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Os avôs paternos de Trump, Elisabeth Christ e Friedrich Trump | Wikimedia Commons
Os avôs paternos de Trump, Elisabeth Christ e Friedrich Trump| Foto: Wikimedia Commons

O navio a vapor S. S. Eider chegou a Castle Garden em Nova York, o primeiro centro de imigração dos Estados Unidos, em 17 de outubro de 1885. Centenas de futuros americanos vindos da Alemanha haviam viajado por dez dias pelo Atlântico Norte até sua nova casa. Entre eles estava um garoto de 16 anos, magro e de cabelos claros, que havia deixado sua cidade natal, uma pequena vila produtora de vinho onde trabalhar duro significava apenas sobreviver. 

Friedrich Trump estava no convés, "esperando pelo primeiro vislumbre do porto de Nova York", escreveu Gwenda Blair em seu livro "Os Trunfos: Três Gerações Que Construíram um Império", de 2001. 

Ele não tinha muito; o jovem aprendiz de barbeiro havia trazido apenas algumas roupas espremidas em uma pequena mala. "Ele não sabia inglês. Ele não poderia saber inglês", disse Blair ao Washington Post. "Ele não tinha nada como um diploma de ensino médio. Era alfabetizado, mas em alemão". 

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A chegada marcou o início da vida, aventura e desventura da família Trump nos Estados Unidos. Anos depois, o adolescente começaria a acumular sua fortuna. Ele se casaria com Elizabeth Christ, uma garota de sua cidade natal. Juntos, teriam três filhos. O segundo filho, Fred Trump, expandiria o portfólio imobiliário da família, construindo empreendimentos habitacionais nos anos 1940 e 1950. Ele se casaria com Mary Anne MacLeod e, juntos, teriam cinco filhos. O quarto , Donald Trump, se tornaria o mais famoso da família, o 45º presidente dos Estados Unidos, cujas políticas de imigração linha-dura teriam impedido que o patriarca de sua família viesse para os Estados Unidos. 

Sob as políticas de hoje, Friedrich Trump teria sido considerado um menor desacompanhado, ou um "filho estrangeiro desacompanhado" (UAC, na sigla em inglês), dizem os especialistas, a menos que sua irmã mais velha, que era sua única parente nos Estados Unidos quando chegou, tivesse sido apontada como sua guardiã. Mas geralmente, disse David Leopold, advogado de imigração de Ohio, muitos menores desacompanhados chegam com parentes já no país. 

"Sob o presidente Obama, eles iriam acelerar sua remoção e priorizá-lo", disse o advogado de imigração de Nova York, Matthew Kolken. O mesmo teria acontecido sob a administração de seu neto.

A viagem

Friedrich Trump nasceu em 14 de março de 1869, em Kallstadt, uma aldeia de menos de 1.000 habitantes na região de Pfalz, no sudoeste da Alemanha. Sua família não era rica, nem mesmo de classe média, pelos padrões modernos. Eles possuíam e dirigiam uma pequena vinha, mas quando o pai de Friedrich, Johannes Trump, morreu quando ele tinha 8 anos, a família de seis filhos ficou profundamente endividada. Os irmãos que tinham idade suficiente para trabalhar ajudavam no vinhedo, e Katherina Trump extraía mais dinheiro fazendo pão enquanto cuidava de seus filhos, de acordo com Blair. Mas a família ainda estava sobrevivendo. 

Friedrich, o mais novo dos filhos, era frágil demais para trabalhar na vinha. Então sua mãe o mandou para uma cidade vizinha para aprender a se tornar um barbeiro. Trabalhava sete dias por semana, abrindo a barbearia todas as manhãs e varrendo as aparas do dia todas as noites, disse Blair. Dois anos e meio depois, ele voltou para casa como alguém que tinha um ofício e pronto para trabalhar. Foi quando percebeu que Kallstadt era pequena demais para precisar de outro barbeiro.

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Ele poderia (e deveria) servir nas forças armadas, uma exigência do governo alemão, mas ele queria outra coisa. "A sufocante falta de oportunidade na aldeia parecia se aproximar dele. Sem qualquer chance aparente para uma vida melhor, ele viu que o que estava à frente era sombrio, difícil e pobre", escreveu Blair. "Ele parecia não ter escolha a não ser sair". 

Certa noite ele escreveu um bilhete para sua mãe explicando que estava indo para o Novo Mundo, de acordo com o relato de Blair sobre o conto familiar. Quando Katherina acordou na manhã seguinte, seu filho tinha ido embora. Friedrich viajou quase 350 quilômetros até Bremen, na Alemanha, uma cidade portuária, onde pagou o equivalente a US$ 20 por uma passagem de terceira classe no S.S. Eider. 

Por viajar na terceira classe, ele recebia apenas uma refeição por dia. Não havia banhos e quase nenhuma água potável. Quando o S.S. Eider chegou ao centro de imigração de Castle Garden, em Manhattan, 10 dias depois, o fedor era tão acentuado que um magnata dos transportes marítimos e ferroviários que vivia do outro lado da rua reclamou dos imigrantes malcheirosos, disse Blair. 

Novos ares

No entanto, Blair supõe que Trump deve ter se sentido muito animado. "A América era deslumbrante na imaginação... Este país tinha acolhido imigrantes. A terra das oportunidades onde é possível fazer uma imensa fortuna, o que era praticamente impossível de acontecer na Alemanha, na pequena vila onde morava", disse ela. 

Trump chegou ao país durante a grande onda de imigração alemã para os Estados Unidos. A década de 1880 até o início dos anos 1900 foi um período de alta imigração para jovens em idade adulta, disse Manuel Orozco, um especialista em migração do Dialogue, um think tank sobre questões latino-americanas. Os imigrantes, particularmente os europeus do norte, não eram só bem-vindos; eram necessários. 

Apesar de a imigração ter sido relativamente livre e aberta durante o século 18 e o início do século 19, o governo americano começou a impor restrições à medida que o número de imigrantes aumentava. A Lei de Exclusão Chinesa de 1882, por exemplo, foi promulgada por causa de temores econômicos e atitudes racistas contra os trabalhadores chineses. Outras leis também foram promulgadas para impedir que certos trabalhadores chegassem aos Estados Unidos. 

Em 1897, o presidente Grover Cleveland vetou uma legislação que restringiria a imigração. A intenção era exigir um teste de alfabetização aos imigrantes, que deveriam ler cinco linhas da Constituição. Em sua mensagem de veto, o presidente disse: 

 

Até agora, saudamos todos os que vieram de outras terras, exceto aqueles cujas condições morais ou físicas ou a história ameaçavam o perigo para nosso bem-estar e segurança nacionais ...  Temos encorajado aqueles que vêm de países estrangeiros a se juntarem a nós e nos unirmos para o desenvolvimento de nossos vastos domínios, garantindo em troca uma participação nas bênçãos da cidadania americana.

A cidade de Nova York era, em muitos aspectos, uma cidade alemã. Trump morava com sua irmã mais velha, que se mudara para os Estados Unidos no ano anterior, no Lower East Side de Manhattan. Os vizinhos falavam sua língua e o cheiro familiar de pão alemão, como o que sua mãe fazia em casa, enchia o ar aos domingos, escreveu Blair.

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Ele trabalhava como barbeiro, mas isso não era suficiente para Trump. Se mudou para o Noroeste do país anos depois para fazer fortuna durante a Corrida do Ouro. Ele abriu empresas - hotéis, tabernas e restaurantes, geralmente localizados em zonas de prostituição - em cidades onde havia mineração.

"Ele já era suficientemente perspicaz e focado para perceber que o dinheiro estava minando os mineiros e não o contrário", disse Blair, que teve o cuidado de não dizer que Trump administrava bordéis. "Acho que não sabemos bem disso". 

Volta à Alemanha e retorno aos EUA

No início de 1900, ele era um homem rico, casado e um cidadão americano. Mas sua esposa, Elizabeth Christ Trump, nunca conseguiu se adaptar aos Estados Unidos. A família voltou para a Alemanha em 1904. A cidade de onde tinham partido os recebeu de braços abertos, mas altos funcionários do governo não. Eles determinaram que Trump fosse deportado porque evitou servir nas forças armadas quando era jovem. 

Trump levou sua esposa grávida e filha de volta para Nova York, onde moravam em um apartamento em um bairro alemão no sul do Bronx. Meses depois, Elizabeth deu à luz Frederick Christ Trump, que se tornaria o pai do presidente. 

Friedrich Trump morreu aos 49 anos em 1918. O neto famoso nasceria quase 30 anos depois.

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