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Evolução

A natureza da inveja

 | Desigin e Ilustração - Robson VIlalba
(Foto: Desigin e Ilustração - Robson VIlalba)

Por que a inveja? Parece ser o mais inútil dos pecados capitais: excruciante de experienciar, vergonhosa de se admitir, desprovida de prazer imediato ou benefícios a longo prazo. Para um psicólogo evolucionista, há uma certa lógica em seduzir a mulher do próximo ou roubar seus bens, mas de que serve meramente cobiçá-los?

Os filósofos já ofereceram teorias, mas provas empíricas têm estado em falta, talvez porque a inveja seja um assunto desconfortável para todos, inclusive para os psicólogos. Agora, porém, graças a alguns experimentos com alunos invejosos na Universidade Cris­­tã do Texas, em Fort Worth, e da Universidade do Te­­xas, em Austin, podemos ver um lado positivo na co­­biça – juntamente com um novo motivo pa­­ra termos um mandamento contra ela.

Os pesquisadores procuraram por uma inveja quintessencial, distinta do ciúme. A inveja envolve um anseio por algo que você não tem, enquanto o ciúme é provocado por perder algo para outra pessoa. Se você queria ter uma esposa como Angelina Jolie, você tem inveja do Brad Pitt; se você está preocupado em perder a mulher para ele, você está com ciúme.

Os psicólogos do Texas começaram com um experimento que trazia à tona sentimentos de inveja do passado. Pediu-se a alguns dos alunos que escrevessem sobre ocasiões em que tiveram inveja de um amigo ou conhecido. Esses alu­­nos, junto com um grupo de controle que não teve de relembrar ex­­periências invejosas, le­­ram en­­trevistas com algumas pessoas que haviam supostamente se ma­­triculado em sua universidade.

Nessas duas entrevistas – fictícias, inventadas pelos pesquisadores – os alunos responderam perguntas sobre seus estudos e objetivos, mas não disseram nada que pudesse causar inveja.

Em comparação com o grupo de controle, os alunos que haviam acabado de descrever suas invejas do passado passaram mais tempo estudando as entrevistas e se saíram melhor em lembrar os detalhes sobre esses dois.

Se a inveja trazida do passado aguça a mente, qual seria o efeito da inveja recém-suscitada? Esse foi o experimento seguinte dos pesquisadores Sarah E. Hill e Da­­nielle J. DelPriore, da Universidade Cristã, e Phillip W. Vaughan, da Universidade do Texas.

Eles mostraram aos universitários uma meia dúzia de entrevistas falsas de jornal e fotografias de outros alunos em sua universidade. As alunas viram fotos de ou­­tras mulheres, enquanto os alunos viram fotos de outros homens. Ambos os sexos viram uma mescla semelhante de pessoas, in­­clu­­indo o que os pesquisadores descreveram como "colegas com van­­tagens".

Nas fotografias, alguns dos alunos fictícios eram bonitos, ou­­tros, não. As entrevistas revelaram disparidades claras de renda. Um mencionava ter uma BMW nova; outro dirigia uma lata ve­­lha. Um tinha um pai no conselho de curadores da universidade; ou­­tro recebia ajuda financeira.

Enquanto os alunos liam os perfis, os pesquisadores fizeram perguntas e realizaram medições. Os alunos passaram mais tempo olhando os invejados e lembraram melhor os nomes e outros detalhes desses "alvos de alta inveja".

Os resultados demonstram que a inveja pode "evocar uma cascata de processos cognitivos funcionalmente coordenados", segundo a edição de outubro do Journal of Personality and Social Psychology.

Tradução de Adriano Scandolara.

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