Na mitologia grega, Dédalo era aquele brilhante arquiteto que inventou o labirinto para prender o Minotauro, monstro fabuloso (parte homem/parte touro) que tinha tornado-se feroz e incontrolável. Em 2012, não se trata mais do Minotauro, pois o monstro, não menos feroz, tem um outro rosto : a crise financeira que está afundando a Grécia desde 2010 parece não ter mais êxito.
Portanto, a Grécia precisa urgente de um novo arquiteto.
As eleições legislativas do último dia 6 criaram um caos político, assustando os investidores e a maioria dos líderes europeus. Os gregos votaram em maioria contra os dois maiores partidos no poder que tinham concordado com as reformas de austeridade exigidas pela União Europeia, ou seja um pacote de austeridade drástico transformando muitos diretos sociais em misérias: aposentadoria, seguro desemprego, sistema público de saúde e educação sofreram cortes radicais.
Obviamente, essa austeridade não agradou o povo grego. E no país da democracia, seria uma contradição não escutar a voz do povo. E o povo fala, nas urnas e na rua.
As eleições resultaram numa porta sem saída. Como nenhum partido fez maioria e não há acordo entre eles, não há governo. Sem governo, não há gestão nem saída da crise. Com a crise, não há estabilidade política suficiente para formar um governo.
Desde domingo, os partidos estão tentando juntar-se, com jogos de alianças e negociações intermináveis, sem sucesso.
Enquanto isso, a Europa está inquieta. Pois, como o Minotauro, a crise está a cada dia mais feroz e as piores previsões mostram um endividamento absurdo para 2013 que terá consequências gravíssimas na soberania grega.
De um lado, os gregos precisam sobreviver o país conseguiu se manter até agora graças aos vários planos de resgate de bilhões de euros da União Europeia. Mas para garantir um novo socorro, os sócios europeus exigem a garantia de uma novo modelo de gestão das finanças públicas.
Do outro lado, essas reformas exigidas pela União Europa são vistas pelos gregos como uma ingerência injusta na política nacional, injustiça que fomentou as últimas manifestações violentas nas ruas contra os novos pacotes de austeridade.
Diante de tanta complexidade, os Gregos negam. Eles negam um governo, negam as soluções, negam até a crise pela qual eles não se consideram responsáveis e se negam a pagar por ela. E com essa negação, eles se arriscam a negar a União Europeia, até o euro e os planos que tentam resgatar o país.
Dédalo seria aqui muito útil, pois a Grécia está presa no seu próprio labirinto. Hermes, o mensageiro dos Deuses. Possa o senhor ajudar o seu povo! A sina dos gregos não depende muito dos políticos. Nem da Europa.
Parece estar na mão de Zeus.
Sylvain Bureau, cientista político, mestre em Relações Internacionais e professor da Aliança Francesa de Curitiba.