Cadeiras em uma casa destruída por tornado em Joplin, no Missouri| Foto: Sarah Conard/Reuters

Mitt Romney gosta muito da América. Seu ônibus ostenta o slogan "Acredite na América", e ele gosta de se comparar a um incumbente que (su­­postamente) "acredita fundamentalmente que o próximo sé­­culo é o século pós-americano". Mas Romney não somente acredita que a América é o melhor país no mundo, ele acredita que ela é "a maior nação na história da Terra". E é? A América realmente me­­rece o ardor luxurioso de Rom­­ney?

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No verão de 2010, a revista New­­sweek concluiu que a Fin­­lândia, seguida pela Suíça, é o melhor país na Terra, citando uma nota composta com base em educação, saúde, qualidade de vida, dinamismo econômico e ambiente político. Também se poderia argumentar que a qualidade de vida por si só determina o melhor país, e, nesse caso, o ven­­cedor, pela medida da News­­week, seria a Noruega. A América ficou em 11.º lugar geral e 9.º em qualidade de vida. O Índice de De­­senvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas nos põe em 4.º, atrás da Austrália, dos Países Baixos e, de novo, da Noruega.

Esses números podem ser interpretados de modos diferentes, mas a mensagem permanece a mesma: a América é legal, mas não é bem número um. Depen­­dendo de como se olha, um ou mais dos países nórdicos (às ve­­zes na companhia da Suíça ou dos Países Baixos) sempre nos vencem, assim como pelo menos um dos países anglófonos do tipo "versão light da América". Para nosso crédito, somos um país muito grande, enquanto a Noruega e a Austrália são minúsculas. Se ajustarmos essa medida de "o quanto um país é legal" ao tamanho da população, fica claro que somos líderes mundiais em padrões de vida agregados, assim como somos líderes em PIB, poder militar e outros indicadores. Nossa combinação de tamanho e prosperidade deixa os outros no chinelo.

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A alegação de Romney, no entanto, é histórica. Não somos apenas a maior nação atual, mas a maior nação de todos os tempos. Sério mesmo?

Em termos de poder puro, é difícil vencer o Império Mongol dominado por Genghis Khan e seus sucessores. Cobrindo da Chi­­­­na à Rússia, até onde hoje é o Irã, e com soldados chegando até Budapeste, mais ao oeste, ele foi uma conquista realmente im­­pressionante. Mas, apesar de to­­da a sua habilidade em cavalaria e artilharia, os mongóis ti­­nham deficiências em muitas outras coisas importantes. Não há grandes obras de literatura mongol da era imperial, nem grandes filósofos mongóis, nem mesmo muita coisa no que diz respeito a monumentos impressionantes. A antiga Atenas, em contraste, teria nota 11 em cultura, mas era quase nada politicamente.

O Império Britânico, sobre o qual, em seu auge, o sol jamais se punha, era um concorrente muito forte. Em termos militares, ele atravessou a Terra como um co­­losso. Ele dominou a economia global de maneira ainda mais extensiva da que como dominou os mares.

Em termos culturais, o Im­­pério Britânico é exemplar. E além da música, da arte, da literatura e de alguns museus e palácios de destaque, foi na Grã-Bre­­tanha que foram forjados os pilares da democracia moderna – governo representativo, liberdades civis e setor Judiciário im­­parcial. A falha da Grã-Bretanha foi sua falta de longevidade.

Dinastias

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A China se destaca do bando por transcender a ascensão e queda de governantes individuais e por demonstrar uma atordoante uni­­dade e continuidade cultural. A força da língua e da sociedade chi­­nesa é tamanha que on­­das sucessivas de governantes, fossem de origem mongol, manchu ou mar­­xista, acabaram se rendendo à grande civilização chinesa. A Chi­­na de hoje, com cerca de 15% da população mundial, é relativamente pequena, na verdade, se comparada à das dinastias Qing ou Tang, que, por algumas estima­­tivas, foram lar de mais de 25% da humanidade. No entanto, a China não disseminou ideias be­­néficas para além de suas frontei­­ras na mesma me­­dida que o fizeram a Grécia, a Ro­­ma, a Grã-Bre­­tanha e os EUA. Sob essa visão crí­­tica, ain­­da temos uma vantagem.

*Matthew Yglesias é o correspondente de negócios e economia da Slate. Seu primeiro livro, Heads in the Sand [Cabeças na Areia, em tradução livre] foi publicado em 2008. Seu segundo livro, The Rent Is Too Damn High [O Aluguel Está Careiro Demais, em tradução livre], será publicado em março de 2012.

Tradução de Adriano Scandolara.