Bandeiras chinesas do lado de fora do Grande Bazar Internacional de Xinjiang, bazar islâmico em Urumqi, capital e maior cidade da região| Foto: EFE/EPA/WU HONG
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Xinjiang, território autônomo no noroeste da China, tornou-se palco há quatro anos de ataques sistemáticos aos direitos humanos que geraram indignação e sanções à ditadura chinesa, responsável por uma onda de repressão à minoria uigur cuja real extensão e situação momentânea, como em muita coisa na segunda maior economia do mundo, ainda são desconhecidas.

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O governo do ditador Xi Jinping sempre negou as acusações de desrespeito a direitos humanos – há dois anos, o jogador de futebol alemão de origem turca Mesut Özil mencionou o assunto em suas redes sociais, e o Ministério das Relações Exteriores da China disse que o atleta havia sido “sido enganado por fake news” e o convidou a visitar a região -, mas vários relatos indicam uma realidade sombria, em grande parte ainda em andamento, apesar de Pequim ter assegurado que seus campos de detenção em Xinjiang foram fechados.

Confira cinco pontos sobre a repressão aos uigures na região:

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Origens

Os uigures são um povo majoritariamente muçulmano estabelecido historicamente na região de Xinjiang, atravessada pela Rota da Seda. Desde que o Partido Comunista assumiu o controle da área, em 1949, Pequim e os uigures alternaram períodos de maior e menor hostilidade, com a ditadura buscando integrar a população muçulmana ao projeto comunista e os uigures se queixando de desrespeito à sua identidade e religião.

Quando o ditador Xi Jinping assumiu o poder na China, em 2013, Pequim passou a forçar essa assimilação: em 2017, deu início a uma onda de repressão em Xinjiang, colocando em campos de detenção centenas de milhares de uigures e pessoas de outras minorias sob o argumento de combate ao terrorismo.

Perseguição étnica e religiosa

Em um relato à revista americana The Atlantic, o poeta e diretor de cinema Tahir Hamut Izgil, que emigrou há quatro anos com sua família para os Estados Unidos, onde solicitou asilo político, explicou que decidiu deixar Xinjiang quando muitos de seus amigos e parentes começaram a ser presos na onda de repressão desencadeada por Pequim.

Tahir já havia sido detido nos anos 1990, quando foi sentenciado sem julgamento a três anos de prisão por portar livros (emprestados da biblioteca do instituto onde dava aulas) sobre pan-islamismo e pan-turquismo – curiosamente, segundo o poeta, as obras eram críticas aos dois movimentos, que pregam respectivamente a união de povos muçulmanos e turcos, e haviam sido editadas com o objetivo de ajudar na luta contra o “separatismo étnico” na região de Xinjiang.

Na repressão iniciada em 2017, contou Tahir, qualquer justificativa era usada para prender uigures. “Conexões estrangeiras, um histórico de viagens ao exterior ou mesmo apenas ter parentes e amigos em outros países eram o suficiente para colocar os uigures na prisão, especialmente se os países em questão fossem muçulmanos”, relatou.

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Quando o governo local passou a exigir que os uigures entregassem todos os itens religiosos que possuíam, um idoso que havia se esquecido de entregar um Alcorão embrulhou o livro em um saco plástico e o jogou em um rio, mas foi descoberto porque as autoridades de Xinjiang haviam instalado telas de arame sob todas as pontes e, quando uma delas foi limpa, o Alcorão foi encontrado: dentro dele, havia uma cópia da carteira de identidade do idoso.

“Em Xinjiang, os idosos têm o hábito de guardar documentos importantes em livros lidos com frequência, para que sejam facilmente encontrados quando necessário”, explicou Tahir. “Ele foi condenado a sete anos de prisão.”

Cotas de prisões e violência

Relatos sobre os campos de detenção de Xinjiang apontaram situações de abuso sexual, trabalho escravo e esterilizações à força. Um ex-detetive chinês disse à CNN este mês que testemunhou diversas vezes o uso de métodos de tortura como pendurar detentos no teto, eletrocussões e afogamentos e presos forçados a ficar acordados por dias, sem receber comida nem água. Ele relatou que os responsáveis por efetuar as prisões tinham que cumprir cotas de números de uigures a serem detidos.

Um ex-detento disse na mesma reportagem da CNN que na sua primeira noite em um centro de detenção policial na cidade de Kashgar foi estuprado por mais de dez presos não uigures, que haviam sido designados por guardas da prisão para cometer a agressão.

Condenação internacional

O Departamento de Estado americano estimou que até 2 milhões de uigures e pessoas de outras minorias muçulmanas foram encarcerados em centros de detenção na onda de repressão iniciada em 2017. Um relatório independente feito por mais de 50 especialistas em direitos humanos, crimes de guerra e direito internacional atestou que o governo chinês violou disposições da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio das Nações Unidas em Xinjiang.

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Após condenação internacional e sanções, Pequim declarou em 2019 que os campos foram fechados.

A situação hoje

Entretanto, uma reportagem publicada este mês pela Associated Press destacou que “instalações de detenção permanentes foram construídas, em uma mudança aparente de campos improvisados para um sistema duradouro de encarceramento em massa” em Xinjiang.

O repórter Dake Kang apontou que, em comparação com alguns anos atrás, a vida na região parece ter passado por mudanças, com estímulo ao turismo, mas alguns indícios apontam que a perseguição aos uigures continua: moradores demonstram medo e se recusam a falar com estrangeiros, temendo represálias; em escolas, alunos são instruídos a falar em mandarim, e não na língua uigur; mesquitas foram fechadas e os toques avisando os horários das orações islâmicas não são mais ouvidos em muitas cidades; e escolas para imãs precisam ensinar tanto os conteúdos do Alcorão quanto doutrinação pró-Pequim.

“É difícil saber por que as autoridades chinesas mudaram para métodos mais sutis de controle da região. Pode ser que as críticas acirradas do Ocidente, aliadas a sanções políticas e comerciais, tenham pressionado as autoridades a se tornarem mais flexíveis”, afirmou Kang. “Ou pode ser simplesmente que a China julgue que já avançou o suficiente em seu objetivo de subjugar os uigures e outras minorias principalmente muçulmanas e decidiu relaxar seu domínio.”