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"Na Índia, a ascensão dos dalits está limitada aos  negócios. Não temos esportistas, jornalistas, nas propagandas de tevê ou de revistas, modelos, atores" | Reprodução
"Na Índia, a ascensão dos dalits está limitada aos negócios. Não temos esportistas, jornalistas, nas propagandas de tevê ou de revistas, modelos, atores"| Foto: Reprodução

Nova Délhi - Autor do livro Dalit Phobia: Why Do They Hate Us? (Dalitfobia, por que eles nos odeiam?), Chandra Bhan Prasad nasceu em uma comunidade de artesãos que lidam com artigos feitos de couro de animais, os chamar, no estado de Uttar Pradesh. Tradicionalmente, na Índia, quem lida com carcaça de animais, com lixo, e com limpeza de latrinas é considerado "impuro". Daí serem ocupações reservadas a indianos que estão fora do milenar sistema de castas hindus. Antigamente eram chamados de "intocáveis".

Prasad é um exemplo do que vem acontecendo nas últimas duas décadas com esses indianos. Hoje, eles não são mais chamados de "intocáveis", mas de dalits (ou oprimidos), termo que também abriga os indianos de castas baixas que tradicionalmente se dedicam a trabalhos braçais. Prasad lembra que, quando era criança, era obrigado a chamar os indianos de castas altas de "mestres".

Hoje, muitos dalits já se sentem à vontade para usar o termo comum de tratamento: "irmão" para os da mesma faixa etária e "tio", para os mais velhos.

Prasad rompeu o cerco, e hoje o escritor é ativista dalit e também professor visitante do Centro de Estudos Avançados da Índia, da Universidade da Pensilvânia (EUA).

Na Índia de hoje, os dalits são tão oprimidos quanto antigamente?

ºNão, está melhorando aos poucos. O boom econômico criou muitas oportunidades de trabalho nas cidades. Os dalits têm abandonado o campo, onde tradicionalmente sempre viveram como servos, humilhados pelos senhores de terras e indianos de castas altas. Têm ido para as cidades, onde se dedicam a várias profissões, como caminhoneiros, operários de fábrica ou de construção, eletricistas, mecânicos. Das cidades, eles mandam dinheiro para suas famílias no campo, que também começam a se liberar das amarras dos senhores de terras com suas relações feudais. Pela primeira vez, os dalits têm a oportunidade de se livrar dessa escravidão. É um grande passo. Com isso, o estilo de vida deles também tem mudado. Pela primeira vez, têm consumido coisas como xampu, pasta de dente, comida processada, roupas já feitas. Ou seja, estão se transformando em consumidores dentro desse boom da economia indiana.

Como tem sido a reação dos indianos de castas altas à ascensão dos dalits?

Há uma forte reação das castas altas contra a liberdade dos dalits. Um processo similar ao que aconteceu nos EUA: o linchamento dos negros depois de sua emancipação. Agora, na Índia, acontece a mesma coisa. Quando jovens dalits das cidades voltam para seus vilarejos no interior com dinheiro, vestidos com roupas novas, jeans, relógios de pulso e óculos escuros, os indianos de castas altas reagem, atacando-os violentamente. Eles esperam que os dalits continuem com a mesma subserviência de antes, e isso não acontece, porque nas cidades os dalits se libertam. Há um outro fenômeno que começa a acontecer como consequência dessa nova realidade e que era impensável antes: jovens de castas altas se apaixonam por dalits. Em alguns casos, elas se casam com eles contra a vontade dos pais, ou fogem com eles. Isso não era possível até alguns anos atrás. Mas agora acontece, e também provoca reações fortíssimas das famílias de castas altas.

A Índia está preparada para ter o seu Barack Obama representado na figura de um governante dalit?

É muito cedo para termos um Obama indiano. Nos EUA, os negros já estão presentes em todas as esferas da sociedade: no cinema, nos esportes, na publicidade, na intelectualidade, e assim por diante. Na Índia, a ascensão dos dalits está limitada aos negócios. Não temos esportistas, jornalistas, nas propagandas de tevê ou de revistas, modelos, atores. Os dalits têm conquistado vitórias políticas importantes, como foi a ascensão de Mayawatti, uma dalit, como ministra-chefe do Estado de Uttar Pradesh, o mais importante da Índia, com 150 milhões de habitantes. Mas, se ela se tornar primeira-ministra, vai ser por acidente. As castas altas e intermediárias não estão preparadas para aceitar uma primeira-ministra dalit. A mudança na vida dos dalits apenas começou.

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