A comoção com a cena fez com que o casal Charlotte e Dave Willner começasse uma campanha de arrecadação de fundos para ajudar as famílias que estão sendo separadas ao entrar ilegalmente nos EUA. O resultado obtido foi muito melhor do que eles haviam imaginado: a vaquinha que tinha o objetivo de arrecadar US$ 1.500 acabou mobilizando US$ 5 milhões e se tornou a maior campanha unitária da história do Facebook.
A arrecadação começou no sábado (16) e o objetivo era levantar fundos para a ONG Refugee and Imigrant Center for Education and Legal Services, conhecida como Reices e que presta serviço legal e de baixo custo para imigrantes e famílias de refugiados no Texas. Nos três dias seguintes, eles já haviam arrecadado US$ 5 milhões com a doação de 130 mil pessoas.
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