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Depois de alcançar uma vitória eleitoral com apenas um terço dos votos e uma vantagem de meio ponto porcentual sobre o segundo colocado, e de enfrentar acusações de fraude que levaram a um movimento de resistência, Felipe Calderón converte-se hoje no novo presidente do México.

O desafio imediato de Calderón será construir pontes com aqueles que põem em dúvida a legitimidade de seu triunfo, de modo a recuperar no curto prazo a governabilidade. Nos últimos dias do regime de Vicente Fox, esta última foi ameaçada por conflitos sociais e pela violência causada pelo crime organizado.

Para esta tarefa, o aguerrido mandatário deverá estabelecer uma estratégia que combine de maneira criativa a mão estendida e o punho de ferro. A mão estendida para buscar acordos políticos em um Congresso dividido entre os principais partidos políticos – PAN, PRD e PRI – e onde a batalha campal dos dias anteriores à posse de Calderón são uma amostra das tormentas que terá de enfrentar se deseja levar adiante as reformas estruturais que seu antecessor não pôde fazer.

Há ainda o recente conflito com os professores do estado de Oaxaca. Embora este pareça ter entrado em uma fase de dissolução, Calderón precisará de muito tato para silenciar as vozes de incoformidade que desataram a revolta no sul do México. A questão de Oaxaca, que incluiu a detonação de bombas, levou ao coração do país a lembrança de que ainda subsistem células guerrilheiras muito mais radicais do que o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN, que teve confrontos armados com autoridades no estado mexicano de Chiapas, em 1994).

Apesar disso, a escolha do conservador Francisco Ramírez Acuña, um personagem ligado à ala mais dura do PAN, para responsável pela política interna do país parece sinalizar que Calderón mantém-se alheio a essa peremptória necessidade de diálogo. A tolerância e o reconhecimento do outro estão muito longe de ser qualidades de Ramírez Acuña, cuja gestão como governador de Jalisco foi marcada pelo uso excessivo da força pública.

Duas amostras das acusações que pesam contra ele: o Tlajomulcazo e a repressão aos manifestantes na cúpula América Latina-União Européia. No primeiro caso, em 2002, ele ordenou uma ação policial contra uma festa de música eletrônica em Guadalajara, capital de Jalisco, com o argumento de que no local haveria comércio de drogas. A medida resultou na prisão, sem mandado, de dezenas de jovens. Na outra, em maio de 2004, houve acusações de tortura contra as autoridades locais.

A área em que se impõe uma política agressiva é a segurança pública, uma vez que os grandes grupos de traficantes iniciaram uma guerra não-declarada às instituições, guerra que se evidencia pelas notícias cotidianas de execuções sangrentas vinculadas ao narcotráfico.

Somente na Cidade do México foram 140 este ano, e as vítimas são freqüentemente policiais de alta patente.

Como sintoma do escasso respeito da delinqüência pela autoridade conta-se o recente caso ocorrido na carceragem da cidade de Morelia, onde presos sentenciados por seqüestro se amotinaram e tomaram como reféns a um grupo de advogados. Pediam que lhes fosse entregue um carro blindado e que sua fuga fosse autorizada. As negociações fracassaram, e a rebelião terminou com uma incursão da polícia federal e a morte de quatro dos advogados.

Para fazer frente a esse ambiente de violência será primordial que, desde os primeiros dias de seu governo, Calderón mande sinais de sua intenção de atacar com rigor a delinqüência.

Assim, a receita desejável para o novo governo será uma mão estendida que busque a negociação política e um punho de ferro contra o crime organizado. Nunca, confiemos, o contrário.

Tradução: Franco Iacomini

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