Chinês faz teste de coronavírus na rua, em meio ao bloqueio da Covid-19 em andamento em Xangai, nesta quinta-feira| Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI
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Xangai tem sido considerada a cidade mais civilizada da China. O PIB per capita do município ocupa o primeiro lugar no país e, até recentemente, o povo de Xangai se orgulhava de seus altos níveis de sofisticação e modernidade. Mas não mais. Desde março, a cidade caiu no caos, com muitos moradores vivendo na miséria e lutando por acesso a alimentos e outros recursos básicos, enquanto tentam sobreviver sob a política “zero-Covid” de Xi Jinping.

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A nova onda de infecções da variante Ômicron do SARS-CoV-2 foi muito menos mortal do que o surto original em Wuhan. As autoridades chinesas não relataram mortes por Covid , e apenas nove pessoas que testaram positivo estavam em estado grave. A esmagadora maioria das infecções entre 1º de março e 12 de abril foi assintomática. Epidemiologistas e outros especialistas em pandemia – incluindo o Dr. Wenhong Zhang, que lidera a força-tarefa Covid de Xangai – pediram às autoridades centrais que não imponham um lockdown ou outras medidas draconianas, mas que aceitem a realidade da coexistência entre humanos e o vírus. O governo central da China, insistindo que o número de Covid seja zero, mergulhou Xangai em um desastre causado pelo homem.

A aplicação violenta da política de zero Covid de Pequim matou muito mais pessoas na cidade do que o vírus. De acordo com uma estimativa imprecisa, que usa crowdsourcing para registrar esse tipo de óbito, o número de mortos em Xangai chegou a 177 em 24 de abril. O número real pode ser muito maior. Algumas vítimas morreram na entrada de hospitais que negavam acesso a cuidados médicos, algumas pularam de prédios e outras simplesmente se enforcaram nas escadas de seus apartamentos. As vítimas incluem enfermeiras, músicos e professores, bem como crianças.

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Sob a ordem do governo central de reduzir, no menor tempo e a qualquer custo, novos casos de Covid a zero, os moradores de Xangai enfrentaram negligência, maus-tratos e abusos sem precedentes. Vídeos vazados nas mídias sociais mostram executores do PCCh (Partido Comunista da China) com batas brancas de isolamento médico espancando pessoas, levando-as ou soldando portas e fechando entradas com barras de metal. Existem também campos de quarentena improvisados, nos quais dezenas de milhares de pessoas são detidas. Nesses campos infernais, homens e mulheres, adultos e crianças, estão amontoados sob o mesmo teto, com comida insuficiente e outras necessidades básicas não supridas. De fato, muitos moradores que sobreviveram à Grande Fome e à tumultuada Revolução Cultural agora passam fome na cidade mais próspera da China.

Essas flagrantes violações dos direitos humanos, disfarçadas de medidas de “prevenção pandêmica”, expuseram o lado cruel e desumano do sistema da China comunista, bem como suas tendências para uma governança rígida e ineficaz. Isso despertou a consciência das pessoas sobre seus direitos políticos e civis. Em Xangai e em outros lugares da China, mais e mais pessoas estão se levantando e falando por si mesmas e por suas comunidades.

Os moradores irritados de Xangai começaram a encenar atos desafiadores de desobediência civil em protesto contra a brutalidade de Pequim. Alguns desmontam cercas de arame farpado, outros batem suas panelas nas varandas. No vídeo Voz de Abril, os moradores de Xangai retratam o sofrimento sem fim das pessoas sob a política de zero Covid. O vídeo se tornou viral apesar da censura estanque do PCCh. O rapper Astro, de Xangai, lançou uma música, “New Slave”, para criticar o abuso de poder do governo e sua negligência com a vida humana. Mais e mais pessoas saíram para cantar o hino nacional – em particular a linha “Levante-se! Vocês que se recusam a ser escravos!” Ironicamente, isso levou as autoridades chinesas a censurar seu próprio hino nacional. Alguns chefes locais do partido renunciaram e membros do comitê de bairro abandonaram seus cargos. Os moradores de Xangai formaram uma comissão de auto-assistência e autogoverno, exigindo inequivocamente democracia e liberdade, e pedindo desobediência civil em massa até Pequim encerrar sua política desumana de Covid-zero. Na noite de 24 de abril, pessoas em muitos distritos de Xangai saíram às ruas para protestar.

Xangai não é o único município chinês onde os moradores estão furiosos com a violação dos direitos humanos pelo regime. De acordo com um relatório chinês, de 293 cidades de grande e médio porte na China, 188 (cerca de 64%) confirmaram novos casos desde março. Todas estão implementando a política agressiva de zero Covid. Ouvimos chamados e gritos de socorro de outras cidades. A má gestão de Xi Jinping do controle da pandemia da China hoje é tão ruim, se não pior, do que o manejo do surto inicial em Wuhan, em 2020.

O governo chinês caracterizou sua política agressiva de zero Covid como necessária na grande luta contra o Ocidente, para provar a superioridade do sistema socialista chinês, que determinará o destino do PCCh. Mas, na realidade, como todos os ditadores, Xi se recusa inflexivelmente a admitir seus erros. Isso pode abalar sua autoridade, principalmente depois de afirmar que o “sucesso” da China em conter o vírus foi sua grande conquista pessoal e que ele merece uma medalha de ouro por isso. Xi queria usar o (aparente) sucesso em derrotar o novo coronavírus para provar sua sabedoria e grandeza e demonstrar que merece um terceiro mandato como líder da China. Por trás de toda a brutalidade e arrogância está o desejo de um ditador por poder ilimitado para controlar as pessoas e a sociedade, para satisfazer sua ambição e vaidade pessoais.

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Acreditamos que a má gestão da pandemia por Xi Jinping provou que ele é incapaz de ser o líder do país e continuar a governar a China. Ele colocou sua própria vontade e interesses e a segurança do regime acima de tudo, sem se importar com a vida do povo chinês comum. O governo Biden deve condenar a violência do PCCh e não ficar calado sobre as graves violações de direitos humanos de Pequim durante a pandemia. Instamos os Estados Unidos e a comunidade internacional a se levantarem e se manifestarem em apoio ao povo de Xangai e da China, com o objetivo de acabar com as atrocidades do Partido Comunista.

Da resistência de Xangai, vemos uma centelha de esperança por trás de todo o sofrimento. Essa faísca pode acender uma chama e desencadear um movimento maciço de desobediência civil pela liberdade do povo chinês. Os EUA devem dar uma mão a essa resistência neste momento de necessidade.

Liancho Han é vice-presidente de  Iniciativas de Energia Cidadã para a China. Após o Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, ele foi o fundador da Federação Independente de Estudantes e Acadêmicos Chineses. Trabalhou no Senado dos EUA por doze anos, como conselheiro legislativo e diretor de políticas para três senadores. Jianli Yang é fundador e presidente da Citizen Power Initiatives for China e autor de 'For Us, the Living: A Journey to Shine the Light on Truth' (Para nós, os vivos: Uma jornada para lançar luz na verdade, em tradução livre).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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