As explosões no Sri Lanka neste domingo (21), que mataram mais de 200 pessoas e feriram centenas, foram a violência mais letal do país desde o fim de sua guerra civil, há uma década.
As explosões no domingo de Páscoa foram diferentes da violência que caracterizou a guerra civil. Essa guerra foi travada em grande parte ao longo de linhas nacionais e étnicas. No domingo, as igrejas estavam entre os alvos.
A guerra civil teve suas raízes nos tempos coloniais, durante os quais os britânicos eram vistos pela maioria cingalesa como favorecedores da minoria tâmil. Quando o domínio colonial britânico terminou em 1948, a maioria cingalesa destituiu os trabalhadores tâmeis das plantações, tornou o cingalês a língua oficial do país e fez do budismo a principal religião do país (a maioria dos cingaleses é budista; a maioria dos tâmeis é hindu).
Foi neste contexto que, em 1976, um homem chamado Velupillai Prabhakaran formou os Tigres de Liberação do Tamil Eelam, os LTTE, ou Tigres Tâmeis, dedicados à luta pela independência dos tâmeis. Em 1983, o LTTE emboscou um comboio do Exército. Treze soldados foram mortos. Na sequência, tumultos deixaram até 3.000 tâmeis mortos. Esse pogrom, conhecido como Julho Negro, marcou o início da violência em grande escala no Sri Lanka.
Tigres Tâmeis
A Índia enviou uma missão de manutenção da paz ao Sri Lanka em 1987, mas deixou o país três anos depois. Em 1991, um homem-bomba do Tigres Tâmeis assassinou Rajiv Gandhi, que era o primeiro-ministro da Índia quando Nova Deli enviou a força de paz (o LTTE inesperadamente pediu desculpas em 2006). Em 1993, o presidente do Sri Lanka Ranasinghe Premadasa foi assassinado; nenhum grupo assumiu responsabilidade, mas todos os olhos se voltaram para o LTTE. Os Estados Unidos colocaram o grupo em sua lista de terroristas em 1997. Isso não impediu o LTTE: em 2001, ele atacou o aeroporto de Colombo, capital do Sri Lanka, arruinando metade da frota da companhia aérea nacional e parte das aeronaves militares.
Em 2002, a Noruega negociou um acordo de cessar-fogo. Mas em 2005, o ministro das Relações Exteriores Lakshman Kadirgamar, que era tâmil, mas que liderou o esforço para conseguir que o LTTE fosse considerado uma organização terrorista, foi baleado por atiradores. Os militares culparam os Tigres Tâmeis.
Fim da guerra
Nos anos seguintes, os dois lados violaram o cessar-fogo. Em maio de 2009, o Sri Lanka anunciou que o exército havia tomado o controle de toda a ilha e matado Prabhakaran. A guerra foi formalmente encerrada.
Por dois anos após o fim da guerra, o governo negou que quaisquer civis tivessem sido mortos, mas finalmente admitiu em 2011 que alguns foram mortos. Ao anunciar o fim da guerra, o governo alegou que seu conflito havia sido com os Tigres Tâmeis, e não com o povo tâmil. Mas as Nações Unidas estimaram que cerca de 40.000 civis tâmeis podem ter morrido nos últimos meses da guerra. O atual presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, está resistindo à pressão das Nações Unidas para investigar crimes de guerra.
Houve incidentes durante a guerra que se centraram na religião. Por exemplo, em 1987, o LTTE realizou o massacre de Aranthalawa, matando 33 monges budistas. Mas a guerra civil foi em grande parte sobre o nacionalismo. Embora um grupo fosse em sua maioria hindu e o outro majoritariamente budista, havia cristãos em ambos os grupos, e alguns Tigres Tâmeis eram católicos.
Ao declarar que a guerra tinha chegado ao fim, o então presidente Mahinda Rajapaksa disse: "Precisamos encontrar uma solução doméstica para esse conflito. Essa solução deve ser aceitável para todas as comunidades. Temos de encontrar uma solução baseada na filosofia do budismo".
A década que se seguiu foi em grande parte pacífica – poucos foram mortos em ataques relacionados com o terrorismo no Sri Lanka. No entanto, o nacionalismo budista se tornou sua própria forma de violência, embora muito menos mortal do que a guerra civil. Uma turba budista atacou uma mesquita em 2013, ferindo 12; Missas cristãs ocasionalmente foram interrompidas por monges budistas.
Os ataques de domingo que visaram os cristãos parecem ser mais uma virada para a violência baseada em religião. Nenhum grupo imediatamente assumiu a responsabilidade, mas partidários do Estado Islâmico foram rápidos em comemorar as explosões, retratando-as como vingança por ataques a muçulmanos e mesquitas.
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