O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que cogitava “mandar os federais” para combater a criminalidade em Chicago. Ele já considerou a possibilidade de cortar o financiamento federal da Universidade da Califórnia, em Berkeley, depois de a instituição ter cancelado a palestra de um polemista de direita. Ele jurou que iria “tirar a verba” de repasse dos estados e cidades que se tornassem abrigos para imigrantes ilegais.
Uma retórica com esse poder fez com que Trump ganhasse o apoio daqueles que o enxergam como um antídoto para o falatório e a política morna de Washington. Esse é o estilo de liderança que eles querem para a Casa Branca.
Mas, se essas demonstrações de força ignorarem os limites do seu cargo, elas correm o risco de minar o poder que ele de fato possui. Os presidentes americanos são poderosos, mas não são ditadores. O congresso e os juízes podem restringir sua liberdade de ação – como ficou bem claro agora com toda a batalha jurídica em torno das ordens executivas de Trump sobre imigração. Tampouco o próprio presidente parece ter a intenção de levar a cabo todas as ameaças. Algumas delas podem ser apenas comentários no Twitter ou reações passageiras.
Isso é um perigo para o governo a longo prazo – um fluxo constante de retórica linha-dura, sem resultados tangíveis, pode dessensibilizar o eleitorado para as mudanças efetivas de Trump.
“Elas podem acabar desgastadas e se tornarem ineficazes”, diz Jennifer Mercieca, pesquisadora de retórica presidencial na Texas A&M University e autora de um livro sobre como Trump se comunica, que deverá ser publicado em breve.
O estilo verbal de Trump está intimamente ligado à sua ascensão política assombrosa. É possível que o seu estilo de comunicação não tenha paralelo na forma como se adequa ao ritmo e à atenção limitada da nossa era saturada de redes sociais.
Ele é sucinto. Ele pega pesado. Ele se repete, se repete e se repete. Não lhe falta agressividade contra oponentes políticos, adversários geopolíticos ou contra a “mídia mentirosa”.
Isso não mudou agora que Trump trabalha na Casa Branca. Na campanha, ele ocasionalmente disse que teria mais autocontrole e uma postura mais presidencial se fosse eleito, mas não foi isso que aconteceu. O presidente não dá a outra face. Se ele se sente ofendido, ele bate com força.
Ameaças
O uso de ameaças específicas é uma das suas abordagens comunicativas mais pesadas. É uma tática retórica chamada “ad baculum”, um termo latino que significa “argumento do porrete” ou “recurso à força”, segundo a professora Mercieca.
Essas ameaças não precisam se dirigir à integridade física dos seus oponentes. Elas podem também ser ameaças de negar verba, renegociar acordos ou até mesmo de disseminar certas informações.
Foi assim que, durante a campanha, Trump divulgou o número de telefone particular do senador Lindsey Graham após ele tê-lo chamado de “imbecil”. Ele ameaçou revelar certas acusações, não especificadas, sobre o ex-presidente Bill Clinton e seus relacionamentos com outras mulheres. Ele se perguntou em voz alta se manifestantes que queimassem a bandeira dos EUA não deveriam perder sua cidadania.
“Os ‘argumentos do porrete’ são técnicas de coerção que funcionam com as pessoas em posição vulnerável”, diz Mercieca.
Seu poder depende de fatores como se a pessoa que o utiliza tem a influência, os recursos e a determinação de levar essas ameaças a cabo. Como aponta Mercieca, não é a vontade de Trump que está sendo posta em xeque, mas os seus meios e talvez as suas intenções.
Quando Trump diz que quer “mandar os federais” para Chicago, a quais “federais” ele se refere? À Guarda Nacional? Sua administração provavelmente tomará medidas para diminuir repasses a cidades e estados que servirem de abrigos para imigrantes, mas não fica claro se eles terão o poder para afetar mais do que pequenas verbas. Por exemplo, se Trump quisesse negar verba para o Medicaid da Califórnia, seria necessário aprovar legislação para isso.
Apesar de as ameaças terem o poder de intimidação, elas também podem sair pela culatra. Algumas cidades abrigo, de orientação política mais liberal, parecem mais determinadas do que nunca a recusarem cooperação com autoridades de imigração federais por conta das ameaças de Trump.
Na última semana, Trump deu uma série de declarações no Twitter que pareciam ameaçar pôr a culpa no Judiciário caso houvesse qualquer atentado terrorista doméstico, devido a permissões temporárias emitidas por juízes em todo o país.
É possível que ele acredite que uma pressão dessas fará os juízes cederem. O resultado mais provável, no entanto, segundo Jack Goldsmith, professor de direito de Harvard e ex-procurador general assistente, é justamente o contrário.
“Quando são propostos argumentos a favor da deferência ao presidente com tweets públicos hostis antes que qualquer atentado real aconteça, é certo que esses argumentos sairão pela culatra”, escreve o professor Goldsmith no blog de segurança jurídica nacional Lawfare.
Isso não exclui a possibilidade de que a Suprema Corte permita que sejam aprovadas as ordens de Trump para barrar a imigração. O Poder Judiciário dá à sua contraparte executiva uma grande deferência na área da segurança nacional.
E os apoiadores de Trump não devem se importar com o exagero na letra miúda de algumas das ameaças do presidente. Afinal, um dos motivos pelo qual ele foi eleito foi para combater o politicamente correto. Para eles, esse é o jeito que Trump fala, um modo de significar que ele vai colocar a mão na massa.
Como disse recentemente o vice de Trump, Mike Pence, para o programa “Face the Nation” da CBS: “Acho que o povo dos EUA recebeu de braços abertos a sinceridade desse presidente”.
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