A Rússia investiu anos de esforço e bilhões de dólares para transformar a Venezuela em um de seus aliados mais próximos no hemisfério ocidental. Na quinta-feira (24), Moscou foi abalada pela perspectiva de que seu investimento pudesse estar virando fumaça.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que a oposição a Nicolás Maduro estava se tornando “peões no jogo muito sujo e criminoso de outra pessoa”. Vyacheslav Volodin, presidente da câmara baixa do parlamento, disse que na Venezuela "as pessoas estão sendo nomeadas chefes de Estado na rua". O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, disse que "as tentativas de usurpar o poder na Venezuela são ilegítimas e contradizem a lei internacional".
Mesmo para os padrões russos, foi um dia de comentários furiosos que colocaram os Estados Unidos como o sinistro manipulador de marionetes que de forma ilegal fomenta mudanças de regime em todo o mundo. Mas por trás da indignação estava uma realidade desconfortável: uma aposta multibilionária na construção da influência russa na América Latina de repente parecia que poderia ir rapidamente para o buraco.
Leia também: Rússia envia militares privados para reforçar segurança de Maduro na Venezuela, dizem fontes
Dmitry Rozental, acadêmico do Instituto Latino-Americano da Academia Russa de Cientistas, disse que o aumento da instabilidade pode aumentar o risco de que a Rússia perca um investimento total na economia venezuelana que chega perto de US$ 25 bilhões. Se o líder da oposição Juan Guaidó – reconhecido pelos Estados Unidos na quarta-feira como presidente interino – ganhar poder, disse Rozental, os contatos políticos e militares entre Moscou e Caracas certamente diminuiriam.
Ao mesmo tempo, Rozental disse, uma questão central ainda estava sem resposta: Guaidó se distanciaria muito fortemente das políticas de Maduro amigáveis à Rússia ?
"Se a abordagem pragmática vencer, então eu não acho que eles vão brigar com um parceiro tão importante quanto a Rússia", disse Rozental.
O presidente russo, Vladimir Putin, tornou-se recentemente o patrono da Venezuela – e aproveitou para cutucar os Estados Unidos enquanto isso. Em troca de empréstimos e resgates, a Rússia agora possui partes significativas de pelo menos cinco campos de petróleo na Venezuela, que detém as maiores reservas do mundo, além do equivalente a 30 anos de produção futura de dois campos de gás natural no Caribe.
Leia também: Enquanto tensão entre Venezuela e EUA aumenta, Rússia alerta sobre ‘intervenção’ americana
Os empréstimos e linhas de crédito da Rússia somaram pelo menos US$ 17 bilhões desde 2006, tornando o país o emprestador de última instância da Venezuela, informou a Reuters. Em troca, a indústria de armas da Rússia ganhou um cliente multibilionário, enquanto Putin ganhou nova influência sobre fontes globais de energia e um ponto focal de influência russa a apenas um voo de três horas de distância de Miami.
Como se quisesse eliminar qualquer dúvida, dois bombardeiros russos Tu-160 de longo alcance com capacidade nuclear pousaram em um aeroporto próximo a Caracas em dezembro. O simbolismo é importante porque a ascensão de uma Rússia que assegura os seus interesses globais é uma parte fundamental da marca de Putin em seu país.
Agora a aposta venezuelana do Kremlin está em jogo. Nesta semana, os oponentes de Putin na Rússia rapidamente aproveitaram para dizer que essa é uma causa perdida.
A revolução da Venezuela significa que bilhões de dólares "do nosso dinheiro que foi investido lá vão desaparecer", postou no Twitter o ativista da oposição Alexei Navalny. Em poucos meses, Navalny acrescentou, Maduro certamente terá uma mansão nos condomínios fechados do bairro de Rublyovka, em Moscou, o preferido pela elite dominante da Rússia.
Por que a direita brasileira vê na eleição de Trump um impulso para o seu plano em 2026
Bolsonaro prevê desafios para Lula, seja com vitória de Trump ou Kamala; assista ao Entrelinhas
Trump e Kamala empatam na primeira urna apurada nas eleições dos EUA
As eleições nos EUA e o antiamericanismo esquerdista
Deixe sua opinião