Paris Muito em breve, no fim de setembro, a França vai proibir culturas transgênicas, os chamados Organismos Geneticamente Modificados (OGM) em seu território. É uma decisão rude. Ela porá fim a uma batalha confusa que opõe, desde 1996, os partidários do milho transgênico aos que consideram que os OGM trarão a peste e a tragédia aos campos.
Essa batalha se revestia até agora dos matizes políticos que dividem o país. Os favoráveis aos OGM eram recrutados nos partidos ou sindicatos agrícolas "de direita." Os adversários eram gente de esquerda. A figura emblemática dos anti-OGM é um agricultor muito exaltado, José Bové, que há anos destrói com seus camaradas todas as culturas de OGM tentadas na França.
Esse José Bové é um homem de esquerda. Ele não esconde suas ligações com a esquerda mais extremista, mais violenta, isto é, o meio "esquerdista." Ao longo dos anos, Bové se tornou o bicho-papão dos agricultores de direita. Toda vez que ele se entregava, junto com seus amigos, à destruição de um campo plantado com OGM, era levado à justiça e condenado.
Ora, eis que o governo do presidente Nicolas Sarkozy, por intermédio de seu ministro do Meio Ambiente, Jean-Louis Borloo, anuncia inesperadamente que as idéias desse "horrível" esquerdista que é Bové não são tão detestáveis quanto se dizia. E que os OGM vão ser proibidos. Mais uma vez, o estranho Sarkozy pega todo o mundo de calça curta, ligando-se nessa questão aos mais sectários esquerdistas e se afastando de seus amigos naturais, os agricultores de direita, os grandes fazendeiros, os lobbies pró-OGM e os americanos.
Na França, a medida atingirá apenas uma semente, a do milho chamado "Mon 810", única variedade cultivada e, aliás, em áreas bastante reduzidas: dos 102 milhões de hectares destinados em todo o mundo a essas culturas transgênicas, a França entra com uma parcela minúscula, 22 mil hectares, o que representa um agricultor em cada mil.
Uma clivagem muito abrupta divide o planeta sobre a questão dos OGM.
Na verdade, foi na América que as sementes transgênicas encontraram seu paraíso. Dos 102 milhões de hectares mencionados a América abriga 86%, principalmente nos Estados Unidos, Canadá e Brasil.
A Europa é bem mais sensível. Ela não gosta dessas sementes traficadas. Somente a Romênia mostra interesse pelos OGM (115 mil hectares) seguida da Espanha (50 mil hectares). Mas Grã-Bretanha, Itália e Áustria são tão hostis quanto a França.
Os países asiáticos estão impacientes para desenvolver os OGM. Índia e China já possuem vastas superfícies semeadas com OGM, mas apenas em plantações de algodão. A China e outros países asiáticos hesitam, contudo, em se lançar na cultura do arroz transgênico temendo que a Europa, grande consumidora do arroz asiático, feche seus mercados a ele se houver cultura transgênica.