Espécie de estrela encontrada no Mar do Japão, a 1.265 metros de profundidade| Foto: HO/Jamstec/AFP
Anêmona do gênero Actinoscyphia achada no Golfo do México, a 1.500 metros de profundidade

Londres - Os seres humanos estudam os mares há séculos, mas a publicação, nesta semana, do primeiro censo marinho global sugere que os anos dourados das descobertas oceânicas ainda estão por vir. Pes­­quisadores envolvidos no es­­tudo afirmam ter identificado cerca de 250 mil espécies que habitam os mares, mas calculam que ainda existam outras 750 mil espécies ainda não descobertas. E tudo isso sem contar milhões de espécies de micróbios, que constituem em torno de 90% da biomassa oceânica.

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"A diversidade é um indicador da saúde dos oceanos", observa Ian Poiner, que presidiu a comissão diretora do censo. Numa en­­trevista concedida em Londres, onde foram apresentados os re­­sultados da pesquisa, o doutor Poiner advertiu sobre a necessidade de "entender como a vida marinha está sendo alterada" pe­­lo crescente impacto humano so­­bre os oceanos – nas formas de poluição, pesca predatória e elevação da acidez da água.

Numa década de pesquisas nos oceanos, os cientistas acrescentaram 1,2 mil novas espécies à lista existente dez anos atrás. Eles ainda têm de identificar outras 5 mil espécies coletadas no mesmo período. Os acréscimos mais comuns foram de crustáceos, seguidos pelos moluscos. Várias novas espécies foram descobertas até mesmo no grupo dos peixes, que é mais bem estudado.

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Muitas das descobertas foram surpreendentes e estranhas: uma espécie cabeluda que recebeu a alcunha de caranguejo Yeti (no­­me do abominável homem das neves); uma lula de 6,4 metros; uma nova espécie de lagosta que pesa 4 kg; uma espécie antiga de camarão que acreditava-se extinta há 50 milhões de anos.

Outras descobertas também surpreenderam os cientistas. A ficção científica há muito imaginou criaturas "anaeróbias" que poderiam viver sem oxigênio. Um grupo que colheu amostras no fundo do Mar Mediterrâneo encontrou três dessas espécies. Essas criaturas, cada uma do ta­­manho da cabeça de um alfinete, passa a vida escondida no se­­di­­ mento do fundo do mar, sem oxigênio.

Os realizadores do senso também descobriram um fóssil vivo no Caribe, a única espécie de um gênero de marisco que habitou o mundo todo por mais de 100 mi­­lhões de anos e que desde o século 19 era considerado extinto havia muito tempo.

Desde o início do censo marítimo, seus dados resultaram em cerca de 2,6 mil trabalhos científicos. Um estudo publicado em julho na revista Nature descobriu uma forte ligação entre a elevação das temperaturas marítimas e o declínio das algas, a ba­­se da cadeia alimentar oceânica.

Outro estudo baseado no censo e publicado pela Nature descobriu que águas mais quentes podem prejudicar a diversidade marinha, com potencial para al­­terar a distribuição da vida nos oceanos.

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Os realizadores do censo reconheceram, porém, que ainda há pouca compreensão a respeito das plantas e micróbios marinhos, que têm um papel muito importante na vida dos oceanos. Até agora há dados limitados sobre a vida marinha nos mares do Ártico e da Antártida e em grandes áreas das profundezas dos oceanos.

O principal objetivo do censo é fornecer dados que servirão de base para futuras medições em três áreas: diversidade, distribuição e abundância. Onde as várias criaturas marinhas vivem e co­­mo suas vidas são interconectadas? Quais espécies estão se de­­senvolvendo e quais estão morrendo? "Ao comparar dados em períodos de tempo seremos capazes de dizer o que está mudando" nos oceanos, disse o doutor Snel­­grove.